DA SÉRIE: ENSAIOS QUE NOS LEVAM A PENSAR Subsérie: Comentários sobre uma das obras de um “Ser” especialíssimo.

 

 

 “A PRIMEIRA E ÚLTIMA LIBERDADE”

DE JIDDU KRISHNAMURTI

 

Charles W. Leadbeater (1847-1934) o descobridor de J. Krishnamurti, Em 1909. O jovem Jiddu Krishnamurti (1895-1986). Adotado e preparado pela Sociedade Teosófica para ser o instrutor do Mundo.

 

 

 

Prefácio de Aldous Haxley

 

 

 

 

 

Charles W. Leadbeater (1847-1934) o descobridor de J. Krishnamurti,

 Em 1909.

 

O jovem Jiddu Krishnamurti (1895-1986).

Adotado e preparado pela Sociedade

Teosófica para ser o instrutor do Mundo.

 

 

[… – Estou apenas a ser como um espelho da vossa vida, no qual podeis ver-vos como sois. Depois, podeis deitar fora o espelho; o espelho não é importante -…]

Eis Krishnamurti em sua essência…

 

Preâmbulo:

           Normalmente, ou quase sempre, como faço em meus singelos e insossos ensaios, humildemente os dedico a uma pessoa específica, a um personagem qualquer, a um amigo, parente ou conhecido que já se foi, desta, para o mundo do incognoscível. Aqui, estas apreciações ou estudos, fruto da minha leitura, não do livro em si, mas, da essência do pensamento de Jiddu Krishnamurt! Eu dedico a meu irmão maçom, Dr. Francisco Françu Gomes Assemany, médico residente em Camaçari, onde se dedica com amor a sua profissão e aos seus clientes, é um cidadão de ilibada transcendência moral, possuindo uma mente brilhante! Em qualquer tema que ele aborde está presente a lógica, a seriedade e a razão, sempre que tenho oportunidade de escutar uma de suas palestras, ali estão os raciocínios elaborados, as filigranas do pensar escorreito, (tão recomendados por Krishnamurti), são entrelaces de raciocínios que ele tece com maestria. Talvez, nem o perceba! Constrói com naturalidade, e talvez, até despercebidamente, a tese, a antítese, sempre coroando seu discurso com uma síntese aprimorada, isto, em cada tema abordado.  No ambiente em que o escuto, o tempo é muito restrito, mesmo assim, nunca o vi deixar um assunto sem o devido tratamento e conclusão. À meu irmão Françu, com profundo respeito, principalmente, à sua visão “da vida” em geral, especialmente e essencialmente da existência humana! Dedico como disse! Este singelo arrazoado a que chamo de ensaio, ou mesmo, de prolegômenos capitulares, que eu teci sobre esta obra do maior pensador que passou por este planeta do século XX. Século em que eu e o Françu nascemos e vivemos por longos anos. Somente de minha parte! Passei 60 anos no século XX. Hoje, Já vencendo a segunda década do século XXI. Então é que caímos na dura realidade! Éramos felizes e não sabíamos…

 

Introdução:

1* Na madrugada de 04/12/2017 a doutora insônia, (como costumo chamá-la), levou-me a continuar a leitura de um livro que eu tinha iniciado dias antes, “A PRIMEIRA E ÚLTIMA LIBERDADE” de Jiddu Krishnamurti, que viveu entre 1895 e 1986. Na realidade, eu li a obra em questão, pela primeira vez em 2001, ela foi prefaciada por Aldous Huxley, prefácio este, que analisaremos primeiro, para assim, podermos aquilatar a interpretação que fez sobre esta obra o escritor inglês, que viveu entre 1897 e 1963.

Agora sim, dou-me, ou melhor! Damo-nos conta de que, (observem que, nalguns momentos, sigo o estilo de linguagem de Krishnamurti, na segunda pessoa, por sinal, muito bonito), o “Sapiens”; se apega ao tempo obstinadamente, como se este, fosse uma entidade concreta e palpável, ora! a única interação ou ação a que o tempo está sujeito, por parte do “sapiens”, é a mensuração, e de forma imprecisa, isto, quando feita por nossos sentidos. A ciência tem que utilizar recursos tecnológicos avançados para consegui-lo com uma relativa precisão.

 

2* Meu amigo Françu! O problema maior da leitura e da interpretação de textos escritos por pensadores que penetram fundo na essência do existir! São portanto, as abstrações!

3* Creio eu, filologicamente falando, e não sei se acertadamente! Que os sentidos dos conceitos expressos por palavras e frases destes, ou mesmo de quaisquer pensadores, se alterem dentro das eras, e isto não ocorre somente pela força do diacronismo semântico, que naturalmente molda as línguas. Razão porquê, costumo em todos meus escritos, “informar para definir” cronologicamente cada pensador dentro de seu tempo. Temos que nos ater à verdade de que: Os conceitos e sentidos contidos em palavras e frases se alteram sempre! E isto se dá em função da constante mudança do paradigma humano, pois, à medida que o conhecimento da humanidade, se desenvolve e avança, alterando e aumentando, sua visão de mundo, o seu paradigma, também se altera. Óbvio! que o sentido das suas “palavras e frases” se modifiquem também, independentemente do natural diacronismo semântico.    

