Sob suspeita de ligação com criminoso, secretário nacional de Justiça resiste no cargo

Tuma Jr. se rebela e sai… de férias
Abismo

Isolado no governo e até mesmo pelo ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, o secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Jr., resistiu à pressão do Palácio do Planalto e ganhou oxigênio para se defender das denúncias de envolvimento com o chinês Li Kwok Kwen, o Paulo Li — preso por contrabando pela Polícia Federal, em São Paulo — sem deixar o cargo.
Ontem, Tuma Jr. pediu férias de 30 dias, após repetidas tentativas do ministro da Justiça de convencê-lo a sair do posto, pelo menos temporariamente. À tarde, ele decidiu tirar férias de apenas dez dias. Depois, entregou um pedido de 15 dias, e só à noite concordou em tirar as férias completas.
— Vou pegar um sol… Volto quando estiver moreninho — ironizou.
Tuma Jr. disse ao ministro que não cometeu irregularidade ou imoralidade, apesar das conversas gravadas pela Polícia Federal, nas quais ele aparece supostamente pedindo favores, como a compra de telefones celulares e videogames, e recebendo pedidos, como uma ajuda para acelerar um processo de anistia política.
O secretário nacional de Justiça comanda ações de repatriamento de dinheiro remetido ilegalmente ao exterior, de regularização de estrangeiros e de controle de organizações não-governamentais.
Na madrugada de ontem, depois de receber orientações do presidente Lula, o ministro da Justiça pediu a Tuma Jr. que deixasse o cargo. Foi uma longa conversa. Mas o auxiliar não aceitou.
Uma nova alternativa foi desenhada pelo governo: uma licença de 30 dias para esfriar o caso e permitir o avanço das investigações. Se nenhuma irregularidade fosse comprovada, Tuma Jr. poderia voltar ao posto. A proposta não só foi refutada pelo secretário como ele se rebelou contra a orientação do superior.
— Não tem essa história de licença. Eu jamais vou pedir licença! Isso não existe. Vou tirar férias para me defender da investigação da Comissão de Ética -—- disse ao GLOBO, referindo-se ao procedimento preliminar de apuração, instaurado pela Comissão de Ética Pública, órgão consultivo da Presidência que pode recomendar até mesmo a exoneração de um servidor por falta ética.
A intenção de Tuma Jr. era tirar férias por apenas dez dias. No entanto, após nova reunião com o ministro da Justiça, ontem à tarde, ficou combinado que ele ficaria afastado do governo por 15 dias. Ao GLOBO, Tuma Jr. disse que sofre pressão de organizações criminosas e de integrantes do governo para deixar a função.
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De Roberto Maltchik: