O legado de ACM nos dá muito orgulho. Ele sempre defendeu a Bahia
Osvaldo Lyra – Editor de Política
O deputado federal José Carlos Aleluia (DEM) aceitou, na última semana, a difícil missão de disputar o Senado na chapa do ex-governador Paulo Souto. Tentando mostrar otimismo, ele fala da chance (remota, segundo as últimas pesquisas eleitorais) do democrata vencer a eleição no primeiro turno. Na visão de Aleluia, o governo Wagner pode ser avaliado como “morno” que “anda em passos muito lentos”. Para ele, o ex-ministro Geddel Vieira Lima, do PMDB, não representa ameaça na disputa ao Palácio de Ondina.
“A população vai avaliar os dois (Wagner e Geddel) da mesma forma, pois eles estiveram juntos por um longo tempo”. Nesta entrevista concedida à Tribuna da Bahia, Aleluia se apega no legado deixado pelo ex-senador Antonio Carlos Magalhães e diz ter condições de renovar “as forças da voz da Bahia no Senado Federal, que sofre hoje com a falta da voz firme do senador ACM”. O democrata negou ainda que a candidatura do DEM-PSDB baiano esteja enfrentado dificuldades para decolar.
Já sobre a possibilidade de barrar a influência do presidente Lula na campanha, o deputado diz que o presidente não será candidato e que as pessoas vão priorizar a bagagem, a capacidade de realização dos candidatos.
Já sobre a candidata Dilma Rousseff, do PT, Aleluia diz que ela é “uma invenção, uma criação artificial. Apenas um produto do marketing”, que não consegue sequer partir para o debate. Cumprindo o quinto mandato e há 16 anos se mantendo entre os parlamentares mais influentes do Congresso, de acordo com o Diap, Aleluia vê o desafio com otimismo.
Tribuna da Bahia – Primeiro especulado para vice de Serra. Agora é o candidato ao Senado de Souto. O que o senhor agrega à chapa DEM-PSDB?
José Carlos Aleluia – A chapa é encabeçada pelo ex-governador Paulo Souto (DEM), que já exerceu o cargo por dois mandatos, tendo sua história pública sempre respeitada e bem avaliada pelos baianos. Há o ex-governador e ex-prefeito de Guanambi, Nilo Coelho (PSDB), e o ex-prefeito de Feira de Santana, José Ronaldo, muito bem avaliados também. Eu sou deputado federal, tive uma vida extensa como diretor da Coelba, como presidente da maior empresa pública do Nordeste, a Chesf, onde pude prestar muitos serviços ao estado. Conclui a construção da Usina de Itaparica, fiz uma parte grande da Usina de Xingó. Estou cumprindo o meu quinto mandato e há 16 anos estou entre os mais bem avaliados e influentes do Congresso, de acordo com o Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar).
TB – Mas o que mais pesou na escolha para o Senado?
Aleluia – A capacidade de articulação contou bastante. Sempre fui uma pessoa que conversa com todos do meu partido, tenho uma relação boa com outros partidos também. Tanto é que fui líder do DEM na Câmara e fui líder da oposição. Pesou ainda o fato de entender que uma das funções do congressista é fiscalizar o governo, não só dizer amém. Aquilo não é uma igreja para se rezar e dizer amém, é uma Casa parlamentar para se criticar. Eu critico e elogio o que acho certo. Várias vezes eu votei com o governo. Quando está certo, subo na tribuna e defendo. Entendo que o Brasil pode muito mais e não farei uma campanha diferente do que sou. E sou um defensor intransigente do meu estado, daqueles que represento. Inclusive, acredito que tenho condições de renovar as forças da voz da Bahia no Senado da República, que sofre hoje com a falta da voz firme do senador Antonio Carlos Magalhães, que foi um grande homem público.
TB – De onde partiu a indicação do seu nome para compor a chapa?
Aleluia – Meu nome surgiu de forma consensual, com o apoio de todos que integram o Democratas e o PSDB. Tanto é que o senador ACM Júnior, que é um grande senador, homem experiente, professor universitário, não podendo concorrer à reeleição, embora sendo muito bem avaliado, concordou em ser o primeiro suplente da chapa. A minha candidatura veio para fechar uma chapa que é muito boa e competitiva.
TB – Sua candidatura a deputado federal estava aparentemente garantida. Não é um risco alto demais a tentativa ao Senado, já que estamos diante de um cenário novo, com tantos candidatos fortes?
