A greve dos professores da rede estadual da Bahia, que completa hoje 105 dias, esteve o tempo todo marcada pelo impasse entre os representantes da categoria e o governo. Agora, o impasse chegou dentro do comando de greve

Grevistas pedem afastamento de diretora sindical das negociações

 



A greve dos professores da rede estadual da Bahia, que completa hoje 105 dias, esteve o tempo todo marcada pelo impasse entre os representantes da categoria e o governo. Agora, o impasse chegou dentro do comando de greve.
Nesta segunda (22), educadores pediram que fosse votado o afastamento da diretora do setor jurídico da Associação dos Trabalhadores em Educação (APLB-Sindicato), Marilene Betros – uma das principais interlocutoras do movimento -, e do diretor Claudemir Nonato.

De acordo com alguns professores, na última assembleia, Betros adotou discurso favorável ao fim da paralisação. A posição da professora gerou desconfiança dentro do comando. Durante a assembleia desta terça-feira (23), o afastamento das lideranças pode ser colocado em pauta.

“Marilene traz um pensamento que choca com o pensamento da categoria. Ela disse que fez avaliação pessoal e discursou a favor do fim da greve”, afirmou Valdice Borges, do comando grevista.

Outro professor também acusou Betros de articular o fim da paralisação com integrantes da APLB. “Rui Oliveira (presidente do sindicato) está de um lado com outros diretores e Marilene está do outro lado. Ela trabalha com outros integrantes para desarticular o movimento”, disse, pedindo anonimato.

A professora Vanessa Matos, também integrante do comando de greve, ressaltou que existe uma “inquietação da base frente à posição de alguns integrantes do sindicato”. “A base se colocou contrária a Marilene por ter desconfiança da posição dela. O comando tem que ter discurso que atenda aos interesses da categoria. Divergências geram questionamentos”, disse Vanessa.
Críticas Nos corredores do Colégio Central, em Nazaré – novo QG dos grevistas depois que a categoria foi obrigada a desocupar a Assembleia Legislativa –, houve muitos comentários sobre o assunto.

O professor Anderson Silva, que também integra o comando da paralisação, ressaltou que a categoria está “atenta” à posição das lideranças. “Quem está tomando posição contrária, está sendo rechaçado. Muitos estão sendo hostilizados na assembleia. A posição que deve ser levada em conta é a dos professores”.

De acordo com Marilene Betros, o comando de greve e a categoria estão equivocados quanto à sua postura. “Fui má interpretada. Na verdade, chamei a atenção de que deveríamos escutar as proposições que estão sendo apresentadas e votar com consciência. Que fosse permitido colocar as propostas e a expressão de quem quer votar de um jeito ou de outro”, disse.

Em seguida, a diretora do setor jurídico da APLB criticou o bloqueio da categoria quanto a posicionamentos diferentes. “Na assembleia dos professores, só querem ouvir o que agrada. Temos que saber ouvir todos, o debate é para isso. O que pedi – em nenhum momento disse que eu era favorável (ao fim da greve) – foi para discutir quais os caminhos e as saídas para o movimento”, argumentou Betros.

Ela também comentou o pedido para que fosse afastada do campo de decisões do movimento. “Foi uma bala! É duro pra mim, mas tenho consciência de que sempre representei a categoria. Não adianta querer destruir a imagem de uma pessoa que tem história”, completou.

“Trabalho com responsabilidade e não vou concordar com as incoerências da categoria. Os ânimos estão acirrados e eles (os professores) não querem  escutar nada que pareça que a greve vai acabar”, concluiu Betros.
Rui Oliveira, presidente da APLB, não foi encontrado para comentar o assunto.

Colégio Central vira base da greve
Depois que a Justiça determinou a desocupação do saguão Deputado Nestor Duarte da Assembleia Legislativa da Bahia, a nova base dos professores passou a ser o Colégio Central, em Nazaré. Nesta segunda (22), a categoria se reuniu pela primeira vez na unidade para discutir os rumos do movimento.

Divididos em dez zonais (grupos que compreendem regiões escolares), os educadores divergiram sobre a continuidade da paralisação. Para o professor de Matemática Jair Andrés, a greve já terminou. “Agora é só a questão dos 22,22%. Tem professor que não sabe nem por que está aqui. Em todas as assembleias se aprova a continuidade, mas o voto não tem controle. Tem que mostrar o contracheque”, argumentou.

A professora de Educação Física Neilza Reiman discordou: “O professor bem pago trabalha melhor, mas o reajuste não é tudo. Precisamos de outras melhorias”, disse. Hoje, às 10h, tem mais uma assembleia de professores.

Leo Barsan
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