 

4* Após a “leitura” da essência do que diz Aldous Huxley no seu prefácio, observe que aqui não analisaremos o que diz o pensador inglês sobre a obra em si, mas sim, o que ele diz sobre o pensador hindu. Após o que, analisaremos alguns tópicos do livro de Jiddu Krishnamurti, diferenciado e maior pensador hindu que viveu no século XX. Neste ensaio, não me proponho a analisar e comentar toda esta obra, pois equivaleria a escrever outro livro, no mínimo, com o mesmo número de páginas! E isto foge da minha alçada e competência, assim, este texto não passará de um singelo ensaio sobre alguns tópicos, digo, (capítulos), do livro.

 

5* Aqui trataremos, mas, sem atermo-nos a quem foi Krishnamurti ou Huxley, essencialmente cuidaremos da essência dos seus falares e pensares. Mesmo porque, suas biografias são facilmente encontráveis na Web, na Wikipédia e noutros “sítios”. (Como sempre, sempre que uso o plural nos verbos e nas palavras, estou me referindo a mim e aos meus diletos e inteligentes leitores). Não está em mim, nem é do meu feitio, nem é próprio de mim admitir que: Um “Ser” como “eu”, que alcançou o píncaro da burrice! Possa possuir sequer, um leitor burro, ou escritor burro como concorrente! Ninguém há de tomar meu espaço! Espaço este, conquistado com extremada burrice, aos trancos e barrancos…

6* Não somente esta obra, mas, podemos dizer! Sem medo de errar que: Toda a vasta obra de Krishnamurti nos leva a questionar nossa visão de mundo. Principalmente e essencialmente a maneira como a humanidade utiliza os símbolos, únicas ferramentas que propicia, permite e leva-a a sua invulgar maneira de como (ela a humanidade), interage com, e interpreta o mundo. Somos a única espécie no planeta que desenvolveu o raciocínio lógico, o pensar! Mas, como podemos ver, em toda a obra de Krishnamurti fica evidenciada a questão maior da humanidade, e do pensamento deste invejável humano! Que logicamente trata do conceito de “o que é o universo” e, de “quem somos nós dentro deste universo”, principalmente de como interpretamos o mundo. Não gosto de certezas! Pois o mundo é feito de dúvidas! Inda mais depois de Heisenberg! Mas, tenho “certeza” que o paradigma de Krishnamurti a este respeito, difere sem sombra de dúvida do paradigma da maioria das pessoas. (Aqui estou incluindo pessoas de todos os níveis intelectuais). E então, nem somente em função disso, porque também sou obrigado a levar em conta o fato de que, nem todos os prováveis leitores dessas lagartixas, conheçam ou já ouviram falar de sua obra, nem de quem foi Krishnamurti. Veremos que, ao tomarmos conhecimento de quem foi este senhor, embora, o que importa, não seja ele, o (pensador), em si, “conforme pregava ele”, importa somente a sua maneira de interpretar o mundo!

 

7* Um fato a ser considerado, é que este pensador, foi realmente, desde o seu nascimento, uma pessoa invulgar, uma pessoa diferenciada dos padrões comuns dos seres pensantes. E isto torna-se patente e evidenciado, ao tomarmos conhecimento de quais eram os seres que foram seus mais assíduos ouvintes e naturalmente seus leitores! Todo o pensamento de Krishnamurti nos foi transmitido em linguagem simples e de forma simples, assimilável, e em linguagem, podemos dizer, coloquial e comum, em todas as suas inúmeras conferências proferidas por toda sua vida, nas mais importantes salas de conferências do planeta. Sobretudo em todos seus livros, que alcança as 58 (cinquenta e oito) obras. A única coisa que posso fazer aqui é dar aspecto pontual às diversas proposições deste, primeiro, único e insubstituível pensador, primeiro e único a propor estas verdades. Verdades estas, que ele dizia não poder transmiti-las aos ouvintes, pelo simples motivo de que elas residiam no interior de cada ouvinte. O problema é que Krishnamurti falava e escrevia sempre para uma plateia de sábios, tais quais, filósofos, catedráticos das melhores e maiores universidades do mundo, escritores de renome, pensadores, matemáticos em busca da essência das coisas, a maioria Doutores, PhDs, MSc, Prêmios Nobel, etc. Ou seja, a elite pensante do planeta na época.

 

8* E eu, coitado de mim, escrevo para meus humildes leitores, embora estes estejam num nível intelectual, muito superior ao meu! Estando eles, no entanto, um pouquinho abaixo do nível dos ouvintes das conferências do pensador hindu. Só não posso avaliar o nível intelectual de seus leitores, pois até o “Equus africanus asinus” consome papel escrito. Portanto, é óbvio que os seus leitores (de Krishnamurti), abranjam todas as faixas de conhecimento da humanidade, estando entre estes! Aqueles que leem soletrando como eu! E aqueles que escolhem as melhores edições em “quaisquer” língua em que foi publicada cada obra, ou na edição original, que ainda não sofreu as naturais distorções conceituais próprias das traduções.

 

Bom! Vamos lá! Às considerações…

 

9* Quem primeiro lê uma obra, naturalmente é quem a escreve, e em segundo lugar, quem a prefacia.

