por Valdir Barbosa
Foto: R. Ferraz
Os pássaros habitantes das árvores, algumas seculares, na Praça do Campo Grande, onde hoje moro começam sua dança matutina entoando ópera impar e circulam pela varanda grande, ao lado do quarto em que durmo, antes mesmo dos primeiros raios de sol colorirem o céu. Seus gorjeios não me acordam em definitivo incorporando restos de sonhos, nos quais me ponho mergulhado, de repente, beijo doce da não menos doce mulher amada me faz desperto, a despeito de continuar envolto nos devaneios, até porque, seu balbuciar aos meus ouvidos sussurra: “acorda quarentão”!
As sinapses se completam fazendo com que entenda a mensagem, justo hoje, completo quarenta anos de polícia, exatamente em 23 de Janeiro de 1976 assumi meu primeiro e único emprego, a cidade de Itapetinga me recebia, no então, como Delegado de Polícia, aos 23 anos de idade. Meu caçula convocado por ela se incorpora à singela, mas, emocionante homenagem que recebo dos meus mais próximos nestes tempos, Duque, o novo residente da casa roí meu calcanhar, enquanto me pondo de pé miro a Capela do Colégio Antônio Vieira fincada ao longe, canto onde forjei os saberes capazes de fazer com que chegasse aonde estou.
Percebi a mensagem cósmica, a vida me fez um rei, portanto, meu séquito composto da rainha, príncipe e duque cuidam de me render tributos nesta data jamais imaginada poder ser realidade finalizada, quando tudo começou. Volvi meu pensamento ao palco onde fui recebido no tempo de antanho, cidade pujante, rainha da pecuária baiana, canto onde a economia da época fazia da terra uma referência.
Poderia citar tantos quantos me acolheram e foram responsáveis por fazer do caminho começado ali, uma estrada de vitorias, porém, com certeza pecaria ao olvidar este ou aquele personagem significativo, portanto, não os nomino. O tempo voou, coisas boas e momentos de tormenta passaram, como tudo passa, todavia, a chancela da esperança fez morada em mim e tudo de bom continuará sendo parte do meu destino, as dificuldades sempre serão experiências capazes de me fazer vacinado contra vírus dos desencantos, frente aos quais, por isto, sou imunizado.
Dia destes, Roberta, o anjo responsável por me despertar neste sábado, entre parabéns, falou algo sobre o qual tenho meditado amiúde. Consoante seu pensar, certas pessoas entendem ser privilegiadas imaginando a sorte lhes tenha feito detentoras de cargos importantes, destes do tipo ao qual fui bafejado e outros tantos galgados por muitos homens públicos da atualidade, nas mais distintas esferas.
Dizia-me. Não são bafejados pela sorte! A Organização lhes deu oportunidade de resgatar erros antigos, de refazer caminhos mal trilhados, não lhes caiu às mãos um prêmio, receberam a oportunidade de cumprir árdua missão, então pude refletir, em face de ditas assertivas, dentre outras tantas vindas do seu raciocínio que me tem feito admirado. Não somos almas puras, não somos mais honestos que ninguém, porém carece tentar e continuar tentando fazer da melhor forma, afinal, um dia não será possível mentir.
por Valdir Barbosa
ESte artigo foi publicado no Bahia Noticias – um bom testo literário
* Valdir Gomes Barbosa é ex-delegado-chefe da Polícia Civil e assessor do Tribunal de Contas do Estado (TCE)
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