Diga ‘Chocolate’ e leve sua propina, diz executivo

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Hilberto Mascarenhas

O executivo Hilberto Mascarenhas, chefão do Departamento de Propinas da Odebrecht, disse aos procuradores da força-tarefa do Ministério Público Federal que ‘Chocolate’ era a senha para políticos e gestores públicos pegarem valores ilícitos. “Chegava no local e dava a senha ‘chocolate’. Vim pegar meu ‘chocolate, é cem (mil)’. Dizia senha e dizia o valor.” Hilberto contou que o doleiro Álvaro Galliez Novis – suposto repassador de dinheiro ilícito do esquema do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB/RJ) – foi assaltado certa vez no Jockey Club do Rio. Os ladrões levaram entre R$ 7 milhões e R$ 8 milhões que estavam sob a guarda de Novis. O delator foi ouvido pelos procuradores da Lava Jato no dia 14 de dezembro, na sede da Procuradoria da República em Ribeirão Preto (SP). Segundo ele, o esquema ‘Chocolate’ migrava de endereço frequentemente. “No início existia um local que a área de operações estruturadas (setor de propinas da empreiteira) passava para o diretor de obras e este passava para o interessado final (para resgate da propina).” Depois, o lugar de entrega foi mudando. “Porque se fizer negócio desse no mesmo local você é assaltado todo dia. Funcionava principalmente em São Paulo e no Rio.” Hilberto disse que o esquema começou a dar problemas. “Uma pessoa, às vezes, não ia (pegar a propina) e aí sobrava o dinheiro lá. Aí tinha que passar gente lá, passava segurança guardando o dinheiro.” Sobre o episódio do doleiro Novis, o executivo contou. “Teve o assalto, ele perdeu 7, 8 milhões, teve que pagar, era meu tava na mão dele, tinha que dar conta. Ele disse que o dinheiro estava no Jockey Club do Rio, mas que não podia fazer nada porque estava sofrendo pressão. Se fizesse qualquer coisa de polícia, a filha deve estava correndo risco. Ia bancar. Cobrei dele metade de todas as comissões dele até conseguir pagar, levou dois ou três anos.” Depois que foi assaltado, Novis contratou uma transportadora de valores para manter sob guarda tanto dinheiro de propina. “Prá guardar o dinheiro que sobrava na mão dele. Gato escaldado”, disse o delator.

Estadão