Em entrevista ao site bahianoticia, Geddel faz uma análise contextual de sua campanha e do processo político na Bahia.


entrevista-293x300

Dentre as inúmeras questões apresentada na entrevista, o candidato ao governo da Bahia, Geddel Vieria Lima  destacou  e mostrou de forma bastante transparente seus pontos de vista em relação ao processo político da Bahia, com citações de inúmeras situações  e reflexões políticas. E ainda, apresentou proposições e soluções em que pretende colocar em prática, caso seja eleito gestor dos baianos.

” Se eu acreditasse só em pesquisa, talvez vocês tivessem entrevistando, quando forem cumprir o seu papel, como governador Paulo Souto e não Wagner, e talvez o prefeito de Salvador fosse Imbassahy ou ACM Neto e não João Henrique. Então, vamos deixar que as pessoas que lêem se manifestem. O povo sabe o que faz, na hora que faz. Não vamos imaginar que o povo é um bando de cordeiros a ser tocado por um pastor.”

“Houve, inquestionavelmente, esse afastamento político entre João e Geddel. Isso está patente, por exemplo, na situação da deputada Maria Luiza”

Por Evilásio Júnior e Gusmão Neto

Bahia Notícias – Recentemente ocorreram diversas polêmicas que envolveram a Prefeitura de Salvador, Ademi, Transcons e derrubada das barracas de praia. Até que pontos esses episódios podem prejudicar a sua campanha?

Geddel Vieira Lima – Eu acho que a ponto nenhum. Esta é uma responsabilidade do prefeito de Salvador, que é o gestor da cidade. Eu acho que as pessoas na vida pública desacostumaram a falar a verdade. Todos sabem que eu perdi há algum tempo, desde a eleição (2008), a posição de influenciar mais diretamente as políticas públicas de Salvador. Isso não é segredo de ninguém. Mas a vida é assim: tem ônus e bônus. Se tem ônus, apesar de eu não ter nenhuma ingerência nisso, paciência, há de se assumir.

BN – Em relação à campanha, também se percebe também que a imagem de João Henrique não tem sido utilizada na propaganda do PMDB. Isso é por uma questão de agenda ou um motivo estratégico?

GVL – Não é nem questão de agenda. É porque houve, inquestionavelmente, esse afastamento político entre João e Geddel. Isso está patente, por exemplo, na situação da deputada Maria Luiza (PSC, mulher do prefeito). Ou as pessoas que lêem o Bahia Notícias não sabem disso? Mas, se João Henrique em determinado momento quiser dar algum depoimento, não há nenhuma dificuldade. Eu não sou político que tenta enganar as pessoas. Acho que a sociedade da Bahia está absolutamente madura, pronta, para fazer as suas próprias avaliações dos fatos políticos. E eu os enfrento com clareza, com transparência, com nitidez. Eu não uso as palavras para tentar enganar as pessoas. Eu acho que a vida é como ela é. Você carrega ônus e tem bônus. E se eu tiver, nesse momento, que carregar ônus, carregarei com dignidade.

BN – Esse afastamento tem causado algum tipo de tensionamento dentro do partido?

GVL – Não. Em absoluto. É uma questão política que não envolve problemas de ordem pessoal.

BN – E a aproximação entre João Henrique e Jaques Wagner, que ficou a ponto de ser sacramentada como aliança oficial. O que o senhor tem a comentar sobre isso?

GVL – A gente viu isso de forma tão nítida, né? O governador fazendo charme para o prefeito, o prefeito aceitando o charme, os dois convivendo, e até surgiu muita especulação de que ele poderia deixar o PMDB para cair nos braços do governador. Teria sido uma boa oportunidade, talvez, para naquele momento o governador propor uma solução pública para as barracas de praia e para outros problemas da cidade de Salvador. Eu acho estranho que só agora, quando a comoção toma conta, o governador Wagner se mostre tão interessado nas causas de Salvador. Mas, enfim, a população tem discernimento para saber que quando ele tinha a chance de fazer não fez absolutamente nada. Eu fiz parceria real com Salvador.


