Artigo – CRUZADA CIDADÃ

 A nação inteira sofre com o aumento assustador da violência.  Praticamente regra sem exceção, certo é, nos quatro cantos desta terra continental, crimes dos mais variados potenciais ofensivos assolam o país, deixando um rastro de destruição gerando angustia e medo. Rincões longínquos, pequenas cidades interioranas, antes pacatas, cantos paradisíacos, litorais tranquilos, ilhas bucólicas, antigos refúgios de muitos que buscavam paz e tranquilidade, de repente se transformam em palcos de crimes hediondos, cenas de assaltos com cunho cinematográfico. São prepostos policiais impedidos de deixar quartéis e delegacias, enquanto dezenas de indivíduos sitiam cidades, por horas, portando armas potentes, artefatos explosivos, com enorme poder destrutivo, para arrasar agencias bancárias, tesourarias de empresas responsáveis por segurança de valores, dos quais conseguem subtrair quantias vultosas, cujos recursos são utilizados em favor dos delinquentes. Além disto, ditos numerários financiam facções, enquanto seus líderes, mesmo encarcerados desafiam o poder publico comandando, sobretudo, o trafico pesado de drogas, quiçá o maior dos flagelos da sociedade moderna, sem duvida, fator da ensandecida violência que grassa impiedosamente. Imponderável não admitir resida na figura do traficante, o maior dos inimigos da sociedade. Sua saga nefasta passa pelo estímulo ao uso de substancias, químicas ou não, capazes de causar dependências indo bem adiante: recrutam menores que servem de “mulas” – entregadores de drogas – e olheiros das bocas; recursos do tráfico financiam crimes de extorsão mediante sequestro, assaltos a caixas eletrônicos, bancos, carros forte e empresas de segurança;  pontuam como maiores receptadores no mercado negro, posto, telefones celulares, joias, eletrodomésticos, enfim, todo e qualquer bem, produto de furto ou roubo  vai ter às mãos dos comerciantes de drogas, a fim de ser trocado por um dólar de maconha, grama de cocaína, pedra de crak. Sem dúvida, a corrupção endêmica supera todos os modelos de delito. Sua ação devastadora, ao desviar verbas públicas capazes de ser aplicadas em serviços essenciais inibe a educação  de qualidade, mata, nas portas dos hospitais – ou pela falta destes – a população carente, promove o aumento da comentada criminalidade, principalmente pelo incentivo, no mau exemplo e certeza de impunidade, ao tratar de maneira diferenciada bandidos de colarinho branco e malfeitores comuns, porém, estes comentários fogem ao particular, desde quando, o que se pretende aqui, não é a polêmica que fatalmente desaguaria em considerações ideológicas. A verdadeira intenção do atual escrito trás o desejo de indicar ideias – podem não ser soluções -, ao menos sugestões forjadas na mente deste homem público que dedicou toda sua vida profissional – quarenta e dois anos – aos assuntos de segurança. Delegado de polícia desde os idos de setenta e seis, consultor há duas décadas, não pretende apenas tecer críticas, pois, a maioria delas desconstrói, portanto, a intenção aqui é indicar rumos que podem minimizar os efeitos do flagelo malévolo, mesmo porque, ela – a questão da violência – só poderá ser resolvida no Brasil, em longo prazo, com ações sociais efetivas vindas de vontade política que priorize, especialmente, a educação. Exemplo mais contundente de que as coisas na Nação estão fora de controle é a intervenção federal que ocorre no Rio de Janeiro. Urgia algo fosse feito, em razão da bancarrota na segurança daquele Estado, cuja capital é vitrine de beleza natural e manifestações culturais que impressionam mundo afora, porém, a mídia nacional e internacional, nos últimos  períodos maximizou imagens do descalabro, nas favelas, na periferia, no centro e áreas nobres, principalmente da Guanabara. Arrastões nas praias de Copacabana e Ipanema, cartões portais da cidade, invasões de hotéis luxuosos por bandos de criminosos, tiroteios intensos, com morte de inocentes vitimados por balas perdidas, havidos entre quadrilhas rivais disputando a hegemonia de territórios do trafico, tudo isto tendo como pano de fundo as prisões de ex-governador, esposa e secretários, envolvidos num dos maiores escândalos