“A água que falta no campo e sobra nos olhos do sertanejo nascem na insensibilidade das ações políticas”. … O mundo dá voltas.!!!!!!

A quem a população do Município de Brumado deveria culpar, por conta da insenssibilidade e incompetência,  dessa ou das gestões municipais passadas, e, sobretudo da ausência do Estado.  Seria justo dizer que outors entes,  incluindo  as autoridades constituidas e com mandatos,  sejam também culpadas, por  não se  envolverem de forma mais determinada para  criar e buscar  soluções viáveis  para amenizar o sofrimento e a peleja  do sertanejo,   que há décadas vivenciam o problema da falta de água na região.Ou a culpa seria dos personagens mitológicos da história da humanidade, que poderiamos qualificarmos como  “Pôncio Pilatos /Caifás ou a cesarias”!? . De quem é a  culpa!,  a história a de dizer, as pessoas ao de lembrar, mas, neste momento.  O que importa, é que a presença do estado, e de todas as forças políticas se envolvam nessa  via cruz, e de forma humanitária faça a sua parte, contribuindo, portanto, com soluções planejadas e concretas , para atender a necessidade do homem do campo, neste momento, com a água para o seu consumo e dos outros seres que dela depende. (criação). “Água é Vida”.

Segue um relato do blog do fredinho, ele foi candidato a  vice-prefeito pelo PT na chapa  encabeçada pela deputada Marizete Pereira, à prefeitura de Brumado, em 2008.

O ontem e o hoje da falta d’água em Brumado (ou: De como o mundo dá voltas)

Recebi um e-mail avisando que amanhã (18/06), às 08:30 horas, em frente à Igreja Matriz de Brumado haverá uma concentração popular de mobilização pela falta d’água na zona rural de Brumado. O ato é motivado pelo fato de que uma longa estiagem afeta o município – as previsões de chuva são para o mês de outubro – o que agrava o abastecimento de água na zona rural, prejudicando o consumo humano, bem como consumo animal (pecuária) e irrigação de lavouras.

A mobilização tem a previsão de partir da Praça da Matriz rumo à sede da Prefeitura Municipal, na Praça Cel. Zeca Leite. É esperada a participação de moradores das diversas localidades da zona rural brumadense, nos mais diversos distritos: Cristalândia, Umburanas, Itaquaraí, entre outros.

O ato de amanhã, em pleno ano de 2010, me faz lembrar de outro, ocorrido em 1998, principalmente pelo simbolismo político envolvido.

Em 1998, Brumado passou por uma grave crise de abastecimento, longas estiagens e, sem dúvida um momento dramático tanto para a população da zona rural como também para a população urbana vez que esta crise, que encontrou aqui uma cidade já desenvolvida, entre as 30 maiores da Bahia, afetou a maioria dos moradores do município. Muitos se recordam ainda de que nesta época cresceu o consumo de água mineral (hábito que foi se tornando cada vez mais crescente em Brumado) e carros-pipa foram utilizados constantemente, tanto na cidade quanto nas roças, para saciar as necessidades mais elementares das pessoas.

Natural que dentro deste contexto, a sociedade civil organizada estivesse unida para clamar por seus direitos e exigir que as autoridades – visto que São Pedro não despachava em nenhum gabinete que fosse conhecido – adotassem as medidas necessárias à respeito. Surgiu então um movimento de luta pela água, não usava exatamente este mote, pelo que me recordo, mas tinha este intuito. Uma bela iniciativa, que infelizmente o tempo fez perecer, foi a criação do Conselho de Cidadania de Brumado, que surgiu com o lema “a falta d’água foi a gota que transbordou” para demonstrar que, definitivamente, era o momento dos segmentos sociais estarem articulados em prol de um objetivo tão nobre.

Com a mobilização da sociedade, de lideranças do campo e da cidade, empresários e sindicalistas, estudantes e professores, técnicos e teóricos, religiosos e militares, ambientalistas e políticos de toda espécie, o movimento teve também seus destaques, sendo que, dos que estiveram à frente do mesmo à epoca, hoje resta apenas um nome que se forjou exclusivamente daquele episódio, porque não era conhecido do povo em geral e não tinha histórico de militância política, social e partidária: o engenheiro Eduardo Lima Vasconcelos, atual prefeito de Brumado, reeleito para o segundo mandato em 2008.

Eduardo Vasconcelos “surgiu”, por assim dizer, naquele dado momento histórico. Em 2000, já superada a crise de 1998 mas ainda sem uma resolução que deixasse os brumadenses em uma situação de conforto, Eduardo utilizou o lema “Água é Vida” para se lançar candidato a Prefeito pelo PL (atual PR) numa coligação com partidos da base carlista (o então governador era César Borges, do ex-PFL) e se auto-intitulou “o homem da Barragem”. A plataforma da candidatura de Eduardo tinha uma premissa básica: a construção de uma barragem de grande porte em Brumado para que a cidade pudesse ter a tranquilidade de não mais passar por tempos tormentosos como os vividos em 1998. E ele, Eduardo Vasconcelos, enquanto engenheiro e correligionário do governador de então, reunia as condições técnicas (por conta de sua formação profissional) e políticas (por conta de sua afinidade com o grupo carlista) para contemplar Brumado com tal empreendimento. Não foi suficiente, contudo, que esta concepção superasse nas eleições de 2000 a hegemonia do PMDB local, que deu a Edmundo Pereira Santos, prefeito candidato à reeleição, a chance governar Brumado pela terceira vez. Mas o novato Eduardo, recém-chegado ao mundo da política havia assustado. E passaria a ser uma pedra no sapato do então prefeito Edmundo.