“Reconheço no presidente da República o direito de manifestar suas preferências. Preferia que assim não fosse”

BN – Sobre a declaração do presidente Lula, que pediu voto para Jaques Wagner e disse que você não poderia reclamar, pois o teria aconselhado a não se candidatar. Como o senhor avalia a questão?

GVL – Eu não vi declaração de Lula. Eu vi uma frase atribuída ao presidente Lula. Conheço o presidente Lula e sei que aquela frase não é dele.

BN – Mas, na disputa pelo Senado, ele entrou de vez na campanha para pedir voto para Lídice e Pinheiro. Como está isso em relação ao candidato da sua chapa, o senador César Borges (PR)?

GVL – Aí só você perguntando ao PR. Em relação ao PMDB, de forma muito clara, eu quero te dizer o seguinte: reconheço no presidente da República o direito de manifestar suas preferências. Preferia que assim não fosse. Mas, de novo, a vida é como a vida é. Eu não tenho nenhuma crítica e nenhuma queixa ao presidente Lula, até porque, do berço, aprendi a cultivar o sentimento de lealdade. Sou grato ao presidente Lula por ter me dado a grata oportunidade de servir à minha pátria e ao meu estado, como ministro da Integração Nacional. E continuarei minha campanha falando com vocês que me lêem, vocês que acompanham o horário gratuito, apresentando propostas de quem tem a convicção de que pode realizar um governo melhor para a Bahia. O presidente Lula, para tristeza minha e tristeza de muitos baianos, não será mais o presidente da República a conviver com o próximo governador. E se o atual governador é tão amigo do presidente Lula, por que não tirou do papel já o Porto Sul, a Ferrovia Oeste-Leste, por que não resolveu a questão da orla marítima de Salvador, por que, como líder maior do Estado, não resolveu o problema dos barraqueiros? Não agora, quando o problema está na rua, mas lá atrás. Por que não resolveu o problema dos portos da Bahia durante todo esse período, por que não resolveu a questão da segurança pública, por que não melhorou a saúde pública? Ou será que vocês que lêem nesse momento estão verdadeiramente satisfeitos com o que estão vivendo nessas áreas? Será que vocês estão, efetivamente, convencidos pela propaganda enganosa do governo, de que o que eles dizem que fizeram foi feito? Eu acho que esse é o debate. No que diz respeito ao presidente Lula, meu apreço, meu carinho, meu respeito e minha gratidão também pelas referências que ele fez, permanentemente, à competência com que exerci o Ministério. Pelo trabalho que realizei. Isso ninguém me tira. Ninguém reescreve a história.

BN – Já que o senhor tocou nesse ponto, sobre a questão das barracas, onde estaria a responsabilidade do Estado?

GVL – Para quem se diz tão amigo do presidente, podia ter colocado o Estado como parceiro da Prefeitura para viabilizar, através de recursos, a requalificação da orla, para fazer investimentos, como foi feito, por exemplo, quando João Durval Carneiro era o governador. Qual foi o convênio firmado entre Estado e a Prefeitura de Salvador? Mesmo no primeiro período de João Henrique, quando o PT exercia funções relevantes no Município. Quando pessoas que hoje ocupam cargos de destaque no Governo do Estado, como o secretário Robinson (Almeida, Comunicação), era funcionário da Prefeitura. Por que não requalificaram a orla, não lutaram tanto para ajudar? E o segundo mandato, já como governador, por que não fizeram? Agora, esse discurso de agora de bater no prefeito, de aproveitar a onda criada de comoção, legítima comoção, é oportunismo político e eu não partilho de oportunismo político. Tenho divergências com o modo como foi feito, mas acho que é indigno eu expressar essas divergências agora.


“Não tem carta na manga. É conversar com a sociedade, é mostrar as propostas, mostrar que o atual governo não cumpriu com as coisas que prometeu em 2006”

BN – Em relação à campanha, o senhor tem ficado nas pesquisas com um índice em torno de 11%, qual seria a carta na manga que Geddel teria para promover uma virada?

