A imprensa noticiou, amplamente, um fato estarrecedor: um pai e um filho foram espancados por um grupo de pessoas em uma feira agropecuária, no interior de São Paulo. O grupo se aproximou e ficou incomodado com o fato de dois homens estarem abraçados. Cena que eles consideraram esdrúxula, afinal, abraço é algo realmente estranho.
Indignados, quiseram saber se se tratavam de homossexuais. O pai esclareceu que não. Foram embora, mas, desconfiados da veracidade dessa afirmação, voltaram e começaram a agressão. Abraço de pai é gesto que agride. Que história é essa de pai sair por aí abraçando filho?!
Fico imaginando a criação desses jovens agressores, os valores ou a ausência deles, os traumas, os olhares míopes sobre a vida. Aprender a conviver é um dos elementos fundantes da humanidade. Não conseguimos nos desenvolver individualmente. É no grupo, no convívio com as diferenças, que mulher e homem evoluem.
O direito de ser diferente faz parte da nossa constituição humana e o respeito a esse princípio reside na nossa constituição legal. A violência é a ausência dessa compreensão. Nada justifica ações dessa natureza. Contra nenhum grupo. Os cidadãos têm direito de escolher a sua religião, seu partido político, seu time de futebol etc. E merecem ter suas escolhas acatadas.
A intolerância humana tem sido propulsora da violência que se instaura no caos urbano. Por isso a organização das cidades é tão importante quanto as políticas de segurança pública. Uma cidade com pouca iluminação, suja, com terrenos abandonados, com poucos espaços de lazer, acaba sendo um terreno fértil para a proliferação da violência. Assim acontece com o ser humano. Pessoas sombrias, sujas, com sentimentos abandonados se tornam seres perigosos para a sociedade.
Um abraço de pai deveria ser celebrado e não repudiado. Triste sociedade em que as emoções precisam ser escondidas. Dia desses, assisti a um vídeo em que um cachorro no meio de uma rua tentava, com sua patinha, acordar um cachorro morto, vitima de atropelamento. Gesto afetivo. Se a moda pega no mundo canino, os outros cães bem poderiam espancar aquele cachorro, por ser carinhoso demais.
Como disse Guimarães Rosa, Se todo animal inspira ternura, o que houve, então, com os homens?
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