ACADEMIA DO PAPO

paulo-piresPaulo Pires – A nova teoria de Cansadinho Encontrei-me no Bar e Restaurante Santa Fé [Maurício e Érika Coelho] com Carlos Cansadinho. Foi uma festa. Cansadinho estava com as duas filhas e esbanjava felicidade (ele continua engraçado, mesmo antes de beber). O homem não muda, sempre foi assim: A alegria lhe sai pelos poros e contagia a todos que estão em sua volta. O que muito me impressiona no bom “Cansado” é a permanente capacidade de manter-se assim. Em um passado não muito remoto, diante das dificuldades porque passava, observamos em seu rosto breves exteriorizações de aflições. Quase o flagramos de crista baixa. Mas nosso amigo superou as adversidades e eis que o encontramos na praça, vendendo alegria e teorizando sobre os mais diversos assuntos. Os olhos vivos, esverdeados, observam o ambiente e as pessoas dando a todas elas um ar de aprovação. Sim, tem pessoas que quando olham as outras já o fazem reprovando. Com Cansadinho é diferente. Ele olha para o próximo sinalizando que com ele está tudo bem e melhor ainda: diz [com os olhos] que o próximo também está ou lhe parece bem. Isso é positivo. Essa atitude cria um pacto de boa convivência imediatamente. O olhar generoso inspira confiança entre ele e o outro. O próximo reconhece ter sido aprovado e rapidamente se instala no ambiente um clima cordial e saudável. Quem não gosta de reconhecimento? Todo mundo, claro. O fato é que Cansadinho tem um excelente astral e transfere isso gratuitamente em repetidas doses de fraternidade. Convém dizer que no momento que se sentou à mesa, puxou o celular e conversou com um amigo de Belo Horizonte, informando que estava comigo no aconchegante Santa Fé. Falei com nosso amigo de Belô e em seguida caímos no uísque porque ninguém é de ferro. A última vez que tomei “umas cana braba” com ele durante o período vespertino foi no Bar de Orlando Bracim, outro amigo velho. Naquele dia saímos de lá a mais de mil (não havia bafômetro prá nos pegar). As meninas dele estão lindas, fazendo-o mais feliz do que a torcida do Palmeiras quando ganha do Corinthians. Enquanto a conversa rolava, observávamos os transeuntes. À nossa frente sentou-se uma família e logo identifiquei entre os convivas a figura simpática de Hugo Matos (irmão de doutor Esaú). Hugo é outro bom amigo e fez questão de vir até a mim para os cumprimentos de velhos companheiros. Tiramos fotos e, engraçado, pediu-me desculpas porque em nosso último encontro não pôde conversar comigo tanto quanto queria. Agradeci-lhe pela deferência e voltamos aos nossos lugares. E o Cansadinho? Ah, esse é genial. Falou-me dos seus negócios (o homem tá bem…). Disse sobre seus projetos e as bênçãos de Deus que tem caído sobre ele e a família. Tá tudo tranquilo, disse com inconfundível sorriso maroto. Ao acabar de pronunciar isso, observou do outro lado canteiro o passeio de um casal gay. Ao constatar que também vi o casal, perguntou o que achava da idiotice do Governo em querer baixar uma Cartilha orientando jovens sobre comportamentos homofóbicos. Disse que tinha ouvido falar, mas não estava a par dos acontecimentos. Ele disse que não entendia uma idiotice daquelas. Também concordei, mesmo conhecendo superficialmente o conteúdo da Cartilha. Quer saber, Paulinho, disse ele, agora com um ar de sábio: Deus sempre fez tudo certo. Ocorre apenas um detalhe: Acho que nas próximas gerações Ele fará com que os seres humanos sejam bivolts. Olhei-o meio curioso e perguntei: O que você quer dizer com Bivolt? Ele disse que não alcançaremos, mas em gerações humanas futuras o Senhor Supremo do Universo fará todo mundo bissexual (há um geneticista italiano que defende essa tese há mais de uma década). Isso mesmo. Doravante todo mundo vai nascer com 110 e 220 de voltagem. Os seres humanos serão divalentes (ou bivalentes). Sob o ponto de fisiológico vai ser maravilhoso. E na abordagem estritamente moral, prosseguiu, isso será extremamente importante. As pessoas deixarão de xingar as outras de bicha, sapatão e coisas equivalentes e passarão a se respeitar e amar sem a estupidez que os preconceitos infundidos pelas sociedades conservadoras nos impuseram. Vai ser a emancipação da Humanidade. A partir de então, todos entenderão que opção sexual é como opção alimentar e fim de papo. Acho que ele está certo. É uma vergonha chegarmos ao século XXI e esse tipo de discussão ainda estar na ordem do dia. Será que os homens não tem coisas mais importante para fazer? Ao me ver calado, concluiu o filósofo: Pior é termos um governo que ao invés de cuidar dos problemas graves, em nome de uma falsa proteção, acaba é estimulando os jovens para práticas que só fazem piorar as relações. Isso é horrível. Silenciou um minutinho e logo mandou descer mais uma rodada de bebida e tira-gosto. Lembrei a ele que apesar de tudo foi neste governo que ele cresceu. Rimo-nos e bebemos mais uma. Em outra mesa estava o Clã dos Coelho [doutor Aliomar, esposa filhos e netos] A tarde estava fantástica, a comida deliciosa e o taxista só cobrou cinco reais até o Bem Querer…