Por – Pr STÊNIO ARAÚJO VERDE CRÔNICA DO UM DIVÓRCIO
O fim do casamento de Heroína e Narciso, depois
de anos de convívio, dois filhos maravilhosos, criados com padrões bíblicos
tendo como amigos pessoas de alma cristã se deu no meio da madrugada quando
dois carros pararam em frente a Central do Brasil e uma amante enfurecida
desceu do carro agredindo Heroina com palavras de baixo calão e puxões de
cabelo. Um escândalo a céu aberto tendo como testemunhas centenas de pessoas
que ali aguardavam a chegada do trem.
Em meio a confusão os filhos do casal se
desesperavam dentro do carro ao ver a mãe em luta corporal com a vadia,
enquanto que o pai adúltero tentava vergonhosamente apaziguar a briga com
palavras e empurrões, mas sem sucesso.
– Sua cachorra! Prostituta!
Gritava a esposa desesperada e valente, numa
última tentativa de salvar seu casamento e pôr um grão de vergonha no coração
do marido que havia a muito perdido qualquer pudor.
A iniciativa de Heroína não funcionou. Seu
último grito não foi sequer ouvido. Não havia mais o que fazer, o câncer do
adultério tomara todo corpo conjugal. Era o fim.
Heroína fez jus ao seu nome. Quando soube do
adultério pela boca de seu ex-esposo, depois de tê-lo arguido insistentemente e
recebido respostas nada convincentes, ficou arrasada. Parecia não acreditar no
que ele dizia.
“Estou tendo um caso com uma pessoa a pouco mais
de três meses” – Confessou meio sem jeito Narciso e com medo da reação de
Heroína.
O apartamento, num bairro nobre do Rio de
Janeiro, parecia agora um lugar sem beleza alguma, o ninho estava destruído,
tudo perdera sentido – dinheiro, carros e imóveis. O que importava agora para
Heroína não era a casa, o apartamento, mas o lar, a família e isso a motivou a
ir à luta e pedir auxílio pastoral.
Passado o susto, Heroína assumiu uma postura
muito firme, queria restaurar o seu casamento a todo custo, estava disposta a
lutar. Uma guerreira, uma heroína de fato.
Durante todo um ano Heroína buscou com todas as
forças trazer de volta o marido que a cada dia parecia mais distante como
alguém que está em coma, em estado vegetativo num leito de uma UTI.
O telefone se tornou a arma de guerra de
Heroína, ligava sempre para seu pastor quando alguma coisa a perturbava ou
alguma decisão precisava ser tomada.
Seu apartamento luxuoso foi transformado numa
clínica pastoral, seus sofás eram divãs, mas nada, nada do que ali era tratado
de forma cuidadosa e paciente era ouvido por Narciso, ele estava em outro
planeta, era um alienígena em sua própria casa.
Tudo o que foi possível ser feito, todas as
manobras de ajuste, toda as orientações à luz das Escrituras, foram dadas mas
nada penetrava o peito emplumado de Narciso, ele estava blindado por uma louca
paixão.
A moça com quem se envolveu física e
emocionalmente vinha de uma família sem princípios cristãos, ela se agarrou com
unhas e dentes ao ingênuo Narciso. Ele caiu na arapuca, era tarde demais. A
cama se tornou seu front daquela mulher vazia, o motel seu habitat, ela, usou
seu próprio corpo para comprar a alma de Narciso. O velho Sansão caiu nos
braços de Dalila e o fim de sua vida foi girar a roda da desgraça numa prisão
suja, depois de ter tido seus olhos vazados pela sua própria estultícia.
Narciso e Sansão muito se assemelham. Sansão
também experimentou o divórcio e entre a legítima esposa e Dalila, ele se
envolveu com uma prostituta na cidade de Timna. É sempre assim, a prostituição
está sempre de permeio entre uma mulher-esposa e uma vigarista.
Dalila prometia seu amor a Sansão mas haviam
interesses maiores por trás daquela aparente paixão. Sansão e Narciso não
perceberam.
Pois bem, na verdade Narciso nunca soube beber a
agua da sua própria cisterna, não aprendeu a fazer de sua esposa um manancial,
ele nunca tocou os seios de sua gazela de amores com sabedoria. Ele morreu de
sede ao lado de uma linda mulher por longos anos. Provérbios 5.15-23.
O impulso carnal, as obras da carne tomaram
conta dele e a sede acumulada foi saciada na loucura e na volúpia dos peitos de
uma mulher adúltera.
Nem o próprio Narciso conseguia explicar bem o
que acontecera, vasculhava argumentos que o pudessem escudá-lo diante do seus
amigos que sempre o aconselhava a voltar para Heroína.