 

10* Então vejamos a visão que o renomado e inteligente pensador inglês deixou registrada neste prefácio. O que mais admiro nos filósofos é a lucidez, retratada na elaboração de seus raciocínios! No prefácio de Aldous Huxley, isto salta aos olhos! Logo no início de sua arenga “prefaciatória”, ele vai ao fundo da questão do que seja o homem! Ao nos dizer que o homem é um animal anfíbio, e portanto, ambíguo, que vive simultaneamente em dois mundos. Primeiro, o mundo da realidade; da matéria, da vida e da consciência. Embora não sejamos taxonomicamente, classificados como anfíbios! Mas, nós passamos nove meses de nossa curta existência dentro d’água, dentro do líquido amniótico. A lucidez e sutileza de Huxley transparece ao nos classificar como anfíbios! Segundo, o mundo dos símbolos, tão maravilhosamente dissecado pelo pai da semiótica, Charles Sanders Peirce, que viveu entre (1839-1914). De forma geral o homem utiliza os símbolos numa miríade de formas, como na linguística, na matemática, na arte pictórica, na música, nas artes em geral e nos rituais etc. sem a invenção dos símbolos, tornar-se-ia impossível desenvolver uma sociedade de pensantes, fato que ocorreu de forma continuada desde os primórdios, quando há mais ou menos 300 mil anos o “homo erectus”, sei lá por quais razões! Iniciou a pensar e ao mesmo tempo a abandonar paulatinamente o instinto, transformando-se no “homo sapiens”. Naturalmente que só tornou-se pensante porque inventou os símbolos para poder se comunicar com seus semelhantes, e não semelhantes! No início, simples símbolos gestuais e tentativas de uma fala, mesmo que rudimentar. Depois é que surgiu a fala elaborada atual! Podemos prever que num futuro não muito distante, a comunicação dos “sapiens” será feita por telepatia, sendo o que nos promete a mecatrônica e a biônica, no futuro associadas à IA e à genética. Quem nos alerta e nos oferece esta esperança é a ressonância mórfica de Rupert Sheldrake. Quando Jiddu se foi ela ainda estava engatinhando.

 

11* Aldous Huxley analisa o efeito do uso dos símbolos, e pontua os efeitos positivos e negativos que estes tiveram sobre esta nascente sociedade de animais falantes. Aquele que pensa ou preceitua que o homem atual está atingindo ou atingiu um alto grau de desenvolvimento, está mais próximo do “homo erectus” que do “homo sapiens sapiens”. Huxley nos lembra que os símbolos foram utilizados pelos homens, muito tempo depois, forçosamente e logicamente para moldar o seu sistema político e o seu sistema religioso. Fonte dos percalços por que passou, e que tem passado a raça humana. Ele nos lembra que na linguística, no contexto de política e religião, – “as palavras não são tratadas como representações, mais ou menos inadequadas, de coisas e fatos; ao contrário, coisas e fatos são considerados ilustrações específicas de palavras. A inadequação da escolha dos símbolos, nas mais diversas formas, permanece até hoje, provocando os descalabros na existência da espécie. Aí, eu me pergunto! Que fez a filosofia ao longo dos séculos para minorar esta escolha? Sendo esta atividade humana a única a perceber estas idiossincrasias! Estas, encontradas na comunicação entre os “sapiens”. Será! Que somente uma catástrofe que faça desaparecer quase 100% dos falantes seria capaz de equilibrar tal escolha errônea de símbolos? Adiante o pensador inglês nos diz textualmente, [… – Nos últimos anos, lógicos e semânticos procederam a uma análise muito meticulosa dos símbolos em função dos quais os homens desenvolvem o pensamento. A linguística tornou-se uma ciência e hoje se pode até estudar a matéria a que o falecido Benjamim Whorf deu o nome de metalinguística. Tudo isso constitui notável contribuição, mas não basta. A lógica, a semântica, a linguística e a meta linguística são puras disciplinas intelectuais.  Analisam as várias maneiras, corretas e incorretas, significativas e não significativas, em que as palavras podem ser relacionadas com coisas, processos e fatos. Mas nenhuma orientação oferecem em referência ao problema fundamental das relações do homem na totalidade psicofísica, de um lado, e com os seus dois mundos, o dos fatos e os dos símbolos, de outro lado…]

 

12* – Os raciocínios, aqui expostos e analisados por Huxley referem-se simplesmente à mais profunda e notável intelecção de Krishnamurti. Onde nos diz: – A clareza é essencial nos nossos raciocínios! A clareza não resulta da asserção verbal do pensador, ela é oriunda do autopercebimento e do correto pensar, um pensamento correto nunca será fruto do cultivo do intelecto, nem segue ou é resultado de padrão algum! – Ele acrescenta! – Por mais digno e nobre que este seja. Todo pensar correto só poderá advir do autoconhecimento, – o inglês parafraseando o hindu, nos propõe ainda: – “Se não vos compreenderdes, não tereis base para pensar, sem autoconhecimento o que pensais não é o verdadeiro”. – Sendo esta assertiva a pedra angular do pensamento de Krishnamurti.

