Paulo Pires
Aproveitando a onda de comoção que se abateu sobre o País desde a fatídica matança em Realengo, [07 de abril de 2011], o presidente do Senado senhor José Sarney diz que vai colocar na Ordem do Dia proposta para votação de Referendo sobre o desarmamento ou não da população. Claro que em um momento como este a tendência é que os cidadãos se pronunciem pelo desarmamento e abram mão de suas armas, deixando que suas querelas ou atos de defesa moral e patrimonial tenham o Estado como mediador. Uma sociedade que faz isso está certa ou errada? Quem não precisa de armas para viver está certo ou errado? Quem sai de casa com um Colt na cintura está bem ou mal intencionado? Quem acha que todo mundo tem que andar armado está certo ou errado? Quem acredita na força da violência está certou ou errado? Quem cultiva a Paz está certo ou errado?
Estamos no século XXI. Seria crônico ou anacrônico uma civilização preservar os hábitos dos antigos moradores de Denver (Colorado) El Paso (Texas), Dodge City (Kansas) e Tombstone (Arizona)? Seria humano, ou pedagógico e necessário reeditarmos aquele famoso duelo no Curral Ok? Precisamos ainda das mentalidades de Buck Jones, Wyatt Earp, Doc Holliday e Buffalo Bill para proteção de nossas idéias e nossos patrimônios materiais e morais? Precisamos retroceder ao século XIX para viver cada dia nos impondo como seres autônomos, independentes e violentos? Precisamos disso? Precisamos ser violentos para nos sentirmos mais fortes, mais livres, mais respeitados?
Lamento que o Senado retome essa discussão neste momento, justamente quando o País vive sob forte clima de conflagração psicossocial, cuja veemência passional invariavelmente sempre leva parte considerável dos cidadãos a optar ou tomar partido por decisões equivocadas. Isso é histórico, isso é bíblico.
As perguntas formuladas com base na maiêutica socrática são interessantes. O que é melhor para um povo ou para um cidadão: Guerra ou Paz? A beligerância é construtiva? Não estou aqui para fazer nenhum juízo de valor sobre a decisão de ninguém. Cada um deve escolher a melhor corda para se enforcar (ou escapar). A mim não compete, como cultuador da liberdade, recriminar a decisão de ninguém. Até porque sei que a História da Violência está associada a existência do Homem. Imagine um Planeta com quatro pessoas, sendo duas delas irmãos (Caim e Abel). Caim, movido por uma inveja inexplicável mata o irmão e daí, conforme a tradição judaico-cristã inaugura o espírito de violência que se instalou sobre a Terra. Evidente que nem foi preciso usar um Colt 45 ou uma pistola Ponto 43 para o ato, bastou a violência da época.
O fato é que a violência se disseminou sobre a Terra. Tão grave quanto sua prática é o fato de muitas pessoas e instituições a cultivarem e avaliarem que só por intermédio dela será possível construir a Paz. Deturpações e mais deturpações foram e são feitas pelos seus defensores. Há uma expressão latina que diz “Si vis Pacem para Bellum”, cuja tradução para o português é: “Se queres a Paz prepara-te para a Guerra”. Admitamos se tratar de uma expressão meio ambígua (quase um oximoro). O suficiente para os “Violentos e/ou Defensores da Violência” manifestarem o desejo letal para usar armas. Pensam eles que só defendendo uma Sociedade Armada é que se atinge a Paz. Grande equívoco. Uma fábrica de armas alemã chegou a usar a expressão (Si vis Pacem para Bellum) para dizer ao mundo que o ideal é todo mundo portar um revolvão, uma escopeta, um pau de fogo (fabricados por ela, evidentemente). Historicamente a expressão é de autoria do general romano Publius Flavius Vegetius Renatus e se tornou pública em 390 d. C. A intenção era exortar a Paz e não a Guerra. Alguns sujeitos trataram de deturpá-la e deu certo. Virou o que virou.
Em meus anseios por um mundo em Paz, chego a questionar se sou ou não um ser patético, sonhador? Acho que sim. Quem está certo é o pessoal que considera a Violência uma solução. Essas pessoas são realistas, tem os pés no chão, sabem do que estão falando ou fazendo. Esse negócio de Paz é para trouxas, otários. Precisamos dar pancada nos outros, puxar revólver para as pessoas, atirar prá matar ou intimidar.
O Mandamento Cristão de “Amar ao Próximo como a si mesmo” é tolice. Que Próximo que nada! O negócio é se isolar, não pensar em ninguém, sentimento hedonista egocêntrico-pessoal, baseado no individualismo de velhas doutrinas. Que outro que nada! Como diz um bom burguês: “Primeiro eu, depois eu e depois quando eu constatar que ainda há muita gente para ser atendida, antes dessa gente, eu novamente, de novo e sempre”.
Aqueles duelos em Dodge City, El Paso, Denver e Tombstone até hoje não saem da cabeça de alguns. Aquelas matanças no cinema americano: Índios e mais índios morrendo era o que a gente gostava. Adeus Cochise, Jerônimo, Touro Sentado. Viva Buffalo Bill, David Crocket, Wyatt Earp, Bill the Kid. Morte aos mexicanos que defenderam suas Terras. Disse Porfírio Diaz: “Pobre México: Tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos!”. Mãos às armas. Se eu tiver um revólver 22 e meu oponente uma 45, adeus Mundo Velho! Isso é Liberdade!
Deixe seu comentário