A Justiça de Minas Gerais inicia hoje o julgamento do goleiro Bruno Fernandes de Souza, pela morte de Eliza Samudio, com a investigação do crime ainda incompleta. Também será julgada sua ex-mulher, Dayanne Souza.A última semana de concentração do goleiro Bruno Fernandes de Souza para o que é o momento mais importante do que qualquer final de campeonato que já tenha enfrentado foi marcada pelo surgimento de fatos que podem ser decisivos no seu julgamento pela morte de Eliza Samudio. Como o Estado de Minas revelou, um novo inquérito apura o envolvimento de um policial civil (Gilson Costa) e de um policial aposentado (José Lauriano de Assis Filho, o Zezé) no caso. Com a confissão do ex-braço direito do goleiro Luiz Henrique Romão, o Macarrão, condenado a 15 anos de prisão, e a certidão de óbito da vítima agora anexada ao processo, a defesa do atleta lançou mão de uma última jogada para tentar anular o documento que atesta a morte da vítima. Independentemente do resultado da apelação, porém, os defensores vão a campo tentando mostrar que Bruno não foi o mandante do crime. Como preparação, os advogados já instruíram o comportamento do réu diante da juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues. Desta vez, o primo do atleta, Jorge Luiz Lisboa Rosa, que revelou toda a trama à polícia e cumpriu medida socioeducativa por sua participação no caso, também participa do júri, como informante.
A promotoria de Contagem, avaliam especialistas, vai explorar o depoimento de Macarrão, que acusou Bruno em novembro. Ao costurar uma história de interesses, contradições e morte, o promotor Henry Wagner Vasconcelos deve tentar mostrar aos jurados que o ex-jogador conseguiu atrair Eliza até Minas Gerais. Em trocas de e-mails com amigos, ela já havia dito que viajar com o goleiro seria uma passagem sem volta. Em 2009, Eliza foi à imprensa contar que Bruno a tinha agredido, obrigando-a a ingerir uma substância abortiva, crimes pelo qual ele foi condenado no Rio de Janeiro. Quando o desaparecimento veio à tona, Bruno chegou a dizer que estava há dois ou três meses sem falar com Eliza, logo após um treino no Flamengo.
A defesa, por sua vez, trabalhará para desqualificar as investigações e jogar a culpa nas costas de Macarrão, que carrega uma tatuagem em homenagem ao goleiro e, como secretário de Bruno, sempre resolveu suas pendências. De acordo com o professor de processo penal da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil no estado (OAB-MG) Leonardo Bandeira, cabe à promotoria provar as acusações. Ele diz que basta à defesa levantar uma dúvida entre os jurados para conseguir uma sentença favorável. O advogado espera um confronto duro entre as partes e não considera o atestado de óbito de Eliza um pré-julgamento. A confissão de Macarrão, segundo ele, também não será determinante.
“O depoimento dele deve ser visto com reserva, porque um réu, para se defender, acusa o outro, mas é claro que o promotor vai explorar isso”, diz o professor. “Também acho que os novos fatos, se já constam no processo, podem ser trabalhados no tribunal, mas uma investigação complementar (representada pelo novo inquérito envolvendo um policial da ativa e outro aposentado) pode mostrar a fragilidade de um trabalho anterior, que não teria sido feito como deveria”, argumenta. Para ele, os relatos de Jorge Luiz Rosa, menor à época do crime – que há uma semana deu entrevista apontando Macarrão como mandante do crime, mas também complicou Bruno, ao dizer que ele não poderia ignorar o que estava ocorrendo – devem ser analisados com reserva, porque ele será ouvido na condição de informante. “Ele não tem o peso de uma testemunha, porque não tem compromisso com a verdade. Ele se envolveu no caso, foi julgado e punido por isso.”(UAI)
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