Aleluia – Eu sou otimista. Acho que a Bahia vai avaliar com muita serenidade, e vamos ter os programas eleitorais para apresentar as propostas de cada um. Os baianos vão escolher quem melhor for representá-los. Não existe essa história de eleição tranquila para ninguém. Todos os candidatos vão apresentar o seu perfil, a sua visão de futuro da Bahia e do Brasil. Tenho convicção da minha capacidade de defender o meu estado. Eu já disse e vou repetir: uma das coisas que não se pode aceitar de um senador é que ele seja eleito e chegue a Brasília para ficar do lado do partido, quando este estiver em conflito com os interesses do seu estado. Se meu partido tiver qualquer conflito com a Bahia, eu ficarei com o estado da Bahia. Acho que sou uma opção para que o estado volte a desfrutar de uma posição de liderança do Nordeste, de respeito, em toda a Federação.
TB – Qual a chance de Paulo Souto ir para o segundo turno, e, se for, com quem?
Aleluia – E se tiver segundo turno, porque nós podemos ganhar no primeiro turno tal a aceitação da nossa chapa. Tenho certeza que Paulo Souto estará em primeiro lugar e, provavelmente, o outro concorrente será o atual governador Jaques Wagner.
TB – Como o senhor avalia o governo Jaques Wagner?
Aleluia – É um governo morno, que não tem o senso da urgência do que a sociedade pede. É um governo que anda em passos muito lentos. É um governo que, embora tivesse uma aliança com o presidente da República, não desfrutou disso. Deixou Pernambuco chegar primeiro, deixou o Ceará chegar primeiro. Até a ponte que liga Juazeiro a Petrolina foi duplicada do lado de Pernambuco e não do lado da Bahia. Tanto que alguns a chamam de ponte “picolé”, ficou o sorvete do lado de lá e o palito do lado da Bahia. O governo perdeu todas as disputas. Agora, por exemplo, está sendo estudada a construção de uma hidrelétrica em Riacho Seco, no município de Curaçá, que faz fronteira com Pernambuco, e os pernambucanos estão discutindo, avaliando qual o ganho com os impostos. Pernambuco tem atraído tudo e a Bahia tem perdido todas as apostas. O estado não se desloca, não procura e não apresenta projetos. Portanto, é um governo morno, são quatro anos sem resultados. Eu ando pelo estado todo e só o que vejo são propagandas, e um governo não pode viver só de peças publicitárias.
TB – O ex-ministro Geddel Vieira Lima chega a representar alguma ameaça?
Aleluia – O ex-ministro Geddel continua com Wagner, pois eles são do mesmo governo. O povo vai avaliar os dois da mesma forma, estiveram juntos por longo tempo. O Geddel foi responsável por setores importantes da gestão estadual, como a infraestrutura, e também não tem realizações significativas na Bahia. Portanto, a disputa deve ficar entre Paulo Souto, que ficará em primeiro lugar ou ganhará no segundo turno, e Jaques Wagner.
TB – Qual será o diferencial da majoritária DEM/PSDB? O que vocês vão levar para as ruas este ano para convencer o eleitorado?
Aleluia – A capacidade para realizar o futuro, para combater a violência, para dar saúde pública para quase a totalidade da população. Precisamos ter capacidade para dar escola pública de qualidade, de oferecer serviços públicos com dignidade tanto para quem usa o serviço quanto para quem o presta, o servidor, que foi um aliado na eleição do governador e hoje é adversário, porque foi enganado.
TB – Há a sensação de que a candidatura do DEM-PSDB baiano não foi colocada efetivamente na rua, que falta articulação e, principalmente, empenho. O senhor concorda com essa tese?
Aleluia – Não concordo. Não colocamos a campanha na rua porque cumprimos a lei. No desfile de 2 de Julho, por exemplo, qualquer pessoa pôde observar. A lei não permite a propaganda de partidos políticos, no entanto, o governo usou todo o dinheiro público para fazer propaganda, e alguns partidos chegaram a fazer camisetas, balões com os nomes dos partidos. Nós não fizemos isto porque não é permitido pela lei. Isto é outra característica da nossa chapa, cumprimos a lei, faremos com que as leis sejam respeitadas, não roubar e não deixar roubar.
TB – E o capital político do ex-senador Antonio Carlos Magalhães, quem vai herdar?
