Opositor na Venezuela se proclama presidente eleito e pede ajuda militar

Candidato da coalizão opositora da Venezuela, Edmundo González divulgou uma carta nesta segunda-feira (6) em que se proclama presidente eleito do país. Seus aliados afirmam que ele venceu nas urnas, a despeito da proclamação de Nicolás Maduro pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). O resultado é contestado mundialmente.

No texto, assinado com María Corina Machado, que se descreve como a “líder das forças democráticas na Venezuela”, a dupla pede às Forças Armadas se descolem do chavismo. “Fazemos um chamado à consciência dos militares e policiais para que se coloquem ao lado do povo e de suas próprias famílias”, dizem eles.

À reportagem interlocutores próximos à dupla afirmam que o anúncio não se trata de formar um governo paralelo ao regime de Caracas, mas de confirmar o que as atas eleitorais que possuem em mãos dizem. A oposição possui pouco mais de 80% das atas deste processo.

Leia tradução da íntegra da carta:

Mensagem de Edmundo González e María Corina para militares e policiais

Venezuelanos, cidadãos militares e funcionários policiais,

A Venezuela e o mundo inteiro sabem que nas eleições do último 28 de julho nossa vitória foi avassaladora. Desde o mais humilde cidadão, testemunha, membro de mesa, oficial das Forças Armadas, policial, até os organismos internacionais e governos, sabem disso. Com as atas em mãos, o mundo viu e reconheceu o triunfo das forças democráticas.

Fizemos a nossa parte. Realizamos a mais formidável mobilização cidadã para que a vitória eleitoral fosse inquestionável. É uma vitória obtida com enorme energia e firmeza, e a fizemos em paz. Obtivemos 67% dos votos, enquanto Nicolás Maduro obteve 30%. Essa é a expressão da vontade popular. Ganhamos em todos os estados do país e na quase totalidade dos municípios. Todos os cidadãos são testemunhas dessa realidade.

No entanto, Maduro se recusa a reconhecer que foi derrotado por todo o país e, diante dos legítimos protestos, lançou uma brutal ofensiva contra líderes democráticos, testemunhas, membros de mesa e até mesmo contra o cidadão comum, com o absurdo propósito de querer ocultar a verdade e, ao mesmo tempo, tentar acuar os vencedores.

Fazemos um apelo à consciência dos militares e policiais para que se coloquem ao lado do povo e de suas próprias famílias. Com essa massiva violação dos direitos humanos, o alto comando se alinha com Maduro e seus vis interesses. Enquanto vocês são representados por esse povo que saiu para votar, por seus colegas das Forças Armadas Nacionais, por seus familiares e amigos, cuja vontade foi expressa em 28 de julho e vocês conhecem.

Estamos cientes de que em todos os componentes das Forças Armadas Nacionais está presente a decisão de não reprimir os cidadãos que pacificamente reivindicam seus direitos e sua vitória. Os venezuelanos não são inimigos das forças. Com essa disposição, os chamamos a impedir as ações de grupos organizados pela cúpula madurista, uma combinação de esquadrões militares e policiais e grupos armados à margem do Estado, que espancam, torturam e também assassinam, sob a proteção do poder maligno que representam.

Vocês podem e devem interromper essas ações imediatamente. Instamos vocês a impedir a desenfreada repressão do regime contra o povo e a respeitar, e fazer respeitar, os resultados das eleições de 28 de julho. Maduro deu um golpe de Estado que contraria toda a ordem constitucional e quer fazê-los seus cúmplices.

Vocês sabem que temos provas irrefutáveis da vitória. O relatório do Centro Carter é contundente sobre as condições e o resultado eleitoral, enquanto Maduro tenta fabricar resultados quando, além disso, o prazo legal para a publicação dos mesmos expirou.

Membros das Forças Armadas e dos corpos policiais, cumpram com seus deveres institucionais, não reprimam o povo, acompanhem-no.

Da mesma forma, pedimos a todos os venezuelanos que têm mães, pais, filhos, irmãos, parceiros que são membros das Forças Armadas Nacionais ou funcionários policiais, que exijam que não reprimam, que ignorem ordens ilegais e que reconheçam a Soberania Popular, expressa nos votos do domingo, 28 de julho.

O novo governo da República, eleito democraticamente pelo povo venezuelano, oferece garantias àqueles que cumprirem com seu dever constitucional. Além disso, destaca que não haverá impunidade. Este é um compromisso que assumimos com cada um dos venezuelanos.

Nós ganhamos esta eleição sem discussão alguma. Foi uma vitória eleitoral, cheia de energia e com uma organização cidadã admirável, pacífica, democrática e com resultados irreversíveis. Agora cabe a todos nós fazer respeitar a voz do povo. Procede, imediatamente, a proclamação de Edmundo González Urrutía como presidente eleito da República.

Caracas, 5 de agosto de 2024

Mayara Paixão/Folhapress

 

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