Artigo: Da Obra: O SER E O EXISTIR / Por Edmilson Mover

DA SÉRIE: ENSAIOS QUE NOS LEVAM A PENSAR

Subsérie: Ficção sobre contos paleoantropológicos

Da Obra: O SER E O EXISTIR     CAPÍTULO 46

 

O INÍCIO DA HISTÓRIA DA ESPÉCIE HUMANA

 (O BIPEDALISMO)

Entre o Vale Turkana no noroeste do Quênia, e a região

de Afar no nordeste da Etiópia, na África subsaariana.

 

O ROLDÃO SEQUENCIAL DA HISTÓRIA DO HOMEM

DENTRO DO TEMPO

(Quatro e meio milhões de anos)

 

1*

Na realidade a referência ao tempo nesta história, não é significativa, nem uma verdade histórica!  Sendo a referência ao tempo, tão somente, um apoio cronológico para dar suporte ao conto, e à ficção pretendida…  

2*

Convenhamos! É muito difícil contar em poucas palavras a história da espécie humana, assim vamos inventar uma maneira nova de contar tal história.

Estabelecer o início desta história è tão difícil quão esboçá-la, Em vista do que podíamos inverter a ordem cronológica dos acontecimentos e fazer uma história decrescente no tempo, assim não teríamos preocupação com o início desta história teríamos somente que contar a história do fim para o início, até onde pudéssemos descrevê-la com alguma lógica. No entanto isto não é possível, pois simplesmente, o homem não nasce velho e morre novo, assim ao entramos nos detalhes exporíamos a incoerência da narrativa, ao descrevê-lo subindo numa árvore, ele não sobe, de cima da árvore para o chão.  Somos forçados, portanto, a procurar outra alternativa. Que tal considerarmos a história do homem tentando descrevê-la abordando somente o feito maior desta mesma humanidade, e qual seria este feito tão importante que nos serviria como parâmetro e modelo para esta descrição?  Sua inteligência? Seu instinto de preservação da espécie? Seu poder de procriação? Nada disso! Vamos buscar a única qualidade da espécie que permitiu a esta, tornar-se uma humanidade e chegar até aos dias de hoje. Esta qualidade possuidora de tanto poder foi exclusivamente a sua “criatividade”. Mesmo assim torna-se necessário estabelecer um início para esta história, e qual seria este início? Ora! A lógica nos diz que este início seria o início da própria “criatividade” humana. Aí ficou tudo mais fácil! Procuremos o primeiro ato criativo da espécie e teremos o início da narrativa. Estabeleçamos de antemão que a “criatividade” aqui considerada não é o poder da mente traduzido na habilidade manual. Isto ficará bem firmado, pois o ato de criar não implica necessariamente no ato da criação de utilidades. Acertado é! Que o primeiro ato criativo do hominídeo foi o ato de abandonar o quadrupedismo.

3*

Quem primeiro ficou de pé merece nosso reconhecimento e nossas reverências como nosso primeiro ancestral. E isto é algo para se supor? Não! Com toda a certeza não desenvolveríamos um só ceitil se não houvéssemos abandonado o quadrupedismo. Com a mudança para a postura bípede, obviamente só assim, conseguimos liberar os membros anteriores ou dianteiros, que com o passar dos milhões de anos suas extremidades foram transformadas em mãos, que no futuro com a oposição do polegar tornar-se-iam preênseis, só assim a espécie tornou-se no “Homo Faber”, sem a fabricação de ferramentas jamais nos tornaríamos numa espécie dominante, muito menos pensante.  

Vou repetir, pela sua importância!

