Um passo à frente e três atrás. Assim é o crescimento de épocas em épocas curtas do Brasil primário com repetidas crises agudas, bem mais acentuadas que o capitalismo como um todo, conforme cálculo de Karl Marx. Sem planos estratégicos o futuro de uma nação é incerto.
Com economia frágil, desprovida de planejamento intensivo e fincada no agronegócio (no inicio era a monocultura) com maior peso na exportação de produtos primários e dependência dos industrializados finais, como a química fina, o nosso país é o primeiro a entrar numa crise de cunho externo e um dos últimos a sair dela.
Esta marca do improviso, com raras exceções, do endividamento dos recursos vindos de fora, do capital egoísta explorador e concentrador de rendas, da falta de compromissos sérios dos governantes para com as causas sociais, desde os tempos coloniais e imperiais, fizeram do Brasil um país feio, desengonçado e atrasado, de difícil recuperação.
De subdesenvolvido a emergente (só trocam os termos), esta terra de Santa Cruz não consegue galgar um crescimento desenvolvimentista sólido e duradouro, e ainda se vangloria da supremacia na agropecuária dos grãos e da carne, como sempre o carro-chefe da economia que evita quedas maiores do PIB (Produto Interno Bruto), ou ajuda na sua alta pífia de 1%, como a do ano passado. A base do superávit da balança comercial está nas matérias primas.
Mais uma vez, o destaque do PIB de 2017 foi o agronegócio altamente subsidiado, com 13% (milho, soja, algodão, carne e outros primários), com serviços e comércio pouco acima de 1%, e a indústria se arrasta com baixos índices de produtividade, hibernada no negativo ou na estagnação.
Na pauta de exportação valem bem mais os grãos, o ferro, o petróleo cru, alguns manufaturados e semi-industrializados (laminados de ferro e alumínio, celulose de papel e petroquímicos). O comando é sempre das matérias-primas que oscilam de preços e dependem da demanda dos grandes consumidores.
Da colônia, do império à república, os ciclos de produção, desde o Pau Brasil, a cana-de-açúcar, a pecuária, o ouro, a borracha e até o cacau, na Bahia e na Amazônia, tiveram seus picos de alta e depois entraram em fracasso, Da independência herdou uma pesada dívida para com a Inglaterra. A diversificação lenta da economia para o campo da indústria só se deu na segunda metade do século passado, muito menos pela iniciativa privada acumuladora de lucros em aplicações financeiras, e praticamente pela mão paterna do Estado.
A classe trabalhadora sempre foi explorada pelas empresas, principalmente as multinacionais do imperialismo norte-americano que aqui se implantaram para sugar nossas riquezas e usar a mão-de-obra barata. Tudo sempre voltou para os países de origem.
Os operários só vieram ter um alento em termos de benefícios e direitos trabalhistas a partir do segundo Governo de Getúlio Vargas, com sindicatos ainda pelegos amordaçados pela ditadura dele, de 1930 a 45. Ali começavam os golpes e as sucessivas crises.
Juscelino Kubistchek se notabilizou pelo entreguismo e mais endividamento pela construção de Brasília e mais abertura de estradas, privilegiando as rodovias com os carros das primeiras montadoras automobilísticas, em detrimento do transporte ferroviário e fluvial. A inflação começou a corroer as parcas economias dos mais pobres e quase nada em programas sociais, em educação e saúde.
Os primeiros sinais de planejamento só vieram acontecer no final da década de 50 pra 60 com os grandes economistas como Celso Furtado, o baiano Rômulo Almeida, com quem tive boa aproximação à frente da criação do Polo Petroquímico da Bahia, Anísio Teixeira, na educação, e outras cabeças pensantes, mas foram logo extirpadas pela ditadura de 1964.
Daqueles quadros preparados nasceram grandes órgãos e projetos, como a Sudene e Sudam, visando reduzir as desigualdades regionais e sociais, mas as elites burguesas, mais uma vez, podaram os anseios visionários desenvolvimentistas para colocar o Brasil num sólido crescimento.
A ditadura de 1964 arrebentou e escancarou as portas para Estados Unidos e outros países ocidentais capitalistas selvagens, dentro da sua ótica de repressão e segurança nacional onde o maior inimigo era o interno. Criaram, na década de 70, o “milagre econômico”, baseado no forte endividamento externo com recursos fáceis dos petrodólares. Já no final da década de 70 tudo se dissolveu como num castelo de areia. A pregação é inchar o bolo para depois dividi-lo, mais uma ilusão e enganação.
A inflação passou a ser galopante, e a década de 80 foi toda perdida, cheia de crises na política e na economia, com crescimentos pífios em relação a outros países desenvolvidos e em desenvolvimento. Tudo que era arrecadado mal dava para pagar a dívida externa contraída nos outros governos passados. Nada de planejamento sério, e tudo era na base do improviso dos decretos e das medidas provisórias dos pacotes e planos cruzados e cruzeiros.
O Plano Real de 1996 deu um chega pra lá na inflação e alguns programas sociais aliviaram as classes trabalhadoras e mais baixas com alguns ganhos no aumento da renda, mas não o suficiente para consolidar o desenvolvimento de longo prazo. A educação, fundamental para isso, continuou sendo relegada.
O governo neoliberal e globalizante privatizador das estatais permaneceu enchendo os bolsos dos patrões do sistema financeiro e das empresas privadas em geral, sempre emprestando dinheiro altamente subsidiado. No mercado do salve-se quem puder, o Estado mínimo deixou desamparado o rebanho das camadas mais necessitadas.
Não podemos negar que a renda melhorou entre final dos anos 90 e a década de 2000 até por volta de 2010, principalmente. Mas o governo, tido como pai dos pobres e mãe dos ricos, os mais fortes e gananciosos sem escrúpulos e ética, com os quais a esquerda se coligou, levaram a melhor e começaram a encolher os benefícios sociais conquistados.
Na esteira de tudo isso, estouraram os escândalos do “mensalão” e do “petrolão”, verdadeiros arrombamentos de cercas com o estouro da boiada dos corruptos, malfeitores e assaltantes que saquearam os cofres públicos. Logo o crescimento que vislumbrava no horizonte cedeu lugar ao caos na moral, na ética, na política e na economia.
O resto já é sabido de todos com o roubo da Petrobrás e de outras estatais pelos políticos e empreiteiras, o impeachment da presidente, o desemprego de 13 milhões de pessoas, a tomada do poder pela tropa da direita extremista dos vampiros, a divisão do país entre “coxinhas” e “mortadelas”, a intolerância desenfreada, o estraçalhamento da economia, o arrocho à classe média e trabalhadora e o consequente corte das poucas conquistas sociais.
Na escuridão, sem uma luz no fim do túnel e nas garras dos aventureiros e oportunistas que retalharam o país, sem a prioridade na educação, seguimos caminhos incertos e no improviso, sem saber o que possa acontecer na frente.
O que temos no agora é mais um crescimento ilusório e mais concentrador de renda. Neste quadro assustador, estamos sim, sujeitos a novas crises violentas, com o aprofundamento das desigualdades sociais. O crescimento é torto onde só poucos prosperam ao lado de uma grande pobreza.
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