A pandemia da Covid-19 aumentou o problema da fome no Brasil. Isso é o que revela o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, publicado nesta semana pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan).
De acordo com o levantamento, nos últimos meses do ano passado 19 milhões de brasileiros passaram fome e mais da metade dos domicílios no Brasil sofreu com algum grau de insegurança alimentar. Na Bahia, apesar de não haver dados recentes sobre a situação da fome, representantes de instituições que atuam no âmbito social, têm sentido o impacto da pandemia.
Segundo a responsável pelo Dispensário de Santana, em Feira de Santana, no Portal do Sertão, a realidade não é das melhores. Irmã Rosa atua há 38 anos com amparo social a pessoas em situação de pobreza, e conta que desde março do ano passado, mês de início da pandemia, a busca por comida aumentou. “Nunca tinha presenciado algo do tipo. Sempre tivemos pessoas aqui batendo à porta e buscando alimentos, mas nunca foi da forma que está. Temos um porteiro que faz a ronda de madrugada e nos contou que as pessoas começaram a chegar às três da manhã em busca de alimento. Se não fossem pessoas necessitadas, não se expunham a isso”, revelou.
Ainda de acordo com a irmã, desde o início da pandemia, pelo menos 1.300 foram cadastradas para receber até duas cestas básicas por mês.
De acordo com a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS), os dados mais recentes refletem a realidade do ano de 2015, quando o estado figurava com 8,6% da população em situação de pobreza, o que equivalia 1,224 milhão de pessoas. Já aquelas que viviam em extrema pobreza eram 657 mil pessoas, o equivalente a 4,4% da população do estado.
Para efeito de comparação, em 2002, o estado tinha 23% da população em situação de pobreza (3,117 milhões) e 12,6% em situação de extrema pobreza (1,709 milhão). Os dados divulgados pela pasta mostram ainda que, em 2017, a capital Salvador tinha 6,2% da população em situação de extrema pobreza (185 mil). Historicamente, as regiões com os maiores níveis de extrema pobreza e insegurança alimentar são as populações periféricas das grandes cidades e das regiões do semiárido baiano.
O secretário Carlos Martins, à frente da SJDHDS, vê a situação da pandemia no estado com preocupação. “Esses dados mostram a extrema gravidade do que é a pandemia em relação à segurança alimentar. Mais de 119 milhões de brasileiros tiveram algum tipo de dificuldade de se alimentar durante esse período. É algo muito preocupante e aqui na Bahia não deixamos de ter um paradoxo. Apesar de ser a maior economia do Nordeste, é também o estado com o maior número de pessoas que vivem na pobreza e extrema pobreza. Aqui temos quase um milhão e 800 mil pessoas que recebem o Bolsa Família”, revelou.
Apesar da ausência de dados atualizados sobre a insegurança alimentar, números revelados pela SJDHDS indicam um aumento significativo na demanda de participantes no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do governo do estado. Em 2020, o PAA foi responsável pela distribuição de 4,9 milhões de quilos de alimentos e 5,5 milhões de litros de leite. Mais de 213 mil famílias foram beneficiadas por alguma das duas modalidades do PAA. O investimento, que chega a R$ 27 milhões, é fruto de convênio com o Ministério da Cidadania e conta com contrapartida do Governo do Estado.
Já em 2019, ano que antecedeu a pandemia da Covid-19, o PAA foi responsável pelo fornecimento de 1.500.000 de quilos de alimentos e 5.224.535 de litros de leite. “A demanda aumentou no período da pandemia. Isso por que temos uma demanda reprimida, ou seja, mesmo sem a pandemia já tínhamos pessoas em situação de fome que não conseguíamos atender, a segunda coisa é que com a pandemia as pessoas ficam desempregadas passaram necessidade e consequentemente aumentou a demanda da fome no Estado”, explicou Carlos Martins.
No Brasil, conforme divulgou a Agência Brasil, com base no levantamento da Rede Penssan, 55,2% dos lares brasileiros, ou o correspondente a 116,8 milhões de pessoas, conviveram com algum grau de insegurança alimentar no final de 2020 e 9% deles vivenciaram insegurança alimentar grave, isto é, passaram fome, nos três meses anteriores ao período de coleta, feita em dezembro de 2020, em 2.180 domicílios. por Vitor Castro
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