AS OLIMPÍADAS – Criadas em 776 a.C. – marco inicial da história grega – os jogos olímpicos nasceram em Olímpia, cidade envolta em lendas aqueias que teve Saturno como primeiro competidor que batera vários recordes, seguido de Apolo. Lá, como cita o autor de “História dos Gregos”, Indro Montanelli, se encontravam, lado a lado, deputados esquerdistas de Atenas, filósofos e generais espartanos.
Pelo regulamento, as mulheres eram excluídas dos espetáculos e das competições, mas houve um caso de transgressão praticada por Ferenica de Rodes, filha de um grande campeão de luta. Passava-se por descendente de Hércules. Disfarçou-se de treinador para assistir a luta do filho que derrubou o adversário. No entusiasmo, precipitou-se ao ringe e o disfarce caiu. Como foi reconhecida, a lei a condenava à morte.
Acontece que Hércules, o campeão do mundo, desceu dos céus para testemunhar ao seu favor e reconheceu-a como sua própria descendente. A acusada foi absolvida. Para evitar que outro caso ocorresse, impuseram normas de que atletas e treinadores se apresentassem nus.
A primeira competição era a corrida dos duzentos metros (pista de 211 metros de comprimento por 32 de largura). Um atleta de Argos, ao vencer a corrida, não parou na meta, mas continuou correndo até sua cidade, distante quase 100 quilômetros e duas montanhas, para informar sobre seu sucesso. Depois vinha a corrida dupla de 400 metros e, por fim, o dólico, 14 quilômetros. Vinha depois o atletismo pesado.
O pugilato era só para homenzarrões forçudos do tipo Estratófanes. Lembrando o cão Argos de Ulisses que o reconheceu depois de 20 anos de ausência, um amigo lhe disse depois de um embate: Experimenta voltar para casa e verás que acolhida te fará teu cachorro!
Na corrida de cavalos, no hipódromo, com pista perigosa e traiçoeira de 770 metros, quase sempre havia mortes. Uma vez, de quarenta que partiram, só um chegou à meta. Chamavam Olímpia de cidade santa, mas nem tudo era assim. Os jogos representavam multidão, circo, barulho, prazeres e ladrões.
Alexandre, o Grande, considerou Olímpia capital da Grécia. Alcançou o apogeu no sexto século. Para os historiadores, as olimpíadas passaram a servir de base para contagem dos anos. Em 582 inauguraram os jogos pan-helênicos, os de Delfos, em honra de Apolo, e os ístmicos, em Corinto, em honra de Posídon. Em 576 criaram os de Niméia, em honra de Zeus.
Entre as disputas, não existia a maratona. O soldado Fedípoda, que fez a corrida de 20 milhas e nela perdeu a vida para anunciar a Atenas a vitória de Maratona, foi o único que não recebeu prêmios. Olímpia conservou-se como capital dos esportes por mais de mil anos, de 776 a.C. a 426 d.C., quando Teodósio II mandou soldados destruírem até o edifício do estádio.
O TEATRO – Aristóteles atribui a origem do teatro às procissões organizadas em honra de Dionísio, deus desavergonhado. Foi em Siracusa, no século sexto a.C. onde aconteceu a primeira representação. Um certo Susarião teve a ideia de transformar os monólogos em diálogos. A partir dai formaram-se companhias ambulantes.
Téspias inventou o personagem, separando-se do coro, dando início ao elemento fundamental do drama, o conflito. A inovação causou escândalo e Téspias fugiu de Atenas. Mais tarde, Pisístrato deu-lhe um prêmio literário. No ano 500 a.C., enquanto se representava uma obra de Pratina, o local desabou. Então, o povo julgou que era hora de se ter um local mais seguro. Assim nasceu o primeiro teatro num ângulo da Acrópole, dedicado a Dionísio.
O governo escolhia os melhores originais dos autores e depois era feita a seleção do corego, o financiador e o diretor do espetáculo. O coro, composto de 15 pessoas, todos homens entre cantores e dançarinos, não desapareceu depois de Téspias.
O público ateniense queria mesmo era saber como era o fato, e isso favoreceu grandes atores, muitas vezes malandros que gozavam de privilégios, como isenção do serviço militar e livre trânsito através das linhas durante as guerras. Tais atores chamavam-se hipócritas, ou replicantes porque respondiam ao coro.
Nos teatros ao ar livre era necessário recorrer a máscaras caricaturais e aumentos físicos com saltos. Quando Aristófanes, com “As Nuvens”, encenou Sócrates, já por si era uma caricatura. O ingresso era pago, mas quem não possuía os dois óbolos para a entrada, recebia-os gratuitamente do governo. Na entrada, os sexos separam-se, e as cortesãs têm um recinto à parte. O espetáculo dura um dia inteiro, do nascer do sol ao anoitecer. No palco desenrolam cinco obras, três tragédias, uma comédia satírica e um monólogo.