GVL – Não tem carta na manga. É conversar com a sociedade, é mostrar as propostas, mostrar que o atual governo não cumpriu com as coisas que prometeu em 2006…ou fez? Ele disse que ia pagar o Bolsa Família complementar com recursos do Governo do Estado. Pagou? Ele disse que ia investir menos em propaganda e que o governo passado fazia uma coisinha aqui uma coisinha ali, e tome propaganda. Ele reduziu? Uma série de promessas, peças que foram feitas, que não saíram do papel. Eu vou mostrar isso, cada vez mais à sociedade e contrapor com o que fiz, na oportunidade que tive como ministro. Obras em Salvador, em que fui parceiro da prefeitura. Estão aí Canal do Imbuí, Canal da Aliança, 64 ruas no Subúrbio Ferroviário, Avenida Centenário, centenas de encostas, escadarias drenantes, obras de macrodrenagem, fim de alagamentos ali no Itaigara, enfim, são obras por todo o estado, mostrando que quando tive oportunidade, eu trabalhei pela Bahia. E acreditar no discernimento da sociedade, que eu acho que não quer ninguém com tanta hegemonia na política. Se eu acreditasse só em pesquisa, talvez vocês tivessem entrevistando, quando forem cumprir o seu papel, como governador Paulo Souto e não Wagner, e talvez o prefeito de Salvador fosse Imbassahy ou ACM Neto e não João Henrique. Então, vamos deixar que as pessoas que lêem se manifestem. O povo sabe o que faz, na hora que faz. Não vamos imaginar que o povo é um bando de cordeiros a ser tocado por um pastor.

BN – O PMDB tem comentado que a realidade pelo interior da Bahia não é a mesma que dizem as pesquisas, então, no seu entendimento, até que ponto as pesquisas dizem de fato a verdade?

GVL – Eu não discuto pesquisa, eu não desqualifico pesquisa. Eu acho que pesquisa é um instrumento importante que quem está na frente comemora e quem está atrás trabalha para virar. Eu digo é que meu sentimento de rua é extremamente positivo e que vamos aguardar a maturidade da população depois de examinar os programas eleitorais. Eu acho que você só começa a ter uma definição na segunda quinzena de setembro. Até lá, o povo estará analisando e olhando. O povo está assuntando.

BN – Qual é o principal problema que o senhor enxerga hoje na atual gestão e o que pretende fazer de diferente?

GVL – Saúde pública. Ao contrário do que diz a propaganda, eles não expandiram, por exemplo, o Programa de Saúde da Família (PSF). Teve um crescimento pífio, foram 6% apenas. O que eu pretendo fazer é negociar com o Tribunal de Contas, como foi feito no Paraná, viabilizar abertura na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) para entender que é preciso criar carreira de estado no SUS, fazendo concurso para os profissionais de saúde, de forma que eles possam ir para o interior viabilizar o PSF, em que 85% dos problemas podem ser resolvidos. Implantar, que o governo não implantou, salas de estabilização nos municípios, com respirador, ressuscitador, de forma que quem sofra ali um problema, por exemplo de coração, possa ser estabilizado ali até que o pré-hospitalar Samu possa transferi-lo para um hospital em que haja leito. Descentralizar e dar outro modelo à tal da regulação, que hoje é apenas um escolha entre quem vai viver e quem vai morrer. E entender que é importante construir hospitais, e nós propomos a construção de um hospital do câncer em Salvador, e de centro de tratamento do câncer, mas é sobretudo importante você dar resolutividade; fazer funcionar aquilo que existe. Parcerias com as filantrópicas, parcerias com as entidades privadas, de forma que não aconteça o que aconteceu. Você anuncia a construção de hospitais, mas quando você vai ao Data SUS, no Ministério da Saúde, você vê que houve redução de leitos. O que nós precisamos é gestão na saúde. É gerenciar melhor os leitos, descentralizar o atendimento. Quem me lê, quer é tratamento de qualidade: médico e remédio onde ele precisa, e não ir para o HGE ou para o Hospital Roberto Santos, ou para o Hospital de Santo Antônio de Jesus, e ficar esperando nos corredores.