Aqui vale mais um recorte histórico para a mobilização de luta pela água de 1998. Assim como o ato desta sexta-feira, naquele ano a Igreja Matriz foi palco de uma concentração popular que deu lugar a uma marcha rumo ao Paço Municipal. Entre os manifestantes, estava Eduardo Vasconcelos que, certamente em um dado momento daquele dia esteve à frente do prédio da Prefeitura e, olhando de baixo, enxergou os assessores do então prefeito, Edmundo Pereira, lá do alto, observando a manifestação com certo desdém. O próprio prefeito Edmundo não parecia incomodado com o evento que tomava toda a Praça da Prefeitura. Edmundo no planalto, Eduardo na planície. Agora, 2010, é Eduardo quem está no planalto, lá do alto de seu gabinete, em situação proeminente a observar uma manifestação popular abaixo de seus olhares. O mundo dá voltas.

Não deu certo em 2000, ainda havia 2004. E foi no pleito eleitoral deste ano que Edmundo Pereira, após liderar 16 anos consecutivos de domínio do PMDB no poder local, não conseguiu eleger seu sucessor. Era a vez de Eduardo Vasconcelos beber na fonte da vitória e chegar ao posto que perseguia desde 2000 (ou talvez desde 1998).

Durante todo o primeiro mandato de Eduardo Vasconcelos, Brumado não viu realizado o sonho de ter uma barragem que pudesse afastar os maus presságios da crise de abastecimento de 1998. E, com o andamento de sua gestão o sonho foi parecendo mais distante e chegou a ter contornos de um pesadelo quando, em 2002, o então governador Paulo Souto (PFL), aliado político de Eduardo, perdeu a chance de ser reeleito ao ser fragorosamente derrotado por Jaques Wagner (PT). A vitória de Wagner surpreendeu Eduardo, mas era o fato de que Edmundo Pereira  ressurgia politicamente como vice-governador da Bahia que tornou a derrota de Paulo Souto ainda mais aterrorizante para o prefeito brumadense. O plano traçado por Eduardo teria que ser revisto. Como conseguiria junto ao executivo estadual a tão sonhada barragem se o maior rival político estava agora no altiplano do poder? Não há como negar que o mundo dá voltas.

Mesmo durante o início do governo Wagner, com Edmundo como vice, a Barragem de Cristalândia não andava conforme o esperado. Agora obsessão não só de Eduardo, mas também de Edmundo, era uma questão crucial que esses dois adversários pudessem ver a demanda concluída da forma que melhor aprouvessem às suas carreiras. Quem pode mais? Quem tem mais força? Quem será o redentor de Brumado, o “pai da água”? É então que o governador Wagner surge para dirimir a questão.

Edmundo e Eduardo, juntinhos, bem perto, no mesmo palanque. Quem havia conseguido essa proeza? Jaques Wagner, o governador que veio a Brumado inaugurar a tão sonhada barragem? Ou Geddel Vieira Lima que, indiretamente, havia oferecido as condições para que esse encontro acontecesse? (Geddel havia rompido politicamente com Wagner em agosto de 2009 e, desta forma, possibilitou a aproximação do governador petista com o prefeito reeleito de Brumado). O certo é que no ato em que Jaques Wagner entregou a Barragem de Cristalândia ao povo de Brumado, em 16 de janeiro deste ano de 2010, o improvável havia acontecido. O mundo dá voltas, hein?

O prefeito Eduardo aproveitou a solenidade para rememorar sua trajetória, lembrando 1998 e o pleito de 2000. Subiu ao palanque com uma camisa utilizada em sua campanha de 2000, onde se lia “Água é Vida”. E, citou a crise de falta d’água de 1998, relatando ao governador Wagner o drama vivido pelo povo: “Sofremos muito. Houve cenas que jamais esquecerei. Assisti a um caminhão pipa distribuindo água a pessoas que se acotovelavam em seu fundo para encher as vasilhas, e veio uma senhora de idade com uma vasilha pequena, aparando as gotas que vazavam do caminhão”. O prefeito Eduardo relatou esta passagem como sendo algo que o marcou profundamente e que levará essa imagem consigo “para a eternidade”. Na reunião do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS) do último dia 09/06, uma faixa chamava a atenção e tinha os seguintes dizeres: “A água que falta no campo e sobra nos olhos do sertanejo nascem na insensibilidade das ações políticas”. Não vejo momento mais adequado para o gestor demonstrar sua sensibilidade com os que aparam gotas que vazam de carros-pipa. Do contrário, teria apenas sofismado diante do Governador. Mas como o mundo dá voltas…

Um hiato de 12 anos separa a crise de 1998 da falta de água de hoje. Esse mesmo hiato separa as duas manifestações de clamor pela água: a do passado e a do presente. Essas duas manifestações, a de 1998 e a desta sexta-feira, podem até não resumir todos os fatos significativos deste intervalo de tempo em Brumado. Mas serve, ao menos, de ponto de convergência de nossa história política recente. E que o mundo dá voltas, disso, ninguém duvida.