Artigo: Estão matando o forró/ Por Nunes

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Benjamin NUNES Pereira*
No São João fui convidado pelo amigo e colega Dr. Armando Gonçalves, grande causídico, defensor dos pobres e oprimidos desta cidade, para degustar um dos melhores licores de Vitória da Conquista, feito pela sua tataravó, quando aqui chegou com João Gonçalves. Papo vai, papo vem, ele me pediu que escrevesse um artigo em defesa do Forró, porque, em sua opinião, estão matando a mais bonita tradição nordestina, sem que as pessoas se deem conta disso. Sou forçado a concordar com o amigo a perceber que as  novas gerações estão assimilando ritmos e composições musicais impostas pela mídia como se fossem forró. Aceitei a missão por entender que o forró é patrimônio do sertanejo e, como disse Euclides da Cunha, “o sertanejo é antes de tudo um forte”, por isso a defesa de nossas tradições é uma obrigação de todos.

O forró tem uma característica muito importante que é a cultura popular, genuinamente original e livre ou tão somente um elemento da cultura brasileira que foi modificado e habilmente manipulado pela indústria cultural para que se constitua num modismo e possa vender mais bens culturais e render mais lucro aos investidores empresariais. Como são interessantes os caminhos que o ritmo e a dança atravessam desde sua origem até a atualidade, objetivando entender o presente do forró através do complexo passado do mesmo.

História
O forró assim como o samba, possui as mesmas raízes, ou seja, ambos se originaram da mistura de influências africanas e europeias. “Na música nordestina, um toque indígena, uma pitada europeia, um tempero africano; é só degustar…” já citava um dos especialistas no assunto. O batuque – dança de roda com que os africanos mostravam a sua cultura – foi o tronco principal no que diz respeito à formação da música popular no Brasil. Dele surgiram diversas variações que se espalharam tanto em áreas urbanas quanto rurais sob vários nomes e estilos próprios conforme a região do país.

O forró como gênero musical pode ser considerado o filho do Baião. O nome do Forró era usado só para designar o local onde aconteciam os bailes e só mais tarde foi caracterizado como estilo musical, derivado do Baião. Muitos ainda confundem Baião e Forró, e para ser mais exato, não apenas esses dois gêneros (que são os mais próximos), mas muitos outros existentes na musica nordestina. Essa grande variedade de gêneros musicais se dá devido às influências variadas, à mistura de um estilo com outro, fazendo com que os próprios músicos a chamem de “música nortista”.

A diferença básica apontada por todos os músicos quando indagados sobre a diferença entre o Baião e o Forró é que a batida do Baião é mais “quadrada”, ou seja, tem menos balanço que o Forró, que também pela introdução da guitarra, e mesmo da bateria na sua orquestração, possibilitou que a música se “mexesse” mais. Um dos motivos que Dominguinhos expressa como empecilho, para que hoje não esteja se tocando Baião, é justamente o fato das pessoas não saberem o que é Baião e o que é Forró. É justamente aí que está a perda da memória, ou seja, as pessoas perderam o referencial.

Origem da palavra
A origem da palavra forró é controversa. Há uma versão mais popular de sua origem, a de que o nome viria dos dizeres “For All” (em inglês “para todos”). Com a inauguração da primeira estrada de ferro no interior de Pernambuco pela companhia inglesa Great Western, foi feito um baile (ao som da sanfona e zabumba) para comemoração do acontecimento, promovido pela própria empresa, que convidava todos por meio dos dizeres na entrada “for all” (para todos). A partir daí então, passariam a chamar os seus bailes populares de Forró. Esta versão foi reforçada quando o cantor e compositor Geraldo Azevedo fez a canção “For All – O Trampolim da vitória”, em 1988.

A segunda versão é dada pelo historiador e pesquisador da cultura popular Luis da Câmara Cascudo, que diz que a origem é o termo africano “forrobodó”, que significa festa, bagunça. Assim então eram chamados os bailes comuns frequentados pelo povo e, com o tempo, por ser mais fácil pronunciar, acabou se tornando, simplesmente, “forró”. A razão de os historiadores, em sua maioria, confirmarem esta versão é o fato de que desde o século 17 já se falava em forrobodó, bem antes dos ingleses construírem suas malhas ferroviárias. Porém, como o poder de persuasão do rádio e da televisão é bem maior que o dos livros, as pessoas tendem a acreditar na primeira versão.

O que mais se constatou durante a pesquisa sobre a etimologia da palavra Forró, é que as pessoas conhecem Forró, como a palavra vinda mesmo de “for all”. Isso mais uma vez reforça a influência que os meios de comunicação de massa têm sobre as pessoas de um modo geral.

Os ritmos que surgiram com a criação do forró

O baião, o xote, o xaxado, o coco, o vanerão, as quadrilhas juninas.
Atualmente o forró está sofrendo alterações em relação ao seu perfil original com o surgimento de novos grupos musicais e o sucesso que está fazendo entre jovens. “A maioria destes grupos se formou após a febre da lambada, e a música que eles fazem é chamada de lamba forró ou oxentemusic. A dança também se modificou assimilando passos da lambada (principalmente os giros)” afirma Dominguinhos. Diz, ainda, “que da mesma forma que o pagode ressuscitou sambistas antigos, como Martinho da Vila e Paulinho da Viola, os novos grupos de forró estão ajudando a divulgar o ritmo e suscitar interesse nos velhos mestres, como ele e Gonzagão”.