Permanece uma política equivocada que vem do governo passado de entregar viaturas de polícias aos prefeitos para fazer a cooptação política”

BN – E a Segurança Pública?

GVL – Segurança Pública também é outro problema. Fala-se que este é um governo que trabalha para quem mais precisa, no entanto, na Barra você tem um policial para cada 250 habitantes, já no subúrbio é um policial para cada 2,8 mil habitantes. Não se construiu, ao longo de quatro anos, uma delegacia em Salvador. Não se qualificou as delegacias existentes. No Subúrbio Ferroviário, onde vivem mais de 700 mil baianos, só tem uma delegacia de polícia. Módulos fechados, desativados e depredados. O atual governo fala que foi que foi o que mais alugou viaturas, motocicletas e carros, mas em uma demonstração de gestão ineficiente, deixa 400 motos paradas, de 40 a 50 dias, ao sol e à chuva, por falta de emplacamento e motociclistas. Permanece uma política equivocada que vem do governo passado de entregar viaturas de polícias aos prefeitos para fazer a cooptação política e permite que as prefeituras, já quebradas, ainda tenham que arcar com custos de delegacia, com manutenção dos veículos e oferecimento de combustível. Esse é o diagnóstico.

BN – E qual seria a solução?

GVL – Qualificar o policial, implantar um programa habitacional no estado que privilegie também o funcionário público, sobretudo o policial. Promessa feita em 2006, mais uma, que não foi cumprida. Entender que viatura de polícia e aparelho policial quem tem que receber não é o prefeito. É a polícia que deve administrar. Implantar o programa de controle de entradas e saídas das divisas do estado, evitando o entra e sai livre dos bandidos. Ocupar, através de polícia comunitária, pacificadora, um exemplo que deu certo no Rio de Janeiro e outros estados, em virtude da queda nos índices de criminalidade, as áreas que a inteligência policial identifique como mais violentas. Enfim, são propostas claras e objetivas, apontando fontes de recurso e financiamento. E minha experiência mostra que eu sei tirar do papel. Sei cumprir prazos e estabelecer metas. É isso que eu ofereço à Bahia.

BN – E para a educação? A oposição critica que não foi construída nenhuma escola na atual gestão…

GVL – O atual governo tem um único projeto visível de educação que é o Topa. É uma mudança de nome de um projeto federal que é o Brasil Alfabetizado. Que visa alfabetizar jovens, adultos e idosos, que terá continuidade no nosso projeto. Mas a grande prioridade que o governo não deu na rapidez que nós queremos é o investimento na creche. Criar uma rede universalizante de creches, com a parceria da iniciativa privada, investir na pré-escola e no ensino fundamental, alavancar mais o estabelecimento de metas para o ensino profissionalizante, aproveitando as vocações regionais. Nossa meta é em quatro anos transformar 50% das vagas no ensino médio em ensino profissionalizante. É possível fazer isso. Eu aprendi a administrar com pressa com o presidente Lula, que sempre nas reuniões e nos telefonemas cobrava: “Geddel, rapidez. As coisas precisam sair do papel. Vamos fazer com pressa. O Brasil quer que as coisas aconteçam”. E ficava muito feliz quando eu dizia, presidente, a pressa deu resultado. Temos mais uma obra para inaugurar. Portanto, podemos faze sim mais pela educação no estado. Valorizar a universidade, trazer a ciência e tecnologia para uma prioridade efetiva dentro da universidade, com a parceria da iniciativa privada esse estado pode alavancar com mais rapidez o seu desenvolvimento.


“Busque a reeleição, mas não venha justificar a incapacidade de fazer em quatro anos como argumento para você ter mais quatro”

BN – Você promete fazer uma grande reforma administrativa no Estado. Como isso aconteceria?