 

13* Vamos agora às proposições do hindu de Madanapalle, naturalmente, que não farei uma retrospectiva ou uma análise profunda de todos os 59 capítulos desta sua obra, a eles, “os capítulos”, prefiro chamá-los de “lições. Lições estas, contidas na obra A PRIMEIRA E ÚLTIMA LIBERDADE, sendo a 1ª parte ordenada por números romanos, de I a XXI e, a segunda parte em ordenada em arábicos de 1 a 38, perfazendo 59 capítulos. Ao tomarmos conhecimento do que é proposto em toda sua vasta obra! Aqui refiro-me aos 58 livros ou obras. Veremos que este “Ser” de espírito iluminado, e que recebeu aqui na terra, nesta sua encarnação, o nome de: Jiddu Krishnamurti, realmente foi um humano, no mínimo, diferenciado.

 

14* A 2ª edição da obra aqui em referência, é da Editora Cultrix, numa tradução de Hugo Veloso.

 

(I – Introdução)

 

15* Aqui tentarei fazer uma síntese de cada assunto abordado em alguns capítulos da obra em apreço, e nada mais.

Logo no início da introdução o “hindu por excelência”, nos faz ver que: Mesmo entre pessoas íntimas, é extremamente difícil um perfeito intercâmbio de pensamentos. Palavras ou frases ditas por um interlocutor, podem ter significação diferente para o outro interlocutor, mesmo sendo os dois, filhos do mesmo país, falando a língua de nascimento e perfeitamente dominada por ambos. Sendo que, só haverá real entendimento entre dois seres, se estes possuírem uma real afeição entre si, como há entre marido e mulher, pais e filhos, algumas vezes entre irmãos e entre amigos íntimos. Aí sim, haverá comunhão de pensamentos, e a compreensão será completa e instantânea, mas assim mesmo, sob a condição de que os interlocutores vivam no mesmo tempo e, no mesmo nível intelectual. Esta verdade é facilmente verificável no entendimento, mesmo coloquial, entre familiares em idades, graus de culturas, ou com crenças diferentes.

 

II – O que estamos buscando?

16* A respeito do que o homem está buscando, Krishnamurti nos lembra destas questões fundamentais do anseio humano. Os pensamentos e proposições de Krishnamurti nessa área, são coincidentes com os anseios da maioria de nós! Desde quando não sejamos extremados usuários de crenças que cheguem a distorcer nossa razão, ou mesmo, o nosso mais elementar entendimento de nossos anseios. É fácil verificar que, se não todos, pelo menos a maioria de nós, busca a “felicidade” permanente, ou talvez busquemos também a satisfação permanente! E isto nos leva por caminhos ínvios, pois, buscamos coisas que desconhecemos, com certeza não podeis dizer que as conheças, ninguém pode dizer que conhece Deus, ou a Verdade, ou o que queirais chamar, a razão nos diz e Krishnamurti também, que não podemos encontrar algo, se não conhecermos ou soubermos o que é que buscamos.

 

IV – Autoconhecimento

17*  O procurado “autoconhecimento” é abordado nesta obra em sua mais dura realidade! Como tudo que o hindu faz. Chega a ser desanimador, o hindu nos diz que qualquer um pode criar um sistema para produzir o autoconhecimento, mas, ele observa que deste sistema só sairá um resultará obtido por este sistema. Se seguimos um determinado método de conhecer a nós mesmo, só obteremos um resultado que este método necessariamente produz! Onde o resultado evidentemente não será a compreensão de nós mesmos, o método gerará uma padronização de resultados, enquanto todos nós sabemos, mesmo intuitivamente, que somos seres sem padronização.

 

VI – A crença

18* Neste capítulo o hindu, não ataca as crenças, ele as analisa friamente, como tudo que ele faz, o faz sem nenhuma paixão! Segundo ele, existe uma simbiose entre crença, conhecimento e desejo.  E onde há um processo de desejo ali está a crença, e cremos para alcançar segurança econômica, espiritual e paz interior. Este tema da crença é abordado com extrema propriedade e profundidade pelo hindu.

 

IX – O que é o “Eu”

19* Uma abordagem do que seja o “eu”, obviamente sempre será uma digressão polêmica. O “eu” é por si só, abstrato, incognoscível, e talvez nem todos percebam, ele no fundo é impessoal, sua personalidade é que é pessoal, embora seja a essência de uma pessoa, na sua relação com o mundo, possuindo esta personalidade uma miríade de facetas, ela muda de comportamento a todo instante, salvo por conveniência. O “eu” é tema de difícil análise! O hindu, sobre este complexo tema discorre de maneira sutil, mas, completa.

 

XII O Desejo

20* Uma das muitas coisas que nos acompanham do princípio ao fim de nossa existência é o desejo. Nunca paramos de desejar. Quando alcançamos o objeto do desejo, mudamos o foco do desejo para outro objeto, não importa se este objeto seja concreto ou abstrato, “phenomena ou noumena”. Importa que o desejo seja satisfeito. Nos diz o hindu que: – Se observo em mim mesmo o processo do desejo, percebo que há sempre um objeto para o qual a mente se dirige, em busca de novas sensações, e que este processo subentende resistência, tentação e disciplina. – No final deste capítulo este pensador nos faz ver que: Quando conseguimos perceber este processo do desejo, ao tornarmo-nos cônscios dele, sem oposição, tentação, resistência, justificativa ou julgamento, iremos descobrir que a mente é capaz de receber o novo e que o novo nunca é sensação, e então, não pode ser reconhecido, nem reexperimentado. Nos diz o hindu: – Ele é um “estado de ser” no qual a criação se manifesta, sem chamado, sem interferência da memória. Isto é a realidade.