Podemos concluir, portanto, que o forró é um caldeirão de culturas de várias épocas e regiões que vai se modificando e se adaptando a cada geração, mas sem perder a sua verdadeira autenticidade.

A música “nordestina” no Sudeste

Desde o inicio do século XX, e com mais força na segunda metade da década de 50, percebemos a presença da música nordestina no Sul do país. Os Forrós (casa de dança) no Sul e Sudeste surgiram entre 1955 e 60, no auge da migração de nordestinos para São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, a procura de trabalho.
Nas horas vagas (lazer), esses trabalhadores – vindos dos mais variados pontos do Nordeste – reuniam-se nas construções com outros nordestinos para cantar e tocar. Era, portanto, uma manifestação cultural que representava a nostalgia, a saudade e o saudosismo dos migrantes por sua terra de origem, além de uma forma de válvula de escape para indivíduos presentes num ambiente hostil e muitas vezes miserável.

Representantes do Forró

A popularização do ritmo se deu mesmo a partir da década de 40 com Luiz Gonzaga, pernambucano que foi para o Rio de Janeiro e gravou inúmeras músicas, que falavam do cotidiano nordestino. A música nordestina de Luiz Gonzaga sofreu preconceito no início. O diretor artístico da Rádio Nacional não o deixava sequer usar o chapéu de couro e a roupa de cangaceiro que fariam parte de seu visual durante toda a carreira no futuro. Porém, mais ou menos como vem acontecendo hoje em São Paulo e em outros centros, o FORRÓ foi conquistando o grande público, deixando de ser só uma música para saudosos migrantes nordestinos ou pessoas de classe social inferior. E o modo poético como Gonzagão cantava sua vivência dura de sertanejo, as tristezas e as doçuras da vida nordestina tão esquecida pelo resto do Brasil foi entrando lentamente no coração de todo o país.

Outra figura chave no Forró foi o paraibano Jackson do Pandeiro. Este é considerado maior ritmista da história da música popular brasileira e, ao lado de Luiz Gonzaga, o responsável pela nacionalização de canções nascidas entre o povo nordestino. A história de sua carreira artística reforça a herança da influência negra na música nordestina – por meio do ritmo de cocos originários de Alagoas que lhe permitiram sempre com o auxilio luxuoso de um pandeiro na mão se adaptar aos sincopados sambas cariocas e a música de carnaval em geral. Dono de um recurso vocal único, ele conseguia dividir seus vocais como nenhum outro cantor na musica popular brasileira. Seu maior mérito foi ter levado toda a riqueza dos cantadores de feira livre do Nordeste para o rádio e televisão, enfim, para a indústria cultural. Grandes nomes da MPB lhe devotam admiração e já gravaram seus sucessos.

Dança, música e instrumentos musicais

A coreografia do Forró não é de passos determinados, ela consiste basicamente no improviso dos movimentos. Isto também se aplica às letras das músicas, onde a marca principal é o improviso dos cantores, inspirados nas circunstâncias.

Na dança, formam-se pares, homens com mulheres. Estes pares podem a vir ou não a se desfazer durante o desenrolar da festa, não existe uma norma para a formação do par, ficando de livre escolha, podendo muitas vezes na falta de com quem dançar, pode-se dançar com crianças, sozinho ou mulher com outra mulher.
A quantidade de músicos pode variar bastante; são predominantemente em número de três, os chamados Trios de Forró (sanfona, triângulo e zabumba), mas ocasionalmente este número pode cair para dois ou até mesmo um. Os instrumentos são basicamente: sanfona, triângulo, zabumba, podendo ainda fazer parte a rabeca, pandeiro e agogô.

Conclusão

O que se percebe é que hoje algumas duplas, trios e bandas não são formadas no intuito de fazer musica, e sim, ganhar dinheiro. As bandas de Forró possuem um apelo regionalista revestido de embalagem pop e deturpado que vêm alcançando o sucesso por meio de formas populares já assentadas em nossa cultura por intermédio da mídia.
O mais importante divulgador do forró foi o músico Luiz Gonzaga, pernambucano de Exu, sertão nordestino. Luiz Gonzaga morreu em 1989, mas deixou imortalizado o forró, assim como o Baião. Na definição de Gonzaga, forró é baile de ponta de rua, dentro da zona boêmia, de letra provocante e geralmente insultuosa, contando proezas e valentias. A primeira gravação em disco, cujo título evidenciava a palavra Forró, como local de dança foi em 1949, por Luiz Gonzaga, que gravou o Baião intitulado “Forró de Mané Vito”, dele em parceria com Zé Dantas, que mostravam muitas das características dos forrós.  E por falar em forró, o dia 13 de dezembro é o dia que se homenageia o forró, por ser o dia do nascimento do grande forrozeiro Luiz Gonzaga, que se vivo fosse estaria completando nesse ano de 2015, 103 anos.

*Benjamin Nunes Pereira é membro da Academia Conquistense de Letras e Casa da Cultura, Licenciado em História pela UESB de Vitória da Conquista Bahia. Com pós-graduação em programação e orçamento público, pela UFBA, pós- graduação em Antropologia com ênfase na cultura afro-brasileira pela UESB e Bacharel em Direito.
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