GVL – Reduzir secretarias, dar outro protagonismo à Secretaria da Fazenda, criando duas subsecretarias. A Secretaria da Fazenda acabou sendo ideologizada. Ali sempre foi um centro gerador de inteligência, Temos que focar nos contribuintes que são responsáveis por grande parcela da arrecadação do nosso estado, fazer da ciência e tecnologia uma prioridade verdadeira, interiorizando os parques tecnológicos. Você veja que esse Parque Tecnológico de Salvador tem quatro anos. É uma construção apenas, não tem nem a definição de quem vai estar ali dentro, quem não vai estar. Quatro anos para construir um parque tecnológico. Quatro anos é muito tempo para as obras acontecerem. Sabe um exemplo que eu dou de estilo de gestão? O atual governador da Bahia, por quem eu tenho um respeito pessoal, era ministro da Articulação Política do primeiro governo do presidente Lula, e o presidente Lula quis fazer a obra de transposição do Rio São Francisco, e determinou que fosse feita. O bispo da Barra entrou em greve de fome. Foi designado o então ministro e hoje governador para ir lá fazer o diálogo e resolver o problema. Ele foi. Qual foi o resultado? Acabou a greve de fome, mas a obra parou. Não foi adiante, foi a contrapartida. Eu, ministro da Integração Nacional, e o presidente da República determinou que se fizesse a obra, que muitos consideravam que seria a minha sepultura política. Eu comecei a obra. Fizemos as licitações, as negociações ambientais, implantamos, chamamos os empresários, cobrando pressa. O mesmo bispo iniciou uma greve de fome. Nós fomos determinados pelo presidente para resolver o problema, abrimos diálogo e qual foi o resultado? A greve de fome acabou, mas um trecho da obra já vai ser inaugurada no final do ano pelo presidente da República. Isso é diferença de garra, de querer fazer, de entender que o diálogo é importante e que o entendimento é fundamental. Que a busca de posições consensuais engrandece o homem público, quando for necessária, quando atinge os interesses do nosso estado, da nossa população, que quer urgência nas realizações. Nós temos que ter coragem para fazer determinados enfrentamentos.

BN – Há um discurso na sua campanha de que quatro anos são suficientes para governar. O senhor acredita que nesse período conseguirá fazer as transformações que pretende fazer?

GVL – Quatro anos são suficientes para fazer. Não é questão de acreditar. Os exemplos estão aí. Quanto tempo tem o instituto da reeleição. Quantas reeleições nós tivemos? O Brasil foi construído assim. Juscelino Kubistchek ergueu Brasília em quatro anos. Na Bahia, Roberto Santos teve quatro anos e fez um governo excepcional. As grandes transformações que a Bahia sofreu ao longo do tempo foram feitas por governadores que governaram o nosso estado por quatro anos. Esse discurso de que quatro anos é pouco é discurso de quem quer reeleição. Busque a reeleição, mas não venha justificar a incapacidade de fazer em quatro anos como argumento para você ter mais quatro. Você pode até ter mais quatro, mas não porque quatro anos é pouco.

BN – Muita gente fala que o discurso do PMDB, de criticar o atual governo depois de romper com o PT, seria um ranço. Ocorre que além da gestão de Jaques Wagner que o PMDB critica, o outro adversário que está à sua frente nas pesquisas, Paulo Souto (DEM), governou por oito anos. Qual a crítica que o senhor faz à gestão de Souto? Há quem diga que há uma estratégia de parceria para evitar os ataques, já visando o segundo turno.

GVL – É preciso deixar bastante claro o seguinte: nós apoiamos a candidatura de Wagner em 2006. Agora, nós não fizemos um compromisso “até que a morte nos separe”. Se nós começamos a perceber que aquilo que se sonhou em 2006 não estava acontecendo, tanto no campo político quanto no campo administrativo. Demos contribuição no governo, mas quando achamos que esse caminho não estava mais certo, procuramos o governador de forma honesta e entregamos um documento apontando divergências que poderiam ser a base do diálogo. A opção foi dizer “não tive tempo de ler”. Apresentamos à sociedade outro caminho. Diferente da posição do PT com João Henrique. Participaram do primeiro governo todo. Em dezembro de 2007 fizeram uma tal de um repactuação, ocuparam mais espaço no governo, para em abril de 2008, seis meses antes da eleição, nos abandonar. Nossa divergência é político-administrativa. Eu não faço críticas de ordem pessoal ao senhor governador. Isso é como casamento. Você casa imaginado que a sua companheira ou o seu companheiro só tem qualidades e que o casamento vai ser “até que a morte os separe”. No meio da jornada, você descobre divergências que não havia antes. Você tem dois caminhos: ou vive na hipocrisia ou ousa e busca novas estradas para trilhar. Foi o que nós fizemos. Eu ousei. Saí do conforto. Saí do comodismo. Fui na contramão do que dizem que é a política brasileira, onde as pessoas trocam cargos e espaços por apoio.