 

Capítulo XV – O Pensador e o Pensamento

21* Claro, o segundo é produto do primeiro, não existindo um sem o outro. São como “coisas” dissociadas, mas, não excludentes. Não há separação entre pensador e pensamento, a dissociação é irreal, sendo observados em separado somente pela mente de um segundo pensador. A abordagem que Krishnamurti faz sobre o tema é de uma beleza e profundidade insuspeitada, minha pobre mente crê, (eu não gosto de crenças), assim, eu afirmo que o capítulo “O pensador e o Pensamento, seja o preâmbulo, o introito, para o capítulo logo a seguir!

 

XVI – Pode o Pensamento Resolver os Nossos Problemas?

22* Tenho ao longo do tempo defendido a proposição de que nossos pensamentos nunca resolverão os problemas da humanidade, se os pudesse! A Grécia não seria o que é hoje! Nenhuma sociedade no planeta, aqui incluo todo o oriente, pensou mais que o povo grego. Se pensar resolvesse os problemas da humanidade, todo o planeta falaria grego, e na terra só existiria uma nação, a Grécia! Vocês já notaram que eventualmente nomino Jiddu Krishnamurti de o “hindu”, isto decorre do grande respeito que tenho pelo antigo e atual povo da Índia. Essencialmente pelos Mahatmas. Entendam porém! Que Krishnamurti por toda sua vida rejeitou títulos e honrarias.  

 

23* Vamos aos pensares do hindu! A respeito do tema desse capítulo: Farei melhor! Transcrevo “ipsis verbis” um pequeno trecho do capítulo, creio que será o suficiente.

[.. – O pensar não resolveu nossos problemas. Os homens talentosos, os filósofos, os líderes políticos, não resolveram de fato nenhum dos problemas humanos – que são as relações entre vós e outra pessoa, entre vós e mim. Temos, até agora, feito uso da mente, do intelecto, como meio de investigar o problema, esperando, por essa maneira, encontrar uma solução. Pode o pensamento dissolver nossos problemas? O pensamento, salvo quando entregue a pesquisas científicas ou atividades técnicas, não está sempre interessado na auto proteção, na autoperpetuação, sempre condicionado? Sua atividade não é egocêntrica? E pode esse pensamento resolver em algum tempo qualquer dos problemas que o próprio pensamento criou? Pode a mente, que criou os problemas, resolver as coisas que ela mesma produziu? …] –

 

XVIII – A Ilusão

24* Aqui me aterei somente a tripla inquirição: O que é a ilusão? Em que ela se fundamenta? E qual a origem da ilusão? Quantos de nós tem consciência de que estão enganando a si próprios?

 

25*  Antes de alcançarmos a compreensão do que seja e como se origina a ilusão?  Teremos que estarmos cônscios de que estamos enganando a nós mesmos? Sabemos que estamos nos enganando? O hindu ainda nos inquire! – […Que queremos com estas ilusões? …] – e segue, nos inquirindo, para nos situar de frente com a ilusão aqui abordada, que nada mais é que a nossa relação com o mundo espiritual e vivencial, sendo o tema extremamente complexo para as mentes habituadas a visão e ao paradigma ocidental científico/mecanicista. A coisa é complexa mesmo, embora sendo da mesma natureza a ilusão em pauta aqui nessa obra, não é a mesma ilusão ou “Maya” do hinduísmo, sempre vista com certas limitações pelos ocidentais, por mais cultos que sejam, (como disse), eles foram criados e educados dentro do paradigma concreto ocidental. Somente para facilitar a separação! Cito: A palavra sânscrita Maya significa nos textos indianos mais antigos, “sabedoria, poder extraordinário, arte, poder sobrenatural etc. Em textos mais recentes a palavra Maya adquiriu outros significados como os de; “ilusão, engano, imagem irreal e também imagem ilusória. Dentro do sistema Sa khya é ligada a natureza Prakti ou como dizem os hindus “Pradhana”, nesse sistema e no Vedanta é considerada como a fonte da maneira como vemos o nosso universo circundante. Portanto, a ilusão aqui abordada por Jiddu difere de “Maya” hinduista, mas, continua sendo uma ilusão, só que nos moldes ocidentais! No hinduísmo ela, “Maya”, é identificada com a deusa “Durga”.

 

26* Uma verdade daqui, dali, de agora e dantanho, sempre será uma verdade, a encontraremos onde formos, ela não muda, nem no espaço, nem no tempo, observe, que aqui só percebemos, observamos e vimos a mudança do paradigma do povo hindu e o efeito do diacronismo semântico nas línguas, (tema tratado anteriormente). Os filósofos, desde os primórdios, perceberam que a verdade seria uma entidade atemporal, universal e eterna.     

 

XX – Tempo e Transformação

27* O tempo é matriz de todas as transformações, podendo ser visto sob muitos ângulos e pontos de vista! No entanto, a dicotomia tempo/transformação é indissociável. Somente o tempo pode existir fora dessa dicotomia. Pois, a transformação só se processa dentro do tempo! Assim! O tempo é a própria matriz, e não um elemento como a transformação o é!