Muitos pensamentos maus povoaram a mente de
Narciso durante este processo doloroso.
–
O
que importa é a minha felicidade!
–
O
importante é estar bem com Deus!
Esta última frase em especial, foi o gatilho que
faltava para assumir de vez o seu adultério. Ele aprendeu esta frase num livro
sobre o fim do casamento. Era a peça mental que faltava na estrutura
arquetipica de sua loucura e que lhe daria sustentação “psicológica” e a
argumentação necessária diante de seus conselheiros e diante de si mesmo, para
levar adiante seus planos fantasmagóricos.
Pronto! A loucura estava agora bem assentada em
seus neurônios.
Essa estrutura de pensamento, essa falácia bem
montada, deu a ele a falsa sensação de bem-estar, e impulsionado pelo
auto-engano estava disposto a passar por cima de tudo aquilo em que antes
acreditara e construíra.
Quanto a Heroían, ela estava consciênte de seu
marido estava morto, seu coração e mente frios como a sepultura, aquele homem
antes tão amável, um jovem cristão tão admirado por todos, um exemplo de
conduta e maturidade cristã, não existia mais, agora era cínico, mentiroso e
contumaz.
A Central do Brasil assistira, não uma briga
naquela noite, mas um funeral a morte aterradora de uma família.
Todo fim tem também um começo e o começo do fim
de qualquer relação conjugal é sempre um divórcio relacional.
Heroína não se dava conta de que seu esposo aos
poucos se divorciava, os sinais eram quase imperceptíveis; um pouco de
insatisfação com ela em algumas atitudes, alguns murmúrios na solidão da sala
de estar que não chegava aos seus ouvidos, e tudo isso era mesclado com acessos
de tempos em tempos ao submundo da internet, visitando sites pornográficos e se
masturbando física e emocionalmente com aquelas mulheres virtuais, estéticas e
simuladas.
Algumas vezes heroína flagrou seu esposo nestas
práticas, mas ela não percebia que as visitas aos prostibulos virtuais eram
sinalizações perigosas de que seu casamento estava correndo perigo. Foi fatal
esta falta de percepção. Adultério é adultério seja no mundo real, concreto ou
no mundo plástico da internet.
Não demorou muito e Narciso estava diferente,
não era mais o mesmo homem, havia trilhado pelas veredas tortuosas cujo fim é a
morte como afirma a Bíblia em Provérbios 2.18,19.
Porque a sua casa(prostituta)
se inclina para a morte e as suas veredas para o reino das sombras da morte;
todos os que se dirigem a essa mulher não voltarão e não atinarão com as
veredas da vida.
De fato, Narciso nunca mais voltou como afirmam
as Escrituras, as sombras da morte o abraçaram e ele nunca mais encontrou os
caminhos da vida.
Tempos depois caiu em si, chorou muito, mas era
tarde, muito tarde, sua bela esposa agora estava casada com um homem de
verdade, um homem carinhoso e amigo fiel.
Os filhos que na ocasião do divórcio eram ainda
crianças experimentaram durante boa parte da infancia e juventude, o luto e ao
mesmo tempo a orfandade. Narciso se tornara um pai fantasma no imaginário de
seus filhos, uma assombração que aos poucos foi se dissipando pela presença
vigorosa do novo marido de Heroína, o verdadeiro pai. Aquele homem bom foi o
remédio divino para sanar as dores do divórcio.
Narciso não teve contudo a mesma sorte,
envolveu-se com muitas mulheres, perdeu tudo o que havia amealhado durante boa
parte de sua vida; perdeu a sua reputação, sua vida cristã, perdeu a família
que Deus havia planejado pra ele, perdeu tudo, tudo mesmo.
Narciso hoje esta aposentado, cinquenta anos se
passaram desde que se divorciara de Heroína, seu hábito é ficar sentado num dos
bancos de cimento em frente a Central do Brasil, sozinho entre milhares de
pessoas que passam todos os dias para pegarem o trem.
Ele nunca mais encontrou alguém como Heroína.
Seus filhos hoje casados não o procuram pois sabem que ele está morto. Ele que
havia começado tão bem, agora terminava tão mal.
Aqui matei minha família e aqui morrerei – dizia
Narciso enquanto olhava sua imagem numa poça de lama num buraco da calçada que
numa noite fria, serviu de palco para o seu fim.
Porque os retos habitarão a
terra, e os íntegros permanecerão nela. Mas os perversos serão eliminados da
terra, e os aleivosos dela desarraigados. Pv 2.21,22
Pr STÊNIO ARAÚJO VERDE <[email protected]>
Para: Ig. Bat.Mem. Centenário <[email protected]>
Enviadas: Quinta-feira, 27 de Outubro de 2011 16:01
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