É preciso ir bem preparado, levando tudo, bebidas, comidas, travesseiros, dados e palavras cruzadas. A plateia é móvel, queixosa e briguenta. Ali se come, bebe, se muda de lugar para visitar os outros e se manifesta livremente tudo o que pensa. Soam aplausos, estouram gritos, voam figos, laranjas e até pedras. Ésquilo, por exemplo, a custo escapou ao linchamento da multidão. Um compositor gabou-se ter construído a casa com os tijolos atirados nele.
Quando Frínico apresentou “A Queda de Mileto”, os atenienses ficaram tão agitados que o governo lhe aplicou multa de cem dracmas por crueldade mental. Nas modalidades de concurso, o prêmio pelas três tragédias é uma cabra, e a comédia recebe um cesto de figos. Os vencedores são escolhidos por uma comissão de dez juízes indicados pelos espectadores.
OS “TRÊS GRANDES” DA TRAGÉDIA – Para festejar o triunfo sobre os persas em Maratona, o governo financiou espetáculos dionisíacos. Em 484 a.C., Ésquilo ganhou o primeiro prêmio. Quatro anos depois, os persas voltaram com Xerxes para a desforra. Com 45 anos e poeta laureado, Ésquilo tornou a abandonar a pena e empunhar a espada. Em 479 retomou à atividade até 468 quando cedeu seu lugar ao jovem Sófocles.
Ésquilo, com setenta ou noventa tragédias, introduziu grande reforma técnica, com mais um ator. Com isso, o canto dionisíaco se transformou de oratório em drama. O tema “a luta do homem contra o destino, do indivíduo contra a sociedade e do pensamento livre contra a tradição”, ficou por muito tempo.
Sófocles amava o dinheiro e administrou com sabedoria a herança do pai. Era devoto dos deuses. Em compensação, exigiu deles o direito de trair a mulher e frequentar os locais mais ambíguos. Mesmo velho, enamorou-se de Teorides que lhe deu um filho bastardo. O filho legítimo Jofonte citou o pai no tribunal para interditá-lo por loucura.
O velho limitou-se a ler para os juízes uma cena da tragédia “Édipo em Colono”, que no momento estava compondo. Os juízes não só o absolveram, como o acompanharam até sua casa em sinal de admiração. Morreu em 406 com quase 90 anos.
Compusera 113 tragédias. Os sete trabalhos que restam provam que este homem tão afortunado, espirituoso, alegre, gozador, era um negro pessimista na poesia.
Eurípides, o jovem rival de Sófocles, nasceu em Salamina, no mesmo dia da famosa batalha. Foi aluno de Pródico e Anaxágoras, e muito amigo de Sócrates. Dos 18 trabalhos existentes, dos 75 que lhe são atribuídos, ficou evidente que Eurípides não se importava muito com o teatro em si. Para ele, era um meio de expor suas teses filosóficas.
Sua perspicácia psicológica tornava reais seus personagens. Electra, Medéia, Ifigênia são os caracteres mais vivos da tragédia grega. Era forte sua argumentação sobre os grandes problemas que agitavam a consciência dos seus contemporâneos.
Para destruir certas tendências religiosas, Eurípides fingia exaltá-las, mostrando o lado absurdo. A toda hora escapavam frases como esta: O deus admitindo que haja deus, porque dele só tenho conhecimento por ouvir dizer… Tumulto na plateia. Com “Hipólito” pôs esta frase na boca do herói: Sim, minha língua jurou, mas meu espírito permaneceu livre. Quiseram linchá-lo.
Os conservadores o odiavam. Aristófones o fez alvo direto de três de suas comédias satíricas. Mas, quando os dois se encontravam na ágora portavam-se como os melhores amigos do mundo. Em 410 processaram por impiedade e imoralidade. Sua mulher foi uma das testemunhas de acusação porque ele não se empenhara na luta contra Esparta. O acusado foi absolvido.
Depois que encenou “As Mulheres Troianas”, compreendeu ser um estranho em sua pátria. A convite do rei Arquelau, foi para Pela, capital da Macedônia, onde morreu estraçalhado por cães vingadores dos deuses ofendidos. Sócrates dissera que, por um drama de Eurípides, iria a pé ao Pireu, cerca de 100 quilômetros. Plutarco conta que quando os siracusanos aprisionavam um batalhão ateniense, colocavam em liberdade os soldados que recitassem de cor alguma cena de Eurípides. Goethe julgou ser superior a Shakespeare. Foi o primeiro dramaturgo de pensamento que o mundo possuiu. Por jeremias macário
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