BN – Mas há algum tipo de estratégia para evitar o confronto com Paulo Souto?

GVL – Nenhuma. Não tenho nenhum problema pessoal com Paulo Souto, mas meu campo é outro. Se eu apoiei em 2006 a candidatura de Wagner é porque não concordava com a gestão de Paulo Souto. Portanto, é livre se especular sobre tudo na política. Às vezes eu leio os jornais e morro de ri. São frases aspeadas que eu nunca disse, informações em off que eu nunca falei, bastidores de que eu nunca participei. Isso é da vida. Não vou sair desmentindo toda hora todo mundo, virando uma pessoa amargurada. Não há nenhum tipo de entendimento, de parceria, de diálogo, compromisso com a candidatura do Democratas.


“Cadê o resultado daquelas apurações? Já deviam ter ido para a Justiça”

BN – O senhor acredita que Jaques Wagner já está garantido no segundo turno com Geddel nesse confronto?

GVL- Eu acho que seria absolutamente desmerecedor da inteligência dos baianos não reconhecer que Jaques Wagner é o favorito para o segundo turno. O que eu não acredito, como eles querem fazer crer, é que a eleição está definida no primeiro turno. Esse mesmo erro cometeu Paulo Souto. Eu respeito muito a consciência e os votos das pessoas, e acho que as pessoas não querem uma eleição em primeiro turno. Querem ver um debate mais franco no segundo turno, dois candidatos confrontando posições. Com tempo, propostas e ideias brigando. Nisso eu aposto, é nisso que eu acredito e é isso que estou sentindo nas ruas.

BN – Sobre aquele episódio da Agerba, algumas pessoas do PMDB, inclusive o senhor mesmo, foram grampeadas, sob a acusação de cometer irregularidades no setor de transportes. O senhor se sente perseguido pelo Governo do Estado?

GVL – Não. Ali houve um claro movimento político, aliás eu estou até cobrando. Cadê o resultado daquelas apurações? Já deviam ter ido para a Justiça. O governador foi à televisão e disse que sabia disso e alertou supostos envolvimentos, mas não tomou providências. Ele prevaricou. Tomar providências depois que o PMDB deixou a administração? Eu não me sinto perseguido, aliás, eu já fui tão perseguido, tão investigado, tão examinado e minha vida já foi tão virada que eu tenho muita tranquilidade para fazer os enfrentamentos que tenho que fazer. O que eu acho é que onde houver denúncia, deve-se apurar, sem sensacionalismos, até para não se cometer injustiças. Veja, por exemplo, que o coordenador da campanha de Jaques Wagner (Luiz Caetano, prefeito de Camaçari) saiu da Bahia algemado (pela Operação Navalha na Carne da Polícia Federal) e depois a Justiça inocentou ao ponto de que, mesmo tendo sido algemado, virou coordenador da campanha de Wagner. Portanto, há de se ter cuidado quando se aponta o dedo para alguém para se fazer qualquer acusação.

BN – Caso o senhor seja eleito, qual será a marca do seu governo?

GVL – A marca de trazer as mulheres mais qualificadas e os homens mais competentes para enfrentar com garra, com vontade, com diálogo, com entendimento, mas com absoluta obstinação, os grandes problemas que a Bahia tem. Na infraestrutura, na saúde, na educação, na priorização agropecuária, na interiorização do nosso desenvolvimento. Eu tenho absoluta certeza, e digo isso sem nenhuma arrogância, que eleito estou experimentado para realizar o melhor governo que a Bahia já viu.