Artigo: Antonio Brito deixou de ser “patinho feio” e ganha corpo para ser presidente da Câmara

 

Opinião: Antonio Brito deixou de ser “patinho feio” e ganha corpo para ser presidente da Câmara
Foto: Bruno Spada / Câmara dos Deputados

A bola da vez da eleição para a presidência da Câmara dos Deputados pode não ser de Hugo Motta (Republicanos-PB), apresentado com a benção do atual presidente Arthur Lira (PP-AL), nem o antigo favorito, Elmar Nascimento (União-BA). Contrariando prognósticos de poucas semanas atrás, Antonio Brito (PSD-BA) pode vir a dar as cartas na Câmara por uma sucessão de fatores, que incluem o rompimento entre Lira e Elmar e a relação próxima entre o PSD e o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

 

O baiano se colocava como candidato à presidência desde o final do ano passado. Era uma espécie de alternativa ao até então consolidado nome de Elmar como o “cara” de Arthur Lira. Braço direito do presidente na articulação, Elmar – nem muita gente que acompanhava o movimento – não contava com a possibilidade de ser preterido (pela segunda vez) por alguém que considerava próximo. Mesmo com esse cenário desfavorável, Brito foi construindo uma aposta “no escuro”, como se fosse um “patinho feio”.

 

Além do líder do PSD na Câmara, outros nomes também se colocavam nessa condição de candidato “reserva”. O mais representativo deles, o presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), foi o responsável pela guinada de Lira em apoio ao quase nunca citado Hugo Motta. O paraibano é aquilo que chamam de um candidato que “corria por fora”, tal qual o próprio Pereira e Brito. Só que uma confluência tornou Hugo o favorito ao ponto de ganhar o apoio ainda informal de Lira – oficialmente, o presidente não se manifestou.

 

Um dos argumentos favoráveis a Hugo Motta, a relação mais tranquila com o governo, é o principal trunfo de Antonio Brito. O baiano, chamado pelo próprio Lira de “líder dos líderes”, comanda uma bancada extremamente representativa e, por isso, fluiu bem quando o governo era de Jair Bolsonaro e assim permaneceu com Lula no poder. Ou seja, construiu a adaptação perfeita para o que se convencionou chamar de “centrão” no país. E, diferente do paraibano, tem uma musculatura política com nome e sobrenome: Gilberto Kassab.

 

Coube ao presidente do PSD informar ao próprio Lira que Antonio Brito não retiraria a candidatura. E, em meio ao acordo com o União Brasil, se entende que o nome de Elmar Nascimento também não saiu do páreo. Houve então um reequilíbrio de forças, que colocou o presidente na Câmara em uma situação desconfortável pela primeira vez em muito tempo. Kassab, um camaleão político como poucos, tem trânsito com Lula desde sempre e, se não conseguir que o Palácio do Planalto apoie Brito, vai impedir que o governo embarque na candidatura de Motta, como desejaria Lira e o sonho de uma unificação da base do presidente da Câmara (sim, ele tem uma base e ainda mais forte que o governo).

 

Além desses fatores, há ainda a possibilidade de Davi Alcolumbre (União-AP) confirmar a perspectiva de voltar a comandar o Senado. Esse encaminhamento era um empecilho para Elmar garantir facilmente a eleição na Câmara, já que o governo poderia torcer o nariz para o União Brasil comandando as duas casas. Então, Antonio Brito ainda soluciona essa eventual dor de cabeça para Lula. Melhor alguém de centro-direita do que a possibilidade de sequestro da pauta da Câmara pelo conservadorismo do Republicanos.

 

Não dá para colocar Brito como favorito. Mas não dá para dizer que ele é carta fora do baralho, como se chegou a classificar no começo do ano, quando ninguém via um cenário pedregoso para Elmar. A estratégia de “comer quieto”, mais uma vez, pode se provar positiva. Contudo Bahia noticias Por Fernando Duarte