Aleluia – O senador ACM está na nossa chapa, está representado pelo seu filho, ACM Júnior, e nós dizemos isto com muito orgulho, nós o queríamos como candidato ao Senado. Aliás, este foi um dos motivos que nos fez não decidir antes. Ele é qualificado, tem história e tem amor à Bahia, ele demonstrou tudo isso ao aceitar ser suplente. Então, o legado de ACM nos dá muito orgulho, pois ele sempre defendeu a Bahia, colocou o estado sempre em primeiro lugar. Evidentemente que tudo na vida tem que ser repaginado, tem que ser redesenhado, mas não se abandona o que deu certo.
TB – Muitos dizem que o carlismo acabou com a morte do senador ACM. O que teve saldo positivo e negativo do período em que a Bahia viveu sob sua liderança?
Aleluia – O saldo é extremamente positivo, tanto que as pessoas percebem que houve uma parada, por isso que o governo Wagner é tido como um governo morno. Um governo que pretende resolver tudo com a politicagem acabou esquecendo de engrenar. Um governo que aparelhou com os políticos e com os aliados partidários toda a maquina pública, desprestigiou o servidor público e desorganizou a máquina. Nós temos uma história distinta, de respeito ao funcionário, de respeito à hierarquia do servidor público, de respeito ao funcionário de carreira. Eu fui funcionário de carreira na Coelba, no tempo em que era estatal, e progredi sem nenhuma ligação política da minha família. Fui professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) por concurso. Esta é a Bahia que nós queremos. A Bahia em que todos os baianos tenham oportunidades, não é a Bahia em que é preciso se filiar a um partido para poder ter oportunidade.
TB – Falando sobre sucessão presidencial. Ficou alguma aresta entre o DEM e o PSDB após a escolha de Índio da Costa para vice de Serra?
Aleluia – A escolha de Índio da Costa foi extremamente feliz, sobretudo porque ele representa a juventude. No dia seguinte à sua indicação, ele criou uma frase, que considero de impacto. Ele, como jovem, disse que iria pintar o rosto quando elegesse Serra presidente. Então só ele, daquela idade, poderia dizer aquilo, daquele jeito.
TB – Mas o senhor não nutria expectativa de ser vice de Serra, sendo preterido pelo deputado carioca?
Aleluia – Eu resolvi ser senador antes da escolha. Nunca fui formalmente convidado e nunca fiz campanha para isto. Estava à disposição do partido, como estava para ser candidato ao Senado, totalmente desprendido. Tanto é que só agora lançamos o nome para o Senado. Vou trabalhar para Serra, acho que é importante a eleição de Serra e Souto, acho fundamental para a Bahia e para o Brasil. Precisamos mudar a realidade pela qual nosso estado e nosso país passam hoje.
TB – A campanha será muito apertada no plano nacional. Será que vai ser possível barrar a influência de Lula na campanha na Bahia?
Aleluia – O presidente Lula não é candidato. Existem candidatos que quando são conhecidos crescem nas pesquisas e outros que caem. É muito comum candidatos começarem lá em cima e, quando as pessoas descobrem quem efetivamente são, imediatamente despencam. Eu não tenho dúvidas de que quando as pessoas conhecerem melhor as propostas e as credenciais, que é a capacidade demonstrada de José Serra, ele vá crescer e vencer a eleição. Quando começarem a olhar a história de Dilma, vão ver que ela, enquanto candidata oficial do governo, não tem história política. Claro que foi feita uma maquiagem por marqueteiros, mas ela não se sustenta, tanto é que ela está fugindo dos debates como o diabo foge da cruz.
TB – Como é que o senhor define Dilma Rousseff?
Aleluia – Como uma invenção, uma criação artificial. Apenas um produto do marketing, tanto é que ela não consegue debater. Numa democracia, não se imagina que quem está em uma disputa eleitoral fuja dos debates, e ela está fugindo do enfrentamento direto com o Serra.
TB – Qual a perspectiva para esta campanha na Bahia?
Aleluia – Esperamos uma campanha limpa, onde sejam discutidas ideias para o futuro do estado, respondendo aos anseios da sociedade. Porque o povo quer educação e educação para emprego, o povo quer desenvolvimento, quer a presença do estado no interior. Quer a interiorização do governo. A Bahia é muito maior que só a região metropolitana. É preciso levar o governo ao Extremo Sul, ao Oeste, ao Norte, ao Nordeste. É preciso que o governo participe do Recôncavo, que saia de Salvador, tem que descentralizar as ações. O povo vai olhar quem é que pode lhe servir melhor, quem é que não cumpriu as promessas feitas há quatro anos, e que hoje não tem nada a apresentar.
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