Todos os seres, que tomarem conhecimento do arrazoado acima, se, seres lógicos, concordarão plenamente com ele, no entanto, nas transformações dos próprios seres, Krishnamurti nos mostra outro caminho, onde a transformação do “Ser” independe do tempo. Ides ler esta beleza de proposição na obra, se a lerdes!

 

28* AGORA CHEGAMOS À SEGUNDA PARTE DA OBRA MEUS AMADOS LEITORES…

 

29*  Nesta segunda parte, as abordagens sobre o tema deste livro, que tem o título de: A Primeira e a Última Liberdade. O pensador Krishnamurti numa espécie de proto diálogo, onde põe em nossa boca uma pergunta! E ele então, elabora e nos fornece a resposta…

 

30* Interessante; o título desta obra “A Primeira e a Última Liberdade”, também, poder-se-ia ler assim:  A mais importante ação, e os resultados ou consequências das ações inteligentes dos “Sapiens” sobre seu existir.

 

31* Jiddu, seus críticos e apologistas estarão, (espero), completamente concordes com esta minha leitura do título do livro, Movér.

 

Capítulo 1 – Sobre a crise atual

32* Pergunta: Dizeis que a crise atual é sem precedentes. Em que sentido ela é excepcional?

 

33* Não é possível situar cronologicamente este capítulo da crise atual, a editora CULTRIX não sei porque, não data a edição do livro! Esquecimento, ou mau-caratismo? Para a edição não perder o poder de venda com o passar do tempo. Neste país se vê de tudo! E a coisa não começou agora (2017), bom! Jiddu se foi em 1986, portanto o capítulo sobre a crise atual é anterior a esta data. Portanto, qualquer assertiva contida nesta obra é no mínimo vintenal. Se Jiddu estivesse vivo hoje, em 2017 ele estaria estarrecido com o crescimento da crise, no entanto a abordagem que ele faria, hoje só diferiria quanto a maior dimensão da crise atual! Crescimento este, provocado por, entre outras mazelas, o terrorismo e inúmeras outras burrices do homem. À medida que o número de enchedores de latrinas aumenta! Parece que o homem instintivamente percebe a proximidade do CAOS, o desespero recrudesce, e a aproximação do mal se faz sentir, pois, a proximidade do fim faz rescender no ar o cheiro da morte! Fazendo a crise se alastrar por todos os países. Nunca o medo esteve tão difundido entre os povos.

 

34* Nos dias atuais as previsões dos videntes perderam todo o valor!  Todos os homens! Sábios ou tolos, presentem a instabilidade do futuro da sociedade instintivamente.

 

 

35* Neste capítulo, num texto curto, o hindu nos dá uma lição de sabedoria, razão e lógica, como nunca se viu numa obra de um pensador nos últimos 28 séculos. A crise que assola o mundo inteiro hoje, é várias vezes maior que a crise vista por Krishnamurti há mais de vinte anos. No último parágrafo deste excepcional capítulo sobre a crise, Krishnamurti nos faz ver o seguinte:

 

36* [… – O ponto a considerar é que, tratando-se de uma crise excepcional, faz-se necessária, para enfrentá-la, uma revolução no pensar; e esta revolução não pode realizar-se por meio de outra pessoa, de um livro, de uma organização. Ela tem que vir através de nós, cada um de nós. Só então poderemos criar uma nova sociedade, uma nova estrutura, longe de todo este horror, longe destas forças extraordinariamente destrutivas, que estão se acumulando, empilhando. E essa transformação se realizará quando vós, como indivíduo, começardes a conhecer-vos em cada pensamento, cada ação, cada sentimento…] –.

 

Capítulo 2 – Sobre o Nacionalismo

37* Pergunta: Que virá, quando desaparecer o nacionalismo?

38* Neste capítulo, Krishnamurti aborda com seriedade e sem rebuços o tema “nacionalismo”! Um dos grandes males da sociedade humana, e isto em todos os tempos da sua história escrita, e que tem levado milhões de humanos, à morte, durante milênios! Eu, particularmente, creio que o assunto é claro, mas, que seria melhor compreendido, da maneira como foi abordado pelo Krishnamurti, e sob sua perspectiva, infensa aos dogmatismos e crenças sociais dos povos! Aqui, só farei uma pequena transcrição do texto final, [… – O nacionalismo, com seu veneno, suas misérias e a luta que provoca no mundo, só desaparecerá quando houver inteligência, que não nasce do simples fato de passarmos em exames e estudarmos livros. A inteligência nasce quando compreendemos os problemas, à medida que surgem.  Quando há compreensão do problema, nos seus diferentes níveis, não só no aspecto exterior, mas também nos aspectos interiores, psicológicos, então, nesse processo, surge a inteligência. Assim quando houver inteligência, não haverá mais substituições; e quando houver inteligência desaparecerá o nacionalismo, o patriotismo, que é uma forma de estultícia…] – A maioria dos humanos, (a manada), não tiveram sua personalidade moldada para compreender o tema por este ângulo.

 

Capítulo 4 – Sobre o Conhecimento

39* A pergunta: Do que dizeis, concluo claramente que a cultura e o saber são empecilhos. Empecilhos a quê?