O ato de adotar o bipedalismo nos permitiu a liberação dos membros anteriores, consequentemente a liberação das mãos, sem a liberação das mãos nunca seriamos humanos, foram as mãos livres à frente do nosso rosto que nos levou a adotar ou inventar a “criatividade”. O ato de ficar de pé forçou este primeiro ”Ser” a tornar-se um “Ser” criativo. Este poder criativo fez do primata nosso mais velho ancestral, o único que desenvolveu o cérebro forçado pela própria “criatividade”, o ato de recorrer ao cérebro a todo instante levá-lo-ia a abandonar num futuro distante os atos instintivos, e quanto mais abandonava o instinto mais recorria ao cérebro. Quanto mais recorria ao cérebro este aumentava em poder e tamanho. Esta recorrência nos permitiu chegar aos dias de hoje com o potencial de recriarmos a história do ontem, do “tandem initial” e de até mesmo fazermos projeções para o futuro. Esta recorrência nos dotou nos dias atuais de um cérebro com 1400 centímetros cúbicos. O compartimento do crânio deste nosso ancestral de há 4,2 milhões de anos, o “Pithecanthropus anamensis”, não passava de tímidos 300 centímetros cúbicos, ou um pouco menos. Muitas espécies antropóides desceram das árvores! Mas! Só a que adquiriu habilidade manual com a oposição do polegar (oposição esta forçada pelo uso constante da mão como ferramenta), e por terem adotado o bipedalismo sobreviveram e tornaram-se por direito nossos primeiros ancestrais. Comprovamos isso nos registros que esta espécie nos deixou, como legado, estes legados estão hoje numa sequência de seus fósseis como registro de sua história ao longo de quatro milhões de anos, e estudados pela paleoantropologia. Não havendo o que discutir!

 

A ESCOLHA DO NOME

 

4* Qual nome nós daríamos a este primeiro Ser?

Esta é a história de um Ser que nasce e renasce, (embora não seja necessariamente uma reencarnação). Assim dentro dos vários períodos da sua repetida história, não questionaremos suas inúmeras atuações ou suas diversas pessoalidades, em suas repetidas aparições! Seu nome será sempre o mesmo para que possamos visualizá-lo melhor nos seus vários existires, escolher este nome será muito simples! Quem mais e melhor se preocupou com a evolução dos seres pensantes! Como, os humanos, os hominídeos e os antropoides, como seus antepassados mais remotos! Senão Charles Darwin!

A HISTÓRIA DE DARWIN

(Há quatro e meio milhões de anos)

5*

Há quatro e meio milhões de anos, Darwin acordou bem cedo com fome, mas sua despensa estava a uns três galhos acima, e o pior estava dormindo, e se a acordasse para mamar com certeza levaria uns sopapos, o melhor era esperar que sua despensa acordasse por ela mesma.  Instintivamente Darwin sabia que estava próximo o seu desmame.  Não estavam no centro da floresta densa, mas, sim, quase na sua borda próximo ao riacho e a savana ou ravina, a chamaremos sempre de ravina. Darwin olhou pra baixo e viu um grupo de pequenos roedores arborícolas disputando alguns frutos numa árvore de pequeno porte, como não estava numa árvore muito alta resolveu descer, por pura curiosidade! Chegando embaixo após escorraçar os roedores contendores, sua atenção voltou-se para o motivo da disputa, eram umas frutas vermelhas carmesins, no alto de uma pequena árvore, e a curiosidade de Darwin aumentou! Uma conexão de poucos neurônios ativaram; axônios, sinapses e dendritos, e nada! A mente de Darwin forçou e milhares de neurônios se interconectaram formando milhares de novas conexões e destas conexões surgirão milhares de novas conexões. Esta foi a primeira assembleia de neurônios no planeta. No princípio Darwin ficou meio confuso, logo assentou as (instinto/ideias). Com este grupo de novas conexões Darwin pode raciocinar que se havia disputa, a coisa disputada devia merecer alguma atenção! Darwin olhou para as frutas carmesins com outros olhos e a saliva fluiu por entre seus lábios, só que para alcançá-las teria que ficar de pé, postura que nunca tinha tentado assumir.

6*

Assim! Registre-se! Um primata, pela primeira vez iria tentar o bipedalismo”, embora, somente por uns momentos! Como as frutas estavam penduradas nas pontas dos galhos. Darwin ficou sobre as patas trazeiras e colheu o seu primeiro fruto, diga-se, de passagem de um sabor espetacular, Darwin comeu tantos frutos que só se lembrou do leite de sua despensa lá por volta do meio dia. No outro dia cedinho Darwin nem olhou para sua despensa de leite, logo desceu da nova árvore onde passou a noite e não encontrou nas proximidades a arvorezinha dos frutos carmesins. Ao que se pode deduzir, as conexões neuronais de Darwin novamente entraram em funcionamento, e por pura necessidade as conexões se multiplicaram novamente. Darwin olhou mais uma vez e não viu nas proximidades a arvorezinha das frutas, conseguiu localizar a arvore onde passou a noite anterior, e pra lá se dirigiu, ora andando de quatro, ora tentando andar de pé o que era extremamente difícil e doloroso, mas a mente de Darwin funcionava melhor, podia-se dizer de forma “diferente”. A primeira utilidade que Darwin fez de seus novos atributos neuronais foi localizar um objeto com referencia a outro objeto! Uma árvore com referência a outra árvore. Num momento em que fazia uma tentativa de andar sobre os dois membros posteriores, Darwin avistou um felino que se aproximava sorrateiro, vindo contra o vento, motivo pelo qual não foi percebido por nenhum de seus companheiros que estavam no chão. Darwin de pé deu o costumeiro sinal de alarme e voltou para o alto da árvore com todos seus irmãos e primos.

