Carnaval nas esquinas das vidas “latejando” ilusões
A alegria de encomenda não pode ser comparada a felicidade – Alain Bottom
Já lá se vão anos, o monge Dalai Lama recitou sobre a interdependência dos fatos no mundo: precisamos alcançar a objetividade imanente da realidade. A temática deste artigo, de novo, se revolve nos incessantes descaminhos políticos e culturais da democracia brasileira. Entretanto, haverá uma solução de continuidade do cotidiano nos próximos dias porque uma folia momesca decantada como a exaltação da alegria nacional, expressara´ a prevalência do hedonismo. Alias, é uma sina dos carnavais cada ano ser melhor do que aquele que passou nas calles e nas mídias cooptadas pelo deus-mercado. Contudo, o cotidiano brasileiro e as suas mazelas socioeconômicas cuidarão de resgatar ao mundo real, na quarta de cinzas, os corpos desvelados em fantasias e as mentes inebriadas.
De certo os privilegiados dos camarotes reservados ainda vivenciam os carnavais deslumbrantes, se esbaldando com bailes prive e artísticos trios-elétricos, empolgados no êxtase particular porco-chauvinista. O ato de olhar suplementado pelo voyeurismo sobre o burlesco será superado pelo ato de resignificar ou desejar, reflete Bottom. Entretanto, fora dos salões e blocos elitizados estarão os pierrôs ordinários do povo, trânsfugas trôpegos distanciadas pelas cordas virtuais dos iluminados carros musicais. Baianos et caterva transnacionais, frenéticos e sedentos da efêmera alegria, lúdica ou adquirida, dançarão galvanizados pelas massas abduzidas. Os milhares de saltitantes desmascarados hão de pular carnavalizados in extremis, debalde as prementes desigualdades sociais e seus odores alcoolizados. A vida não tem valor intrínseco mas é mantida pela pulsão instintiva, pelas ilusões, delata Shoppenhauer.
Estou convencido de que o festival mais popular do país está previsto esteticamente, conformado aos ditames empresariais e as prescrições monopolistas das TVs. As pessoas comuns serão passivas na festança musical com seus ídolos em palcos intocáveis. “Tanto riso, tanta alegria, mais de mil palhaços no salão…”, cantarolava o poeta para as classes baixas e medias se esbaldarem entre serpentinas, confetes e lança-perfumes nas praças e avenidas do Brasil varonil. Quisera as discrepâncias fossem harmonizadas pelas instituições públicas: oportunidade para os rádios e as TVs da Educadora e da UFBA superarem o anacronismo da extensão cultural nesta área, incrementando os clubes, as entidades carnavalescas suburbanas na capital e no interior. Esta iniciativa no carnaval da Bahia seria o salto qualitativo dionisíaco mas democrático. Enfim, resta-nos a embriaguez dos desejos incontidos e libertários da folia pagã. Agora tudo é carnaval!
Marcos Luna medico escritor pós-graduado na Harvard University – UFBA
E-mail: [email protected]
Este artigo também foi publicado na edição de hoje do jornal A Tarde. 15/02/2023
Dr. Marcos Luna, é Conquistense e atua profissionalmente em Salvador. Periodicamente vem a Vitória da Conquista – e ministra curso de especialização médica para profissionais da área, e concomitantemente estar estruturando e preparando profissionais para a futura Instalação da Faculdade de Medina da Santa Casa de Misericórdia de Vitória da Conquista.
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