Colegiado do Curso de Comunicação/Jornalismo da Uesb, em nota divulgada à imprensa, questiona a forma de gerenciamento em que a atual gestão da UESB vem praticando no Surte – Sistema Universitário de Rádio e Televisão Educativa. Principalmente, a recém inaugurada Rádio Uesb.”Para onde vai a rádio Uesb? Para o mercado FM?”

PARA ONDE VAI A RÁDIO UESB? PARA O MERCADO FM?

Por que não chamar logo a Rádio Uesb de 97,5 FM? Assim aproxima-se mais ainda de suas congêneres comerciais, a 96 FM, a 100,1 FM, hoje Transamérica FM, ou Band FM ou…. A própria escolha do nome já deixa transparecer o propósito que a preside, o de reproduzir um padrão de rádio no ar há mais de vinte anos. A recém inaugurada Rádio Uesb nasce então com um discurso envelhecido, repetindo os bordões das rádios privadas em busca de audiência e a conhecida voz empostada de seus locutores: “você está na melhor, Uesb FM”. Melhor o que?

Foram muitos anos de luta para a nossa universidade conquistar uma televisão e uma rádio públicas, patrimônio que poucas instituições acadêmicas dispõem, e o que se observa é o gerenciamento do Surte – Sistema Universitário de Rádio e Televisão Educativa – nos moldes das empresas privadas, em que a voz do dono ou de seus prepostos prevalece sobre os interesses coletivos. Destaca-se a obscura forma como foram contratados os radialistas.

Nossa preocupação também passa pela formação para o exercício do jornalismo. O ensino praticado nas faculdades é voltado em grande parte para o mercado, restrito a grandes redes empresariais, comprometidas com interesses privados. Nós temos um curso de Jornalismo com doze anos de existência e vários alunos formados atuando em distintas áreas. Nosso propósito sempre foi de contribuir para a modificação e o aprimoramento do jornalismo praticado na região. Agora, quando temos a oportunidade de dispor de nossos próprios veículos de comunicação, enquanto instituição e como curso, em que não precisaremos mais nos submeter aos ditames do propalado mercado e nas suas fórmulas de enquadramento, vemos nossos sonhos serem transformados em quimeras, pelas mãos de nossos próprios dirigentes e nos prepostos por eles delegados para cumprir a missão de ‘tocar’ a nossa rádio e a nossa televisão, segundo seus próprios interesses e visão de mundo e de comunicação.

Qual a diferença, em termos de programação, de enfoque, de pauta, em relação às emissoras privadas de rádio e televisão? O que irão aprender nossos alunos estagiários em emissoras que se estruturam sob este perfil? Onde se encontra o experimentalismo, a inovação, a ousadia, característica de quem busca o novo, sem medo de errar neste caminho? Por que não lançar um olhar sobre o que se anda fazendo na Rede Pública de Rádio e Televisão e em outras rádios e televisões universitárias? Por que não se pautar nos indicativos aprovados na 1ª Conferência Nacional de Comunicação?

Para nós, a premissa fundamental que deve orientar uma rádio e uma televisão universitária e educativa é o conceito de emissora pública, que presta serviços aos seus públicos e que deve se pautar por uma perspectiva de construção da cidadania. Este deve ser o caminho que norteia a estruturação da programação, e não o contrário, a criação de programetes sem articulação entre si e que apenas realizam a intenção de seu produtor e do gestor institucional.

Onde aparece o Conselho Deliberativo do Surte, órgão responsável, segundo determinação do Consu, pela definição e aprovação da programação da rádio e da televisão da Uesb?  Mais uma vez deverá cumprir com a rádio o mesmo papel que lhe foi imposto no caso da televisão Uesb, o de aprovar a grade de programação meses depois de estar no ar, em que uma situação de fato já se configurava e que não havia como retirar os programas do ar. Inclusive o Colegiado de Comunicação e a representação da Adusb, que têm assento neste Conselho, sentem-se constrangidos de ter que assumir este tipo de responsabilidade regimental. Não mais o faremos!

A rádio e a televisão públicas ocupam um lugar privilegiado de distribuição de poder, cujo potencial está em pleno desenvolvimento. Este modelo sugere uma alternativa ao profissional de jornalismo. Propõe uma aproximação entre o ensino nas faculdades de comunicação e uma atividade mais liberta, distinta da realizada em âmbito empresarial. Proporciona uma aproximação entre a teoria e a prática, na busca de uma Comunicação Social mais ética, livre e consciente do seu papel junto às comunidades onde se insere.

Vitória da Conquista, 11 de março de 2010.

Colegiado do Curso de Comunicação/Jornalismo