Procurador do caso Beto Richa vê ‘escala nacional’ de propinas das concessões de rodovias

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Procurador da República Diogo Castor de Mattos, da Operação Lava Jato

O procurador da República Diogo Castor de Mattos, da Operação Lava Jato, afirmou que ‘há uma possibilidade concreta’ de o esquema de corrupção sobre as rodovias do Paraná ‘se repita em outros Estados da Federação’. A Operação Integração II, fase 55 da Lava Jato, deflagrada nesta quarta, 26, prendeu Pepe Richa, irmão do ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB), candidato ao Senado, e altos executivos ligados a concessionárias de rodovias. A Lava Jato identificou dois esquemas paralelos de pagamentos de propinas envolvendo o DER do Paraná: um deles era intermediado pela Associação Brasileira de Concessões Rodoviárias (ABCR) e funcionava desde 1999 e outro de propinas mensais de 2% dos valores de cada contrato vigente com os fornecedores do DER, implementado no governo estadual, a partir de 2011. Os esquemas teriam girado R$ 55 milhões em pagamento de propinas. O Ministério Público Federal aponta que, para obtenção de dinheiro em espécie, as concessionárias de rodovias simulavam ou superfaturavam a prestação de serviços com empresas envolvidas no esquema. Entre os operadores financeiros que simulavam a prestação de serviços, segundo a Procuradoria, estavam Adir Assad e Rodrigo Tacla Duran, investigados na Lava Jato. Para o Grupo Triunfo, controlador da Econorte, Adir Assad faturou R$ 85 milhões em notas frias, sustenta o Ministério Público Federal. Já para o Grupo CCR, controlador da Rodonorte, foram produzidas notas frias que somaram R$ 45 milhões, aponta a investigação. “Foi identificado que alguns desses operadores financeiros, por exemplo, transacionaram com outras concessionárias de pedágio. Por exemplo, o sr Adir Assad tem mais ou menos R$ 45 milhões em transações com o Grupo CCR, que, salvo engano, é um dos maiores grupos de concessões rodoviárias do País, e ele tem concessões da Autoban, em São Paulo, salvo engano, e foram identificados pagamentos dessa concessionária em favor do sr Adir Assad. Mesma coisa do grupo Triunfo, que tem concessões no País inteiro. Foram identificados pagamentos para o sr Adir Assad, para o sr Rodrigo Tacla Duran, de outras concessionárias do grupo”, declarou Castor de Mattos. “Existe, sim, a possibilidade de se tratar de um esquema nacional, mesmo porque as empresas que têm concessões no Paraná, têm concessões no Brasil inteiro. Pela materialização dos pagamentos em favor de operadores financeiros, há uma possibilidade concreta que esse esquema se repita em outros estados da federação talvez com a mesma magnitude ou até com maior escala.” A investigação mira casos de corrupção ligados aos procedimentos de concessão de rodovias federais no Estado do Paraná que fazem parte do Anel da Integração do Paraná. Os alvos das medidas são as seis concessionárias que administram o Anel de Integração: Econorte, Ecovia, Ecocataratas, Rodonorte, Viapar e Caminhos do Paraná, além de intermediadores e agentes públicos supostamente corrompidos e beneficiários de propina. O ex-presidente do grupo CCR, Renato Valle, foi alvo de busca e apreensão. O executivo foi apontado pelo doleiro Adir Assad, delator da Lava Jato, ‘como interlocutor no tema de produção de recursos de caixa 2 em espécie para diversas empresas concessionárias do Grupo CCR’. O presidente do Conselho de Administração da Triunfo, Luiz Fernando Wolff Carvalho, foi alvo de mandado de prisão preventiva. Foram expedidos mandados de prisão temporária contra o diretor superintendente da Ecovia e da Ecocataratas, Evandro Couto Vianna, o diretor presidente da Viapar José Camilo Teixeira Carvalho, o ex-presidente da Rodonorte José Alberto Moraes Rego de Souza Moita e o diretor presidente da Caminhos do Paraná José Julião Terbai Junior.

Estadão