O Edifício Liberdade, que desabou na noite de quarta-feira (25) no centro do Rio, foi construído com a técnica do concreto armado — a mais usada nas edificações brasileiras – segundo engenheiros ouvidos pelo G1.
O desmoronamento destruiu dois prédios vizinhos. Até a manhã deste sábado (28), foram encontrados 17 corpos.
Segundo Paulo Fernando Neves Rodrigues, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o prédio Liberdade foi erguido há cerca de 70 anos empregando a técnica do concreto armado para sustentação – a mais utilizada nas edificações brasileiras.
“Nela se utiliza concreto e armações de aço (vigas) já prontas, que ficam dentro do concreto”, disse o especialista.
Sustentação
De acordo com Paulo de Mattos Pimenta, professor-titular do Departamento de Estruturas e Geotécnica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), os pilares (elementos verticais neste tipo de construção) são essenciais para a sustentação de obras desse tipo.
“Esse prédio já devia ter problemas estruturais, mas ninguém nunca apontou nenhum defeito. (…) Normalmente, as paredes são elementos de vedação, mas quando há problemas estruturais, elas ajudam na sustentação”, afirma.
Pimenta diz que há duas explicações para a queda dos outros prédios, os edifícios 13 de maio e Colombo. “Ou o prédio mais alto tombou na vertical, sobre as construções menores, o que indicaria um problema estrutural, ou os escombros foram se espalhando e acumulando sobre os demais imóveis, causando a demolição”, complementou.
derrubados em foto de 2009 feita do 33º andar de
um prédio vizinho (Foto: João Carlos Caribe/G1)
Segundo Rodrigues, da UFRJ, a manutenção em prédios antigos deve ser realizada em períodos curtos, de cinco em cinco anos. “Mas muitos síndicos fecham os olhos para isso e realizam pequenas obras, como pinturas da fachada, para esconder essas pequenas alterações, que podem ser prejudiciais”, afirma.
Alvenaria e metais
Os outros dois edifícios, segundo análise de Rodrigues, eram de alvenaria estrutural, técnica de agrupamento de blocos, sem uso de aço, empregada nas construções mais antigas.
Este tipo de sustentação é mais encontrado em prédios residenciais de até 13 andares, principalmente em construções populares. “Esses prédios não aguentam muita flexão e tremores. Ele tem menor resistência e estabilidade do que aquelas construções de concreto armado”.
Outro método de sustentação bastante empregado no país, principalmente em prédios comerciais, são as estruturas metálicas, com a junção de grandes vigas de ferro, sem uso de concreto.
Fiscalização
De acordo com Manoel Lapa, vice-presidente do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, as estruturas de concreto armado, como as do Edifício Liberdade, são feitas para durar décadas, assim como ocorre em cidades como Londres e Paris, onde, segundo Lapa, há edifícios construídos com o mesmo estilo que estão “em pé” há mais de 200 anos.
“O problema são as modificações feitas sem acompanhamento de fiscais públicos. Tem que haver mais participação da prefeitura, que hoje não é obrigada a conceder licenças para obras de modificação interna”, complementa.
De acordo com o Plano Diretor municipal da capital fluminense, apenas obras que impliquem acréscimo de área e alterações das áreas comuns das edificações passam pelo crivo da prefeitura, que precisa emitir licença.
Ainda segundo a legislação, a responsabilidade pelos projetos deve ser “exclusivamente” dos profissionais que o assinarem, que deverão “adotar técnicas preventivas e de controle para segurança dos imóveis vizinhos, respondendo civil e criminalmente sobre eventuais danos causados a terceiros”.
De acordo com a Defesa Civil, a hipótese mais provável para o desabamento é a de que uma obra, no nono andar do edifício Liberdade, tenha afetado a estrutura do prédio. A reforma teria ocorrido em um dos andares da empresa TO – Tecnologia Organizacional, que também teria outra obra, no terceiro piso.
Na quinta-feira (26), um representante do Crea disse que considerava as obras ilegais por não ter registro delas (saiba mais). Na sexta (27), um dos sócios da TO – Tecnologia Organizacional negou que a obra tenha tido influência na queda do edifício (saiba mais).
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