Será necessário somente umas poucas palavras do pensador para nos inteirarmos de suas razões! No início do texto ele nos diz: [… – Para a maioria de nós o saber e a cultura se tornaram uma paixão, e pensamos que o saber nos fará criadores. A mente que está abarrotada de fatos, de conhecimentos, será capaz de receber qualquer coisa nova, inesperada, espontânea? Se a vossa mente está repleta do conhecido, haverá espaço para receber alguma coisa procedente do desconhecido? Não há dúvida que o saber se refere sempre ao conhecido e com o conhecido tentamos compreender o desconhecido, essa coisa que ultrapassa todas as medidas…] –.

 

Capítulo 13 – O ódio

40* A pergunta: Para ser perfeitamente sincero, devo admitir que sinto ressentimento e, às vezes, ódio, contra quase todo o mundo. Isto me torna a vida muito infeliz e dolorosa. Compreendo intelectualmente que sou o ressentimento, o ódio; mas sou incapaz de reagir contra ele. Podeis indicar-me uma forma de proceder?

 

41* As análises dos sentimentos humanos, óbvio, serão sempre feitas por humanos! Aqui, como em todos os capítulos desta segunda parte do livro, teremos que levar em conta, claro, que as perguntas de cada capítulo nos foi proposta pelo hindu, como se fossem elaborados por nós os leitores, portanto, não podemos entender estas perguntas como se fossem feitas pelo pensador, mas sim! Que ele as elaborou como tivessem sido feitas por cada um dos leitores, para dar sentido ao que ele tinha escrito, ou ia escrever, sobre o tema de cada capítulo.  Assim, não as podemos tomar como se fossem, confissões, dúvidas, posturas, perspectivas ou mesmo um paradigmas do hindu! Ainda que algumas perguntas nos pareçam feitas pelo hindu, não as podemos tomar como tal. E não tomem estas explanações como uma defesa que faço do hindu! Impossível acusar o não acusável… Seria a mesma coisa que tentar salvar do perecer o imperecível.

 

42* O hindu nos faz ver com grande acerto e lógica, que o ódio é gerado nos humanos por um algo, por uma alguma coisa, esta coisa é identificada pelo pensador como sendo um sentimento que nos causa (perturbação), este sentimento nominado por ele de ressentimento, pode ser percebido e identificado por qualquer um “sapiens” de forma muito fácil. Observe o que sentis quando um pedinte vos aborda diretamente, ou somente vos estende a mão a pedir uns níqueis! O que sentis imediatamente? Comiseração, dó, pena, angústia pela situação do pedinte! Não! O que sentis é ressentimento! Isto, e somente isto, sejamos sinceros, e por que sentimos este ressentimentos? Ora! Meus irmãos de jornada nesta curta existência, o pedinte sem querer, diante de todos os presentes e de, e a nós mesmos, um pedinte a nos pedir, desnuda nossa mesquinhez como pessoas, (mesquinhas que somos), não há desculpas, mesmo as pessoas que despendem grandes somas ajudando entidades filantrópicas e aos amigos, nestes momentos são mesquinhas, qualquer coisa que faça cair nossa máscara! Nos perturba. Não somente neste caso, o desnudar da máscara gera o sentimento nominado de perturbação, que gera o ressentimento, este gera um sentimento danoso, em seus vários graus! O ódio, a raiva, e em seu grau mais elevado, a cólera, a ordem é essa! Perturbação, ressentimento, ódio, raiva, e cólera.

 

Capítulo 17 – A memória

43* A pergunta: A memória, dizeis, é experiência incompleta. Tenho lembranças e impressões muito vívidas de vossas palestras anteriores. Em que sentido isto é experiência incompleta? Tende a bondade de explicar esta ideia minuciosamente.

 

44* As memórias que Krishnamurti inteligentemente “separa” e denomina de memória de fatos, portanto fenomênica, e de memória psicológica, portanto nouménica. A moderna “neuropsicologia” as denominam de memória EXPLÍCITA, a de fatos, e de memória IMPLÍCITA a psicológica. Devido à complexidade do tema “memória”, julgo necessário somente recomendar aos leitores, atenção redobrada a este capítulo. O tema é muito interessante. Desde quando o “sapiens” não existiria sem sua memória! Isto é o bastante para tornar este capítulo extremamente interessante, dispensando comentários.  

  

Capítulo 21 – O sexo

45* A pergunta: Conhecemos o sexo como uma inelutável necessidade física e psicológica. E ele me parece ser a causa fundamental do caos, na vida privada da presente geração. Como podemos lidar com este problema?

 

46* A vasta complexidade/simplicidade de tudo que nos rodeia e faz parte da nossa vida, e que pudemos de forma muito imprecisa, até hoje, compreender e conhecer, não nos explica o porquê de que tudo que tocamos se torna um problema, a abordagem do hindu sobre isso, o problema e o sexo, é extremamente complexa, a questão central dos problemas da existência, inclusive os do sexo, tem origem em como tratamos nossa mente, e a maioria não vai entender o ponto de vista do hindu. Segundo ele: [… – O sexo se torna um problema sobremodo difícil e complexo porque não compreendeis a mente que pensa a respeito do problema -…]. Adiante ele completa nos dizendo: [… – Logo, o problema do sexo, que tortura tanta gente, no mundo inteiro, não será resolvido enquanto a mente não for compreendida – …]. daí! Adviria a dificuldade para, e de compreendermos os problemas do sexo, todos eles advindos da “não compreensão” da nossa mente. Daí ele completar a pergunta com esta inquirição: Como podemos lidar com este problema?

 

47* Encerraremos estes prolegômenos, com algumas palavras sobre o capítulo 36º

 

48* Num mundo, que considero feito de dúvidas! Nada mais natural e corriqueiro para se encontrar, seria um número muito grande de perguntas sem respostas, no entanto neste 36º capítulo o hindu de nascimento, mas, sendo cidadão do mundo por decisão própria! Dá a sua resposta…

 

49* Assim, a resposta de Krishnamurti à inquirição do capítulo 36 sobre o significado da vida, virá “in totum”. Eis aqui, “ipsis litteris” a sua transcrição:

 

Capítulo 36 – O significado da vida.

50* A pergunta: vivemos, mas não sabemos por quê. Para muitos de nós, a vida parece não ter significação. Podeis dizer-nos qual é a significação da vida?

 

 Krishnamurti:

51* Por que fazeis esta pergunta? Por que me pedis que vos diga qual é o significado da vida, a finalidade da vida? O que entendemos por vida? A vida tem significado, finalidade? Viver não é em si, a própria finalidade? Por que desejamos mais? Sentimo-nos tão insatisfeitos com a vida, nossa vida é tão vazia e insípida, é tão monótono fazer a mesma coisa sempre e sempre, que desejamos mais, desejamos algo que esteja acima das coisas que fazemos. Sendo nossa vida diária tão vazia, tão monótona, tão insignificante, tão enfadonha tão intoleravelmente estúpida, dizemos que a vida deve ter uma significação mais rica. Aí está por que fazeis esta pergunta. Por certo, o homem que vive em plenitude, o homem que vê as coisas como são e se contenta com o que tem, não é confuso, é esclarecido e, por conseguinte, não pergunta qual é a finalidade da vida. Para ele, o próprio viver é o começo e o fim. Nossa dificuldade resulta de que, ao percebermos quanto é vazia nossa vida, queremos dar-lhe uma finalidade e por ela lutar. Tal finalidade para a vida só pode ser um mero produto intelectual, sem realidade alguma. Quando a finalidade da vida é procurada pela mente estúpida, pela mente embotada, por um coração vazio, essa finalidade há de ser, também, vazia. Nosso objetivo, portanto, é de tornar a vida rica, não de dinheiro, etc., mas interiormente rica, o que em si nada tem de misterioso. Se dizeis que a finalidade da vida é ser feliz, que a finalidade da vida é achar a Deus, não há dúvida de que esse desejo de achar a Deus é uma fuga da vida, e vosso Deus apenas uma coisa conhecida. Só podemos encaminhar-nos para um objetivo que conhecemos; se construís uma escadaria para a coisa a que chamais Deus, essa coisa por certo não é Deus. A realidade só pode ser compreendida quando se vive, não quando se foge. Buscando uma finalidade para a vida, estais realmente fugindo e não sabeis o que é a vida. A vida é relações, a vida é ação, nas relações. Se não compreendo as relações, ou se vejo confusas as relações, procuro um significado mais rico. Por que são tão vazias nossas vidas? Por que estamos tão sós, tão frustrados? Porque nunca nos examinamos interiormente, para nos compreendermos. Nunca admitimos para nós mesmos que é só esta vida que conhecemos e que, por conseguinte. Ela precisa ser compreendida, plena e completamente. Preferimos fugir de nós mesmos e por isso buscamos a finalidade da vida, separadamente das relações. Se começarmos por compreender a ação, que são nossas relações com as pessoas, com a propriedade, com as crenças e as ideias, veremos que as relações trazem sua recompensa própria. Pode-se achar o amor, procurando-o? o amor não é cultivável. Só encontrareis o amor nas relações, e não fora das relações. Porque não temos amor, desejamos uma finalidade para a vida. Quando há amor, que é sua própria eternidade, não há mais a busca de Deus, porque o amor é Deus.

 

52* Porque as nossas mentes estão cheias de conhecimento técnico e de murmúrios supersticiosos, achamos vazias nossas vidas e buscamos uma finalidade fora de nós mesmos. Para encontrar a finalidade da vida, temos de transpor a porta de nós mesmos; consciente ou inconscientemente, evitamos enfrentar as coisas como são em si mesmas, e por isso queremos que Deus nos abra uma porta, que está além. A pergunta sobre qual é a finalidade da vida só pode ser feito pelos que não amam. O amor só pode ser encontrado na ação, que são as relações.

 

53* Com a transcrição, deste curto texto, pleno de verdades irretorquíveis e incontestáveis! Pasmo, quedo e mudo, eu me questiono e pergunto ao mundo!

De onde veio? E de que tamanho é a BURRICE que sapateia, domina, acicata, subjuga, escraviza e comanda soberanamente esta humanidade doentia?

 

Eis o que nos diz Krishnamurti sobre a humanidade.

 

 

Imagem de Jiddu Krishnamurti, já em idade avançada.

 

 

 

 

Edimilson Santos Silva Movér  

Camaçari-Bahia

18 de dezembro de 2017