7*

É própria da evolução dos seres, a adoção dos atos prazerosos e comum a repetição pura e simples destes atos, os atos ou costumes que causam desprazer embora sejam experimentados no início por simples curiosidade não são repetidos e caem em desuso, se causarem desprazer são simplesmente jogados para o lixo. Este é um dos múltiplos fatores que dão suporte à evolução das espécies. Assim não encontramos nenhuma justificativa coerente e lógica para a adoção do bipedalismo pelos primatas. Salvo a necessidade da postura ereta como uma necessidade imposta pela vigília para se proteger dos predadores naturais. Estudos da morfologia da estrutura do esqueleto destes primatas indicam que a adoção desta postura era com certeza dolorosa. A única explicação racional e com alguma lógica de tão espetacular virada na andadura dos nossos avoengos será apoiada na necessidade, (como disse), da vigilância. Os primeiros primatas a adotarem o bipedalismo com certeza moravam nas orlas das matas próximas das ravinas de capim alto, o que requereria permanente vigilância, e qual postura melhor para exercê-la, senão a postura de pé, elevando o olhar por sobre a ravina onde espreitava os predadores. O problema é que temos que entender este problema dos nossos ancestrais, não como um problema, mas, antes como uma solução para a sobrevivência. Pois, a maior insolação nas ravinas propiciava abundancia de frutos e insetos que se alimentavam dos frutos e os primeiros primatas que abandonaram os altos das árvores tinham como seu prato principal os insetos que se alimentavam das frutas e as próprias frutas. Darwin com certeza morava próximo a uma ravina rica destes alimentos.  Isto é, frutas e insetos, ambos saborosos e nutritivos.

 

DARWIN NA CAVERNA

(Há três milhões de anos)

8*

Há três milhões de anos um enorme felino observava um grupo de antropóides saírem de sua caverna com uma entrada alta e de difícil acesso e se dirigirem para sua árvore de proteção próxima a área de coleta de frutos, eram todos jovens, após saciarem a sede e a fome estavam brincando sob a copa da árvore próxima ao leito de um riacho cristalino que descia da montanha. Dentre os jovens estava Darwin, de ouvidos atentos escutava todos os ruídos vindos dos arredores, era época de capim alto. Como Darwin não conseguia uma boa visão da área onde brincavam e colhiam alguns frutos silvestres, abundantes na orla do riacho e por herdar as qualificações do cérebro do nosso primeiro Darwin, por não depender tanto do instinto e por ser realmente mais evoluído que os outros. Prestava com regularidade maior a atenção no canto dos pássaros que chilreavam nos arredores. Morfologicamente e biologicamente neste grupo de seres, todos eram iguais, à exceção dos neurônios dos descendentes do nosso primeiro Darwin que aquela altura já era em número muito superior aos demais da raça, na realidade eram quase que a maioria. Mas Darwin por ter nascido diferente, era mais esperto e utilizava o cérebro melhor que os outros, ele sabia que junto a mudança repentina no tipo de canto dos pássaros vinha sem erro o perigo! Desta vez Darwin não estava só! Trazia seguro pelo braço um irmão menor, não levou mais que três segundos e o pequeno Uff já tinha compreendido o motivo pelo qual Darwin o tinha levado às pressas para a proteção da altura dos galhos da árvore. E tinha sido pela simples mudança no gorjeio dos pássaros. Darwin deixou Uff no alto da árvore e iniciou a ensinar um primo que escolheu a esmo, era um primo com cara de esperto que logo ia absorver o ensinamento, havia dois dias que um do grupo tinha sido levado pelo mesmo predador. Darwin tinha aprendido com sua mãe quando na caverna que os pássaros emudeciam ou mudavam o canto quando avistavam estranhos nas proximidades.

