“A fogueira está queimando em homenagem a São João”. Entre os dias 23 e 24 de junho, cidades do interior do Nordeste e da Bahia se transformam em grandes capitais ao receberem uma grande quantidade de pessoas para celebrarem o São João. Considerada uma das manifestações mais populares, a festa comemora o nascimento de João Batista, o primo de Jesus Cristo, principal figura do catolicismo.
Considerado pela igreja católica como “precursor”, João Batista se diferencia de outros santos, tendo o seu dia celebrado na data em que nasceu e não no dia de sua morte. Ele ainda era conhecido por realizar batismos e batizou o próprio Cristo. Apesar de ser um dia de um santo, a origem da festa é pagã, mas foi aderida pelo catolicismo e tem um caráter religioso. Com o intuito de explicar sobre a festividade, a reportagem do Bahia Notícias preparou uma matéria especial acerca do significado da festa, sua origem, características e elementos.
De acordo com o historiador, Rafael Dantas, a tradição da festa junina no país é oriunda e tem influência europeia, desde o Brasil Colônia, através dos portugueses, que também celebram o santo, além dos espanhóis.
“O São João nasce junto com a ocupação europeia no contexto brasileiro. Então temos os primeiros registros, as primeiras descrições já na época da Colônia, especialmente no decorrer do século XVII, com essa presença ibérica, ou seja, portuguesa e espanhola, aqui no contexto do que vem se tornar o Brasil, do que vem se tornar Salvador. Temos inclusive algumas menções relacionadas aos santos. Não só João além de outros santos populares. Isso começa a se intensificar no decorrer dos séculos seguintes, especialmente com a força da Igreja Católica”, revelou Dantas.
Segundo o especialista, a festa tem um grande marco por conta do enorme apelo popular e expressividade que ultrapassa o tempo e gerações, além da memória afetiva.
“Eu diria que talvez essa inserção popular, essa capilarização do ponto de vista do povo, como as pessoas abraçam e sentem a festa ao longo do tempo, acho que essa é a principal causa, é o principal ponto de destaque para a gente entender a festa como um todo. O São João foi, continua e espero que fique como essa expressividade de um tempo, e especialmente de como as pessoas vivenciam isso com suas memórias afetivas”, explicou.
ELEMENTOS
Outro ponto explicado por Rafael foi acerca dos elementos que são utilizados durante os dias juninos, a exemplo das comidas típicas, bebidas, roupas entre outros.
“É uma tradição mediterrânea, que bebe de cultos pagãos que foram ressignificados pela igreja católica, seguindo a ideia direcionada ao culto dos santos específico e chegam no Brasil. A fogueira é importantíssima, como esse elemento já presente na Europa, ligada a essa questão das mudanças de estações, as mudanças de tempo, os momentos de fartura, de comidas específicas, assim como as roupas também, que bebem de uma tradição relacionada à questão campestre, que vem para o Brasil. Tem uma mistura com a questão indígena também, que é muito forte aqui, e depois com a questão africana. Mas especialmente elementos que já estavam presentes em culturas antigas, no contexto mediterrâneo europeu, que vêm para o Brasil e são hibridizados, misturados às influências das culturas tanto brancas como indígenas, ameríndias ou negras”, detalhou.
O uso de outros elementos como a dança, bandeirolas entre outros foi explicado também pelo o Vigário para Cultura Educação e Comunicação na Arquidiocese de Salvador, Manoel Filho.
“As quadrilhas das festas juninas vem das danças de salão na França e na Europa, do renascimento da origem, aquelas danças de casais ensaiadas dos casais. Então tudo isso vem de Portugal, uma herança muito forte. Os enfeites, as bandeirinhas, o colorido, se a gente chega hoje em Portugal, a gente vai encontrar também isso lá. A gente chega aqui e dialoga com a culinária mais indígena, do amendoim, do milho e lá está presente a sardinha assada na brasa, as ruas ficam com cheiro de sardinha durante o mês de junho.Toda essa festa vem de lá e óbvio chega aqui vai encontrando as suas características próprias”, observou Filho.
A fogueira, um dos principais elementos culturais da festa, carrega uma lenda e uma história por trás do seu uso, que muitas pessoas desconhecem. Segundo Manoel, existe uma tese de que quando João Batista nasceu, sua mãe, a Santa Isabel, tia de Jesus, acendeu uma fogueira na porta de casa para avisar a Maria que seu João tinha nascido.
“A fogueira existe uma lenda a qual Santa Isabel acendeu uma fogueira na porta de casa para avisar a Nossa Senhora que São João tinha nascido. As fogueiras tem a ver também com o aquecer a noite de frio também. Então no fundo é essa grande mistura, esse grande caldeirão onde se coloca a religião, a cultura, por causa da festa religiosa surgem manifestações culturais”, pontuou.
O vigário indicou ainda sobre a importância do São João não só para a cultura, mas para a economia e turismo.
“Esse movimento de volta às Origens tem uma repercussão econômica muito grande também. Às populações urbanas voltam para as pequenas cidades do interior. Então são 6 dias em que a capital é o interior. O centro do Estado está no interior. Essa centralidade da vida do estado não está na capital, está no interior, então isso faz toda a diferença. Isso leva a economia, faz a economia girar e faz com que nós nos tornemos turistas em nosso próprio estado. O São João é marcado muitíssimo por esse turismo local, por esse deslocamento. Da capital para o interior, o que leva a um movimento econômico gigantesco”, indicou.
Contéudo Bahia noticias Por Victor Hernandes
Foto: Manu Dias/GOVBA
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