Maconha para todos
Na década de 1970, tive um professor de Direito que dizia: “Quando você ouvir alguém dizendo que tem um amigo que fez tal coisa – pode crer – o amigo a quem ele se refere é ele mesmo!”. Contrariando essa tese, peço a todos para não pensar igual ao meu velho mestre e considerem, pelo amor que tem aos seus filhinhos, que alguns trechos da narrativa a seguir não tem nada a ver comigo.
É o seguinte: Com a campanha pública, ostensivamente declarada e corajosamente defendida por grandes republicanos a favor da liberalização da maconha [Fernando Henrique entre eles] todos os maconheiros do Brasil estão exultantes: “Obá, até que enfim chegou nossa vez!”.
Sinceramente, faz muito tempo que defendo a liberalização da “folha”. Devo dizer que minha experiência pessoal com a “erva” foi mais leve que a do ex-presidente americano Bill Clinton (aquele que nunca faz o serviço completo). Durante muitos anos, penso eu, a sociedade sempre foi injusta com a maconha e, pior ainda, com os maconheiros.
Quantas e quantas vezes vimos e ouvimos alguém se referindo a outrem: “Aquele é um maconheiro sem vergonha!”. O tom depreciativo dirigido aos maconheiros sempre me incomodou. Claro que o espírito de liberdade que cultivo estabeleceu pensamentos em minha mente e estes nunca se coadunaram com quaisquer tipos de preconceitos.
Bill Clinton [aquele que nunca faz a coisa completa] disse que fumou maconha quando era jovem (mas não foi aquela “fumada” que a gente pensa que foi). Fernando Henrique também fumou na época de faculdade (mas os seus colegas de então afirmam que o baseado oferecido ao ex-presidente continha 50 por cento de capim, 30 de tempero verde e apenas 20 de maconha). Talvez por conter uma mistura tão desproporcional o resultado químico foi desastroso: O baseado provocou no simpático FHC apenas uma tosse infernal.
Mas, como dizia, um amigo meu (cuidado para não confundir comigo) disse que largou a maconha por uma questão de segurança. Perguntei-lhe: Que segurança? Respondeu-me dizendo que toda vez que fumava maconha ficava com um sono disgramado e depois que acordava via-se em uma larica dos diabos. Larica, prá quem não está habituado ao dialeto “maconhês” significa fome. Isso mesmo, o cara quando acordava ficava com vontade de comer tudo. Mas o que tinha a ver fome com segurança, perguntei. Concluiu dizendo que a questão da segurança é porque toda vez que ficava “doidão” tinha uma ligeira sensação que sua namorada xumbregava com outro maconheiro amigo do casal. Como ele adorava a garota, preferiu largar a erva prá cuidar da companheira. Dei-lhe os meus parabéns. Mulher é zilhões de vezes mais valiosa do que maconha (embora exista gente por aí que pense o contrário).
O fato é que muita gente está preocupada. Os mais conservadores consideram que o movimento encabeçado por FHC para liberalização é muito perigoso para uma sociedade com baixo nível educacional como a nossa. Não deixo de dar um pouco de razão a esses. Realmente, o problema do baixo nível em nossa educação e as relações dos indivíduos com a maconha são perturbadores.
Educação capenga realmente compromete. Parte considerável da sociedade por não tê-la em nível desejável, submerge em excessos e descontroles. Temos que admitir: As matrizes curriculares brasileiras, focadas mais em conhecimentos técnicos, ignoram nossa formação para a cidadania. Não há disciplinas ensinando ao estudante conceitos mínimos de responsabilidade social. Nenhum sobre vícios, os prejuízos que causam e os meios para dominá-los. Adicione-se a esse vazio o esfacelamento de muitas de nossas famílias. Estas se reconhecem impotentes para cumprir a parte que lhes cabe na formação do indivíduo. E estes, por desconhecerem a importância dos seus papéis sociais se defendem com tiradas e proposições em teses engraçadas. Tim Maia, por exemplo, dizia ser amigo de um sujeito que fumava maconha há 25 anos e, pasmem, o cara não era viciado! É óbvio que o amigo a quem ele se referia era ele mesmo (vejam como o professor sempre tem razão). Para concluir diria: Se as teses de FHC e seus seguidores estiverem corretas, vou falar com aquele amigo (juro que não sou eu) que volte para a maconha, mas o faça com moderação, conforme recomendam as propagandas de bebidas: . Vai ficar todo mundo doido, obá. Todo mundo doido, obá…
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