O CANTO DO CALAU ENSINA A DARWIN

(Há dois milhões de anos)

9*

Os ensinamentos na maioria das vezes eram transmitidos pelas mães. Sendo de grande utilidade para Darwin e seus irmãos, assim como para todo o bando, com tudo isso, Darwin já estava ficando meio chateado, pois na maioria das vezes os alarmes eram falsos os Calaus paravam de cantar ou mudavam o canto por outros motivos, deixando Darwin irritadiço e sem saber o que fazer! Da última vez que o Calau mudou o canto Darwin passou por um sufoco e uma grande apreensão. Quando da última mudança de canto do Calau, Darwin estava um pouco distante da árvore de proteção, no meio da fuga em desabalada carreira para presto, alcançar a bendita árvore! Um imenso Javali que também ouvira a mudança no canto disparou fazendo um barulho ensurdecedor na direção de Darwin. E nesta hora Darwin se sentiu literalmente na barriga do um Felino predador por sinal um velho conhecido de Darwin. Quando chegou ofegante no alto da árvore, ele parou para pensar e mais uma vez ouve uma explosão de novas conexões em seus neurônios, o pequeno cérebro de Darwin estava mudando. Tentou assimilar o que o seu cérebro lhe dizia e ficou pasmo! O Calau tinha vários cantos e se não estivesse enganado o canto do Calau tinha sido um canto de orientação para o companheiro que vinha cantando e se aproximando. Darwin deduziu que este canto também pusera em disparada o enorme Javali! Que não é um seu predador natural! Incrível Darwin conseguiu elaborar o primeiro raciocínio abstrato, dedutivo e sobre tudo analítico! A espécie estava salva, a espécie de Darwin não iria virar somente fósseis como muitas outras! A espécie a qual Darwin pertencia estava predestinada a dominar o planeta! Não importava quantos milhões de anos ainda iriam se passar, um dia um outro Darwin nasceria numa ilha no distante norte da Europa. E com muito acerto se imiscuiria no passado de “um outro” Darwin que vivera a quatro ou cinco milhões de anos atrás Durante o resto do dia o canto do Calau tirou o apetite de Darwin, estrategicamente posicionado num posto de observação observando o casal de Calaus conseguiu distinguir cinco cantos diferentes. Inteligentemente se fixou no canto que denunciava a presença dos predadores! (Por que o Calau até hoje tem tanto cuidado com os predadores? O motivo é simples, os Calaus como proteção da sua prole enclausuram as fêmeas e os filhotes em ocos de árvores para protegê-los dos seus predadores naturais, cobras, pequenos animais escaladores e símios! Por isso quando um macho morre na boca de um predador toda uma família sucumbe, pois os seus filhos e suas fêmeas morrem de fome e enclausurados. O Calau indiscriminadamente denuncia a presença de todos os predadores, não se importando com o porte dos mesmos! Quando Darwin conseguiu compreender a diferença do canto do Calau embora ainda fosse um humanóide! Já estava completamente bípede…. Por mais estranho que possa parecer a experiência de Darwin com a caverna foi um fato isolado, e em certas regiões cavernas eram quase que “inexistentes”. O fato é que a mudança do clima e da flora na áfrica há 4,5 milhões de anos criando as savanas ou ravinas praticamente obrigou Darwin a iniciar a postura bipedalista, liberando suas mãos, obrigando-o a utilizá-las como ferramentas, e como consequência obrigou-o a se iniciar na prática de atos criativos, e como conseqüência última forçou a principal mudança fisiológica no organismo de Darwin. A aquisição do bipedalismo, obviamente liberou suas patas dianteiras que no futuro se transformariam em mãos, deixando de caçar com a boca, o que aumentaria logicamente sua ingestão de proteínas, melhorando o desenvolvimento de seu organismo como um todo.

E com o consequente aumento do cérebro, a raça de Darwin se transformaria num futuro distante na subespécie “homo sapiens sapiens”, e estaria salva da extinção.   Senão! Hoje o planeta, com certeza não estaria habitado pelos que se dizem “humanos”.   Venho pregando há tempos que: Há algo de errado, ou com os “humanos”, ou com o conceito de “humano”. O que me leva a este questionamento são dezessete mil ogivas atômicas estocadas por vários países.   

 

Edimilson Santos Silva Movér

Capítulo 46 da obra “O SER E O EXISTIR”

Junho de 2007,