VÓ
SANTA
Uma parteira tradicional de nome Santa,
que morava numa cidade pequena, onde não havia médico e necessitando de um
tratamento de saúde só era possível nas grandes cidades ou na capital.
Quando uma mulher ia “despachar”,
contava com o apoio das mais experientes que a auxiliavam no trabalho de parto.
Santa era uma delas e terminou tomando gosto pelo ofício se fazendo presente a
todas as parturições que ocorriam no lugar. Diante desse conhecimento prático e
de sua disposição, passou a ser chamada para todos os procedimentos dessa
natureza.
A fama de Santa tornou-se um
referencial e ela passou a ser requisitada em toda a região. Era reverenciada
como uma pessoa de “boa mão”, pois nenhum rebento que “aparava” e nenhuma
parturiente tiveram problemas, ainda que não houvesse certos cuidados de
higiene e/ou falta de conhecimentos científicos para esses casos. Quando
ocorria algum problema, era resolvido com mezinhas. Tratamentos caseiros sempre
deram bons resultados, pois além de parteira se utilizava, também, de raízes e
plantas para os tratamentos necessários.
Com a modernização, surgiram os
hospitais e os obstetras ocuparam o lugar das parteiras leigas, pessoas que
faziam as vezes de médico, porém sem os conhecimentos técnicos científicos para
o exercício da função. Ocorre que apesar de toda a parafernália de
instrumentos, vacinas antitetânicas à disposição dos médicos e dos laboratórios
que os auxiliavam no diagnóstico, há mortes tanto dos nascituros como da
puérpera. Diga-se de passagem, que os parteiros optam pelo parto cesáreo em
detrimento do parto natural por conveniência própria ou desejo da parturiente.
Segundo
declarações do secretário de saúde de Brumado Cláudio Feres o município ganhará
uma Casa de Parto Normal que será construída no terreno do Hospital Magalhães
Neto. O programa do governo Federal Rede Cegonha tem como escopo humanizar o
parto sem as intervenções cesáreas. Será dada assistência ao parto e à gestante
até o nascimento do rebento e supervisionados por enfermeiros obstetras sem a
necessária presença do médico, por ser considerado um ato fisiológico e não
patológico. Que seja bem-vinda com os agradecimentos da comunidade.
A parteira Santa se vangloriava: nenhum
recém-nascido e nenhuma mulher sob os seus cuidados morreram durante o parto ou
mesmo após. Já em idade provecta a parteira passou a ser chamada de “Vó Santa”.
Uma quantidade enorme de crianças passou por suas mãos, sem registro de nenhum
problema. Todos a tratavam por “Vó Santa” e a tinham como avó biológica,
tomando-lhe a bênção em respeito e consideração.
Por falta de recursos econômicos, além de não
terem conhecimento de seus direitos disponibilizados pelos órgãos de saúde,
fazem com que as parturientes pobres, especialmente da zona rural e dos lugares
que não dispõem de serviços médicos, procurem uma mulher não médica, em
detrimento dos hospitais, para lhes auxiliarem nesses atendimentos e,
certamente, não cobram pelos serviços executados.
Há
de se registrar a importância das parteiras leigas, experiências colocadas a
serviço da saúde, salvando vidas e levando solidariedade e palavra de incentivo
às paridas.
Eu
e meus irmãos, todos, passamos pelas mãos de parteiras práticas e como tantos outros
nada de mal nos aconteceram. Registre-se que embora houvesse o chamado mal de
sete dias ou tétano umbilical por falta de higienização e a devida vacinação
correta, esse fato ocorria mais na zona rural ou em camadas pobres e
desinformadas.
Em
época de antanho era praxe a mulher parida se recolher num quarto onde imperava
a penumbra e ficava de resguardo por trinta dias tomando apenas banho de asseio
e comendo pirão de galinha, o chamado pirão de parida, e fornecia às “comadres”
visitantes a famosa temperada, que por efeito etílico se comentava coisas do
arco da velha, e, só Deus sabe o que ocorria nas conversas pecaminosas entre
elas.
Há um propósito do Conselho Nacional
de Saúde – CNS de se formarem
parteiras com o conhecimento técnico profissional para o exercício da
profissão, sem a necessidade da presença do obstetra, a não ser em casos
necessários de assistência médica. Esse é um procedimento legal que deve ter o
acolhimento dos especialistas, inclusive, para os atendimentos domiciliares da
gravidez de baixo risco, onde a mulher se sinta mais à vontade e cujo risco
tanto em casa quanto no hospital é o mesmo, uma opção de muitas mulheres que
preferem parir no aconchego do lar, sem o medo e o estresse que provocam o
hospital e, que está em moda atualmente. Tudo depende da autorização médica.
O que está ocorrendo é que muitas
mulheres estão morrendo ou sendo humilhadas, por falta de atendimento nos
hospitais, especializados ou não, por falta de vagas ou de médicos, sob a
alegação de não ter meios pecuniários para tanto. Se houvesse a figura da
enfermeira parteira disponível, esse procedimento poderia ser feito na
residência da parturiente, desafogando os hospitais. Tudo é uma questão de bom
senso e a vontade de servir as pessoas com dignidade e respeito, pois a vida
deve estar em primeiro lugar, independentemente da condição da pessoa. Cabe ao
Estado tomar as iniciativas através dos órgãos competentes.
O humanitarismo deve prevalecer. A
profissão de curar a saúde do paciente está nas mãos dos médicos e essa é uma
profissão de abnegados. Há os que se formam por vocação e os que se formam
visando ficar rico. A diferença está ai. Daí se concluir que há os bons e os
maus profissionais. Os que cuidam por profissionalismo solidário e os que cuidam
visando apenas o dinheiro. É verdade que ninguém trabalha de graça, mas
caridade é altruísmo. Muitas vezes o profissional deixa de cobrar a consulta de
um aquinhoado, por conveniência social, e, esfola o despossuído.
Respeitar a vida humana qualquer que
seja a condição da pessoa, o primeiro ato é socorrê-la e dar-lhe atenção, isso
é dever e obrigação de todos, especialmente de quem se incumbe dessa missão,
estabelecido por Hipócrates, considerado “pai da medicina”, com a seguinte
sentença final do seu juramento: “Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me
seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre
entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça”.
Aqui em Brumado a
parteira prática VÓ CONGONHA que acudiu muitas mulheres em trabalho de parto e
aparou dezenas ou centenas de crianças foi, por merecimento de seu trabalho,
porquanto na época não existia obstetra, homenageada com um logradouro da
cidade, nominando-o de VÓ CONGONHA.
Ester Trindade Serra,
rio-contense radicada em Brumado, inteligência aguçada, dentre muitas
atividades desempenhadas exerceu também a de parteira prática.
O Dia Internacional da Parteira, no dia 05 de maio, foi
instituído pela Organização Mundial da Saúde em 1991, para salientar a
importância do trabalho das parteiras em todo o mundo. Em diversos países, o
Dia Internacional da Parteira tem sido comemorado por diversas organizações
ligadas à defesa dos direitos das mulheres.
Espero que as
instituições responsáveis por esse trabalho digno e corajoso dessas mulheres
que se dispõem a cuidar das gestantes sejam regulamentadas com a
disponibilização da formação científica da situação, dando a elas o mínimo de
conhecimento do assunto, suprindo dessa forma as deficiências do sistema de
saúde que está a desejar um atendimento regular e universal como era de se
esperar.
Antonio Novais Torres
Brumado em 02/10/2011.
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