Lula e Zelenski ‘quebram o gelo’ em reunião sobre paz e reforma do Conselho de Segurança

 

Após desencontros, o presidente Lula (PT) se reuniu com o ucraniano Volodimir Zelenski nesta quarta em Nova York (EUA) às margens da Assembleia-Geral das Nações Unidas. O brasileiro reforçou sua posição de que o país estará presente em todos os esforços que levem à paz na Guerra da Ucrânia.

Além do conflito, os mandatários também conversaram sobre outros interesses comuns, como a reforma do sistema de governança global, especialmente do Conselho de Segurança da ONU.

A reunião, realizada no hotel em que Lula está hospedado, começou por volta das 17h (horário de Brasília) e terminou pouco depois das 18h. Diferentemente de todos os outros líderes com quem o petista se encontrou, que tinham que passar pelo lobby, o ucraniano conseguiu subir sem ser visto.

O ministro das Relações Exteriores ucraniano, Dmitro Kuleba, afirmou que o encontro entre os presidentes foi uma “quebra de gelo”. “Não que existisse gelo entre nossos países, mas a conversa foi muito calorosa e eu acho que os dois presidentes entendem muito melhor as posições um do outro do que entendiam antes”, disse.

O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira, afirmou que Lula e Zelenski tiveram uma “longa discussão em um ambiente tranquilo e amigável”. “Não acho que houvesse declarações desencontradas”, disse o ministro sobre o histórico turbulento entre os dois chefes de governo.

Questionado se Lula vai agora se encontrar com Putin, dada a posição de neutralidade do Brasil no conflito, Vieira disse não ter dúvidas de que os dois presidentes se encontrarão se houver essa possibilidade. O ministro tem uma reunião com seu homólogo russo, Serguei Lavrov, nesta quinta (21).

Falando brevemente com jornalistas após o encontro entre os dois presidentes, Kuleba chamou por engano Lula de Putin ao falar com jornalistas após a reunião. O presidente russo Vladimir Putin está em guerra com a Ucrânia.

Pelo lado brasileiro, participaram da reunião Vieira, Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social), o assessor especial da Presidência Celso Amorim e o senador Jaques Wagner (PT).

Pelo lado ucraniano, integraram a delegação também Andrii Iermak (chefe de gabinete de Zelenski), Andrii Sibiha (assessor para política externa), Ihor Jovkva (assessor para política externa) e Roman Mashovets (assessor-chefe para assuntos militares).

Segundo Vieira, os presidentes também trataram de temas de interesse comum, como a reforma da governança global —uma das prioridades brasileiras na ONU. Os dois ministros das Relações Exteriores devem seguir trabalhando conjuntamente e discutir a questão da paz.

Lula reforçou que o Brasil estará presente em todos os esforços que busquem a paz no conflito.

“Hoje me reuni, em Nova York, com o presidente ucraniano Volodimir Zelenski. Conversamos sobre a importância dos caminhos para construção da paz e de mantermos sempre o diálogo aberto entre nossos países”, publicou o petista em sua conta oficial no X (ex-Twitter).

Também no X, o presidente ucraniano publicou vídeo do encontro. Ele ainda afirmou que “seguindo nossa honesta e construtiva discussão, instruímos nossas equipes diplomáticas a trabalharem nos próximos passos dos nossos esforços de paz e relações bilaterais. O Brasil continuará a participar de encontros da Fórmula da Paz [plano ucraniano para paz]”.

A reunião entre os dois líderes se dá após rumoroso desencontro entre os líderes durante a cúpula do G7 em Hiroshima, em maio, evento de que ambos participavam na condição de convidados.

O governo brasileiro afirmou que havia oferecido três horários a Zelenski na ocasião, e que este “simplesmente não apareceu”. Fontes do Planalto minimizaram a importância de Lula não ter se reunido com Zelenski à época.

Depois, em uma entrevista em Kiev a veículos de imprensa da América Latina, o presidente ucraniano deu versão distinta, dizendo que a culpa pelo episódio não tinha sido de sua equipe. Durante a conversa, ele também alfinetou o petista pela falta de apoio para a criação de um tribunal especial internacional que julgue crimes de agressão na guerra e disse, de forma irônica, que o líder brasileiro quer ser “original” em suas propostas.

Nesta terça (19), questionado por jornalistas sobre as expectativas para o encontro, o petista respondeu que “é uma conversa de dois presidentes de países, cada um com seus problemas, suas visões” e que o diálogo seria “sobre os problemas que ele quer conversar comigo”.

Além dos desencontros, as alfinetadas recíprocas refletem o posicionamento brasileiro que por um lado condena a invasão russa, mas por outro reitera que nenhum dos dois lados do conflito procura entrar em negociação.

Antes do encontro entre Lula e Zelenski, a expectativa era de que o brasileiro manteria a proposta que vem defendendo de criação de um “clube da paz”, um grupo de cinco países, segundo diplomatas ouvidos pela reportagem, sem interesse direto no conflito entre Rússia e Ucrânia para mediar uma solução pacífica

Contéudo fonte . POLITICA LIVRE Fernanda Perrin/Folhapress