A comunidade negra compõe 54% da população brasileira, e apesar de ser maioria, as condições de desigualdades ainda são grandes e colocam esta população em uma condição histórica de vulnerabilidade social. Há anos, os movimentos sociais reservam o 20 de novembro, que remonta ao momento da morte de Zumbi dos Palmares, um dos principais representantes da resistência negra à escravidão no Brasil, como Dia da Consciência Negra. Este ano, pela primeira vez, há feriado nacional pela data, e Vitória da Conquista celebra o Dia Municipal do Quilombola e de Valorização às Comunidades Remanescentes dos Quilombos.
Hoje é dia de celebrar conquistas e também refletir a respeito da situação da população negra no Brasil e das políticas de igualdade racial. “É necessário termos uma data como essa para refletirmos e reconhecermos a existência de diferenças raciais. A data é importante para o Governo Municipal porque marca uma consciência coletiva de reflexões”, afirma o coordenador de Igualdade Racial, Ricardo Alves.
Ele ainda destaca que o Município tem trabalhado todos os dias para implementar políticas pública de Igualdade Racial e combater o racismo. “Somos uma coordenação, mas temos autonomia para poder traçar as estratégias para melhorar a vida da população negra no município. Pensar políticas públicas que promovam igualdade e equidade e enfrentar o racismo é um compromisso e um dever nosso enquanto governo e sociedade”, afirma.
Fundador e mestre da Associação Cultural e Artística Memória de Bimba, o conquistense Elissandro Jesus, apelidado de Sandro Capoeira, pratica a arte desde os 11 anos e promove as manifestações culturais negras, tendo 12 núcleos entre os bairros de Vitória da Conquista e cidades da região. Para ele, o momento é de celebração e de reflexão. “É uma data extremamente importante porque consolida uma luta de vários anos. E esse é um feriado de reflexão, não é simplesmente para ficar dentro de casa, mas é para se pensar na quantidade de pessoas que morreram para que a gente possa estar hoje militando em favor da cultura”, afirmou.
O mestre em capoeira, que também é formado em Educação Física, reforçou que é preciso trabalhar as manifestações culturais como o maculelê, o samba de roda e a capoeira com um olhar pedagógico. “Eu acredito que a função da militância é essa. A militância em prol da ancestralidade, a militância em prol da consciência no sentido total: não só falar de consciência negra. Consciência negra é muito importante, mas a consciência humana está acima de qualquer coisa”, comentou Sandro.
Euzília França é pedagoga da Rede Municipal de Ensino. Para ela é muito importante trazer a cultura negra para as praças públicas como aconteceu ontem à tarde e ter um momento de reflexão como ocorreu pela manhã, por meio das atividades promovidas pela Prefeitura de Vitória da Conquista. “Além disso, é bom trabalhar isso dentro da sala de aula. É admirável a gente trazer essa importância que é o 20 de novembro, o dia da resistência. Isso aqui não simboliza somente a morte de Zumbi, mas também a nossa luta”, disse a educadora.
A dirigente da Casa Nzo Amazi Keuameã e participante da Rede Caminho dos Búzios, Luanda de Oxum, diz que o feriado é uma vitória. “Ter sido reconhecida essa data é muito importante e muito especial pois mostra o quanto nós estamos aí resistindo ainda, lutando a favor dos nossos direitos, lutando pelo povo preto, pelo povo de Axé, pelas mulheres pretas, pelo povo quilombola”, afirmou.
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