A casta dos intocáveis

 

“Políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos pelo mesmo motivo” – Eça de Queirós, escritor português.  O “politikos”, criado pelo grego Aristóteles, que é a ética na polis, na cidade e na cidadania não existe no Brasil. Aqui, política é vale tudo, troca-troca e paixão arrebatada pelo poder.  Você já ouviu falar na casta dos intocáveis? Não estou me referindo a Índia, mas ao Brasil destroçado onde  escolas, hospitais, delegacias, postos e centros de saúde deixam de funcionar porque os governos federal e estadual fizeram contingenciamento de recursos dos seus orçamentos. A queda da arrecadação tributária com a crise da economia é um dos fatores alegados para o procedimento, mas a raiz de tudo está na má gestão de uma casa que gasta mais do que recebe. Leia na íntegra.

 

    Aqui mesmo na Bahia, para não citar outros estados da federação, aulas são interrompidas por falta de limpeza e merenda escolar para os estudantes. Terceirizados, tratados como escravos, não recebem seus salários e benefícios, conforme previsto em lei. Nem por isso “as autoridades competentes” (Ministério Público, por exemplo) tomam as devidas providências contra os caloteiros contratantes.
  Servidores públicos não têm aumento e os concursados não podem ser contratados sob o argumento do governo de que já está no limite da lei de responsabilidade fiscal, ou seja, no teto do custeio com pessoal. No entanto, você já ouvia falar em paralisia dos serviços do Congresso Nacional, das assembleias e das câmaras municipais de vereadores por contingenciamento e falta de recursos?

 Não, camarada, mesmo com o PIB (Produto Interno Bruto) em queda e a economia em baixa produção, com milhares de empresas falidas (dez milhões de desempregados no país), essas casas funcionam como estivessem em tempos de bonança! Nelas não existe tempo de crise.
    Os políticos recebem seus salários e suas polpudas verbas indenizatórias em dia. Seus servidores também não têm muito do que se queixar. No movimento dos servidores públicos do Estado da Bahia, um cartaz clamava: “A Assembleia cria cargos e aumenta gastos, porém nós pagamos o Pato”.
  A esta altura você já deve ter matado a xarada, ou adivinhado sobre qual casta dos intocáveis me refiro no título deste comentário, mas existem também outras castas. Nós sabemos e nem é preciso citá-las. Enquanto o povo pobre tenta curar suas feridas e amarguras, eles viajam de primeira classe; comem em restaurantes de luxo, inclusive no exterior; frequentam lojas chiques; têm um monte de assessores; pagam garotas de programa; e ainda debocham de nós.
  É, dói muito, mas quem importa com isso? Sempre foi assim! Eles se alimentam e engordam do tumor cancerígeno do sistema eleitoral brasileiro. Com os votos do povo inculto que eles preferem manter como está, criaram um Frankstein insaciável no Planalto que nos atormenta dia e noite. Com eles não existe temporada ruim porque as verbas são garantidas e até dobradas e triplicadas como foi o caso do Fundo Partidário. Lá é outro país intocável muito diferente da planície de cá da educação, da saúde, do saneamento e da segurança sucateados.
  Do lado de cá estampa outra nação que vive à mingua, dependente das esmolas assistencialistas sobre as quais dão o pomposo nome de políticas sociais. Ao darem as migalhas, não satisfeitos com as mordomias, se acham no direito de roubar. Neste reino surreal, multidões defendem a casta dos intocáveis, mas não é necessário explicar os motivos tão absurdos e contraditórios.
  No Brasil existem 20 mil cargos a serviço das castas quando em nações avançadas não chegam mais que oito mil. De 2005 a 2014dizem que 30 milhões saíram da pobreza para a classe “C” (média baixa). Agora neste ano, as classes “D” e “E” vão receber oito milhões dos ex-“C”.  Os bolsas famílias e o assistencialismo poderiam até extinguir a pobreza se não houvesse tanta roubalheira das castas.
  O ensino médio em nosso país é um dos piores do planeta. Dos oito milhões que entraram nas escolas, metade ficou no meio do caminho. Nunca antes na história do Brasil o maior partido de coalizão deixou o governo por vontade própria, nunca houve tanta corrupção e campanha a favor dela, nunca tanta incompetência e tanto ódio e intolerância. Maluf virou um trombadinha e até se espantou com os vendilhões.
Jeremias Macário | Jornalista | [email protected]