Artigo: ACADEMIA DO PAPO – Da Utilidade da Poesia

 

                                                                                                                                   Paulo
Pires

 

Da Utilidade da Poesia

 

Quando Frederico Garcia Lorca morreu
[1936] o prefeito de Vitória da Conquista era o senhor Florentino Mendes de
Andrade, sobrinho do famoso agropecuarista e tradicional político conquistense
Deraldo Mendes Ferraz. Naqueles idos a cidade já consolidava sua imprensa e,
paralelo a esse aspecto, apresentava grupos de intelectuais que representavam
com dignidade e sapiência aperitivos do cadinho de nossa Cultura.

 

Antes, porém, é oportuno assinalar
que em décadas anteriores o clima da cidade não era tão pacífico como desejavam
seus habitantes. Houve muitas arengas, hostilidades e mal-entendidos e isso
acabou levando cidadãos pacíficos de nossa terra a confrontos armados que a
rigor ninguém desejava. Essas ocorrências se deram entre as décadas de 10 e a
de 20, do século passado.

 

Uma geração de intelectuais, talvez
a primeira geração de nossa inteligência, se instalou no início dos anos 30
para os 40 e começou a expor por intermédio de idéias [nada beligerantes] que
tínhamos tudo para “nos resolvermos civilizadamente quanto às questões pessoais
e sociais”. A partir daí a cidade e os nossos cidadãos definitivamente
compreenderam que a melhor maneira de solucionar os problemas que nos afligiam
seria pela adoção de atitudes sustentadas “pela maturidade civil” em
conformidade com os preceitos da Lei e dentro das melhores regras da
convivência social.

 

Nossa
intelectualidade era representada por nomes como o do jovem Erathósthenes Menezes, professor Francisco Fagundes
Lima [pai de Camilo], Dr. Neves, Laudionor Andrade Brasil, Euclydes Dantas,
Iris Silveira, Rostil Matos, Camillo de Jesus Lima [que hoje dá nome ao nosso
principal palco de representações teatral, lítero-musicais] Padre Nestor Passos
e Bruno Bacelar, dentre outros. Há uma foto do grupo no site do amigo Luis
Fernandes (THVC) que reflete o espírito de preservação desse Historiador, hoje
um dos maiores repositórios de nossa História.  Na foto do Grupo só não aparece o rosto de Bruno
Bacelar.

 

 

Apesar
de a maioria desses intelectuais serem despossuídos de titulação acadêmica,
ninguém pode negar que eram homens estudiosos e que com os seus pensamentos e
incansáveis leituras [autodidatas] contribuíam enormemente para que a cidade
superasse moral e intelectualmente um entrevero medonho na década de 1920, cujo
nome recebeu o simpático nome de Guerra
dos
Meletes e Peduros. Essa
guerra municipal durou pouco menos de um ano e envolveu dois grandes grupos políticos
locais que se ironizavam com as denominações que se deram e acabaram aceitando
mutuamente: Meletes e Peduros. Acabado o Combate, os ânimos serenaram [eram
todos parentes] e a vida seguiu com pequenas rusgas, mas sem maiores
consequências.

 

Depois
que as armas foram depostas, foi proposta uma trégua e assinado um documento em
22 de janeiro de 1919, cujo nome recebeu o título de Pacto de Não Matar, com anuência e capitulação de todas as grandes
lideranças de Vitória da Conquista. Destacam-se entre os subscritores os
senhores Zeferino Correia de Melo, Deraldo Mendes Ferraz, Justino Gusmão,
Wenceslau dos Santos Silva, João Fernandes de Oliveira Santos e o mais rico dos
signatários o coronel Pompílio Nunes de Oliveira. Pelos sobrenomes, nota-se que
todos os grandes nomes do cenário conquistense se fizeram presentes. O documento
foi registrado no Tabelionato de Notas sob a responsabilidade do escrivão José
Joaquim Bastos e contém 19 assinaturas.

 

Convém
afirmar que tanto as senhoras de nossa sociedade, como os poetas de então foram
muito importantes para o armistício. Aqueles senhores [Os Poetas] ensinaram à
nossa Sociedade que era incivilizado e impossível construir grandes projetos
sociais para a cidade sobre bases beligerantes. Os poetas conseguiram incutir na
mentalidade dos senhores de então que a melhor forma para a harmonia social é a
relação propositiva, construtiva, em busca de um ideal comum. O entendimento
humano, quando bem construído, permite às sociedades atingirem os mais elevados
objetivos de uma civilização.

 

Dois
anos após a morte do grande poeta Garcia Lorca, nossos poetas sonhadores fundaram em 1938, conforme nos informa Luis
Fernandes, Mozart Tanajura e Aníbal Viana uma Academia Literária cujo nome seria
Ala dos Intelectuais de Conquista, mas que por sugestão de Carlos Chiachio
acabou recebendo o nome de Ala das
Letras de Conquista
, nome menos pomposo, mais condizente com a simplicidade
de uma Academia localizada no sertão da Bahia. Passado o tempo, a Cidade deu um
saldo de qualidade e sua população vive hoje um dos seus melhores dias. Estamos
entre os 80 melhores municípios do País com tendência de mais avanços sociais
em todos os campos.  Viva nossos
Artistas, salvem os nossos Poetas.