Papel fechou nesta quarta-feira em R$ 0,17 na Bovespa; entre outubro de 2010, quando o valor foi recorde, e o último pregão, perda soma R$ 74,7 bilhões
SÃO PAULO – Com a recuperação judicial anunciada pela OGX, suas ações cotadas na Bovespa passaram a valer menos que um chiclete: meros R$ 0,17. Do fechamento anterior do mercado ao desta quarta-feira, a desvalorização dos papéis da empresa foi de 26,1%.
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Essa derrocada torna o pregão desta quinta-feira, 30, histórico: será o último no qual a petroleira de Eike Batista participará da composição do Ibovespa, índice que mede a evolução dos negócios na bolsa de valores. A OGX se despede ainda de outros nove índices, menos negociados, como confirmou a BM&FBovespa na noite desta quarta-feira, 30.
Conforme já estava previsto, as ações da OGX ficam suspensas, mas apenas no início do pregão, durante uma hora desde às 10h. Até as 16h, quem quiser vender ou comprar seus papéis estará liberado.
Depois, em processo com duração mínima de uma hora, no fechamento do mercado, em “procedimento especial de negociação”, será determinado o “preço de retirada” da OGX do Ibovespa.
Nesta sexta-feira, portanto, dia 1.º de novembro, os índices que hoje contam com as cotações da petroleira de Eike Batista seguem sem a empresa. Mas, apesar da recuperação judicial, a OGX “continuará a ser negociada normalmente”, segundo a bolsa.
Este é o primeiro caso do tipo nos mais de 45 anos do Ibovespa. Das 73 empresas listadas pelo índice, a OGX detém ainda o sexto maior peso. Fica atrás somente de Petrobrás, Vale, Itaú Unibanco, Bradesco e Banco do Brasil.
Sem choro nem vela. Para William Eid Júnior, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV), não há muito o que lamentar: o mercado só tem a ganhar com a saída da OGX do principal índice da bolsa. “Esse sobe e desce da OGX só atrapalha quem investe em fundos indexados ao Ibovespa”, diz.
Sobre as grandes perdas e as consequências da saída das ações da OGX de, ao todo, dez índices, Eid Júnior não vê motivos para reclamação. E medidas só poderiam ser tomadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), segundo ele, em caso de comprovação de fraude – o que não houve. Quem achar que vale o custo, que pague bom advogado. “A OGX prometeu, quem acreditou que arque com o prejuízo.”
Histórico. Desde o maior valor de mercado alcançado pela OGX, em outubro de 2010, foram perdidos R$ 74,7 bilhões. Trata-se de depreciação de 99,3%. A empresa tinha até o último pregão valor de R$ 550,1 milhões, calcula a consultoria Economática.
Quando a OGX abriu seu capital na bolsa (IPO, na sigla em inglês), em 12 de junho de 2008, cada ação valia R$ 11,31. A partir de então, em meio a uma série de anúncios promissores feitos ao mercado e projetos com grandes incentivos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), os papéis alcançaram ritmo forte de valorização.
Houve um dia, por exemplo, em que as ações da empresa valiam pouco mais que um bom chocolate suíço. No seu valor máximo, obtido em 15 de outubro de 2010, custavam R$ 23,27.
À época, a OGX anunciava descobertas e mais descobertas de reservas de petróleo. Um ano antes, por exemplo, revisou em 60% sua estimativa de produção, de 6,8 bilhões de barris para 10,9 bilhões.
Mas nem tudo correu exatamente como o prometido ao público.
Após algumas oscilações na bolsa ao longo do tempo, a OGX entrou de vez em queda livre neste ano.
Tombaço. O primeiro grande tombo veio em julho. Aconteceu sob o impacto do anúncio feito no dia 1.º daquele mês, de que não havia dinheiro em caixa para desenvolver alguma tecnologia capaz de explorar o petróleo dos campos de Tubarão Tigre, Tubarão Gato e Tubarão Areia, na Bacia de Campos.
Assim como o patrimônio da OGX despencou, Eike Batista também tem visto seu dinheiro ir embora. De maior bilionário do Brasil e 7.º homem mais rico do mundo, ele passou a ser “somente” milionário, em setembro deste ano. Sua fortuna pessoal, de US$ 30 bilhões em 2012, caiu para menos de US$ 900 milhões – aponta o último ranking produzido pela revista Forbes
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