que se tem noticia, na história da vida pública nacional. Como dito, o caos determinou a medida extrema, era preciso tentar um basta nos excessos, para passar ao menos, sensação de segurança e efetivamente buscar inibir o avanço da desordem, portanto, tropas federais nas ruas, assunção das Forças Armadas aos quadros da segurança local, todas medidas com lastro legal suportadas em referendo do Legislativo. Permito-me, todavia, dizer que esta não é solução, mesmo porque estando todas as unidades federativas vivendo praticamente o mesmo drama, caso fosse a saída deveria então ser estendida aos demais sofredores da terra “brasilis”, tanto quanto ocorre com os residentes e visitantes do Rio de Janeiro. Ademais, a despeito de todo aparato disponibilizado para a área em conflito, apesar dos recursos emergenciais carreados ao mister, do estofo moral e competência reconhecida dos homens indicados para cuidar da citada intervenção, seus efeitos não refletem a imensa magnitude ofertada. Assaltos ousados, filmados pelos profissionais de imprensa, às barbas dos responsáveis pelo patrulhamento daquelas zonas, trocas de tiros entre bandidos adversários, mortes de inocentes, tudo continua no seu caminhar destruidor, desde então. Fato complicador, altamente desgastante, se apresenta no evento morte da vereadora Mariele, reverberando ao mundo um quadro de incapacidade para gerir a crise, ademais, por conta da impossibilidade, até o momento, de definir a autoria do homicídio. Ou seja, circunstancias como tais, por mais sejam louváveis os esforços dos que laboram naquela praça, inferem incapacidade de prevenir, reprimir e investigar. Dois anos atrás, mediante trabalho intitulado, CIDADES MAIS SEGURAS, registrado em 4/05/2016, no Cartório do Registro de Títulos e Documentos de Vitória da Conquista, sob número 4451/2012 concluo pela solução que siga do particular para o geral. Ou seja, combate ao crime, mediante suporte em atividades de inteligência carece da interferência municipal, a par de providencias que possam auxiliar o Estado no enfrentamento. Apesar de a Norma Constitucional indicar segurança, como dever do Estado, o mesmo diploma afirma seja ela também, direito e responsabilidade de todos. Destarte, dentre outras medidas – sociais, de estímulo ao homem de polícia -, Cidades Mais Seguras sugere modelo de gestão e auxilio no combate a criminalidade, com utilização de aplicativo patrocinado pela prefeitura, onde o cidadão – residentes e visitantes – registraria ocorrências anormais verificadas pelo munícipe. Lixo, luz, saneamento, água desperdiçada, enfim qualquer ocorrência anormal objetivaria comunicação via celular, ou outro meio eletrônico, cujas informações, através sistema, seriam disponibilizadas as secretaria específicas, facilitando a gestão e solução dos senões. Da mesma forma, o cidadão informaria acerca de quaisquer questões ligadas a violência, na condição de vitima ou colaborador, preservada sua identidade. Furtos de toda natureza, roubos, agressão doméstica, atuação de traficantes em bairros, portas de colégios, movimentação de pessoas armadas, atuação de milícias, tudo seria comunicado gerando um banco de dados e  estatística real administrada pelo município. Por seu turno viria criação do núcleo de inteligência vinculado ao gabinete do prefeito, cujos profissionais qualificados, se responsabilizariam por validar informações oriundas da rede. Confirmadas as notícias, relatório confidencial firmado pelo chefe do executivo municipal iria ter às mãos das autoridades competentes, para adoção das providencias de policia preventiva, repressiva ou judiciária. Destarte, com participação de todos, a partir das administrações de bairros – nos grandes centros -, sedes e distritos, em municípios menores, atrelados a outros projetos que viriam ser desenvolvidos, com base no conceito sugerido e nas experiências exitosas poder-se-ia experimentar sensível redução nos índices de criminalidade facultando assim, houvesse tempo e condições de investimento, a médio e longo prazo, nos planos de cunho social, imprescindíveis ao verdadeiro combate da violência preocupante, real esteira de cruzada cidadã. Salvador, 6 de maio de 2016.
valdir barbosa