Ao eterno Cavaleiro dos Sonhos

Por/ Poliana Policarpo

 

Houve um tempo em que as palavras coroaram as auroras dos dias.

E se falava de amor, dos segredos mais ocultos, dos mistérios insondáveis, da beleza humana em sua mais terna poesia.

E tudo floreava num rosário de sonhos.

Existir era o ato de mais puro encanto. As horas deleitavam-se nas colinas serenas, encobertas pelo mais reluzente sol.

E eu viajava o mundo pelas páginas dos diversos livros.

Ao som galopante do vento dançavam vivas flores numa grama verdejante e aveludada. E tudo era tão belo. E tudo era tão vivo.

O viver era leve, não se corria para sofrer. Não havia pressa para admirar a simplicidade. Ninguém era prisioneiro das horas, e as pessoas olhavam-se olhos nos olhos, apertavam-se as mãos e sorriam com a alma. Em meio a tudo isso- lá estava ele- o cavaleiro dos sonhos, o amante da vida, o poeta maior.

Ele sentia o coração do mundo, anotava e registrava as mazelas humanas, o calvário dos dias, a beleza da existência. Roubava e guardava cada sentimento. Era o artífice no imaginário das palavras.

O artesão- do espírito humano- concebia a existência numa escrita mágica e vibrante. Desenhava pelas letras os corações efervescentes dos amantes, o brilho de ouro nos olhares dos apaixonados.

Ensinou que havia Cicatrizes marcando o ser nos mais difíceis momentos da jornada. Eternizou o Cotidiano dos homens, seus lutos e angústias. Revelou, ao lado de um nobre companheiro, um caderno de versos feito com suor e lágrima, sol e desespero. Um Auto da gamela que desenhou sonhos, vidas e morte, seca e esperança.

Fez cada um sentir a rara sensibilidade do amor em emocionantes versos de um poeta e sua rosa.

Não olvidou de deixar escrito as amarguras sociais de um velho cais, rodeado de tristes e abandonadas raparigas. Fez o criador sorrir ao nos falar de um Cristo ainda vivo e presente nos corações dos homens, como uma centelha rara e divina.

Ainda expressou a labuta diária, o nosso viver e sofrer, a busca por algo invisível e maior.

De sua alma, explodiu a ânsia do ser, estampada nas múltiplas faces de um poeta.

Um verdadeiro, um genuíno homem dos versos.

Um dos últimos sonhadores escondidos no regaço de uma terra sertaneja.

Um homem que sempre revelou, por meio de suas lágrimas, a crença na pureza dos seres, a busca pela verdadeira liberdade.

E nessa onda imaginária, ele transcendeu, foi desbravando a fragilidade humana. Imaginando um mundo que alimentasse a inocência de nossos sonhos. Um mundo que ainda nos fizesse enxergar uma paz tão desejada.

Este é Carlos Jehovah. Um ser que, para mim, representa o que se chama de amor universal, o amor fraterno, como o de um irmão para uma irmã, de uma filha para um pai, um amor em que o sol não cobra pelo seus raios, em que uma árvore não se envaidece por oferecer sombra, em que a água de um mar- no horizonte eterno- não se torna impiedosa por ser infinita.

Com a inteireza de todo o meu coração desejo-lhe, imensamente, que a cada crepúsculo, e em todo alvorecer, seus ensinamentos, suas palavras, suas histórias, suas lições e seus versos continuem eternizados, em cada um de nós, hoje, e para todo sempre, como símbolos maiores da plenitude e nobreza d’alma, presentes no espírito dos grandes poetas.

Parafraseando Álvares de Azevedo, podemos dizer: eis aqui, Carlos Jehovah, foi teatrólogo, “poeta, sonhou e amou na vida”.

Poliana Policarpo