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Dia de Luta do Povo Negro!
Neste 20 de Novembro, participe das atividades em todo o Brasil.
Joilson Bergher*
“TAIRINY INGRID Sá Ribeiro Santos, de 21 anos, pretende realizar este ano o sonho de passar no vestibular. Aluno de um cursinho popular para negros e trabalhadores, a jovem vai prestar o curso de filosofia e mira principalmente as universidades federais. A motivação para conquistar uma vaga aumentou ainda mais depois que soube da vigência da Lei das Cotas sociais e raciais, sancionada pela presidenta Dilma Rouseff em 29 de agosto. Agora por lei, no mínimo metade das vagas de universidades e institutos federais deve ser reservadas para estudantes que tenham cursado todo o ensino médio em escolas públicas. Dessas, 25% pode ser distribuídas entre negros, pardos ou indígenas, de acordo com a proporção dessas populações em cada Estado” {Jornal Brasil de Fato, outubro, 2012}. Completa-se assim no Brasil o que fora propugnado pelo grande herói negro, ainda nos anos de 1600, Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares. Grande guerreiro da luta revolucionária popular do Brasil, a luta contra a dominação colonial, abjeta, acéfala e racial. Rememorar seu nome e sua luta é acabar de forma definitiva com a tentativa constante de quem não se reconhece negro. Se querem invisibilizar o negro, a história, a resistência… não conseguirão, jamais. Está na ordem do dia: gravar o negro colocar o seu nome no País, no panteão da História. Tal luta se faz sintomática. Aos poucos historiadores negros e militantes revolucionários, como o trotskista Benjamim Péret. Zumbi vai sendo reconhecido oficialmente por força de uma política intensamente demagógica. Mas não só Zumbi. Dandara, por exemplo, foi uma grande guerreira na luta pela liberdade do povo negro. Ainda no século XVII, participou das lutas palmarinas, conquistando um espaço de liderança. De forma intransigente, entendia que a liberdade era inegociável. enfrentando todas as batalhas que sucederam em Palmares. Era a companheira de Zumbi. Opôs-se, juntamente com ele, a proposta da Coroa Portuguesa em condicionar e limitar reivindicações dos palmarinos em troca de liberdade controlada. nome para a história. Luíza Mahin foi uma protagonista importante na Revolta dos Malês. Conforme alguns estudiosos, se essa revolta vingasse, Luísa seria a rainha da Bahia. Construindo um reinado em terras brasileiras, já que fora princesa na África, na tribo Mahi, integrante da nação nagô. Foi alforriada em 1812. É bom que se diga também: participou da Sabinada entre 1837-1838. Perseguida, acabou fugindo para o Rio de Janeiro. Não se sabe ao certo, mas imagina-se que essa importante mulher tenha sido extraditada juntamente com seus companheiros muçulmanos africanos que encabeçaram a Revolta dos Malês. Não poderia deixar de falar sobre Carolina Maria de Jesus, nascida em 1914, em Sacramento, Minas Gerais. Essa negra como muitas no Brasil, é oriunda de uma família extremamente pobre, trabalhou desde muito cedo para auxiliar no sustento da casa. Com isso, acabou não freqüentando a escola, ao contrário, teve que trabalhar duro, ir pra São Paulo, indo morar na favela, para sustentar a si e seus filhos, tornou-se catadora de papel. Guardavam alguns desses papéis, para registrar seu cotidiano na favela, denunciando a realidade excludente em que viviam os negros. Em 1960, foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas, que conheceu seus escritos. Assim, ela escreveu o livro Quarto de Desejos, que vendeu mais de 100 mil exemplares. Ou ainda, Aqualtune, uma princesa do Reino do Congo, trazida a força escravizada para o Brasil, logo que foi derrotada em guerra no interior do reinado. Quando desembarcada no Brasil em Recife, foi vendida e levada para o sul de Pernambuco. Não demorou a integrar os movimentos de fugas que explodiam no regime escravista, tornando-se uma liderança importante para os quilombos de Palmares. São muitas e muitas histórias. Precisamos ir pra história, conhecer a história. O resgaste memorialista desses homens e mulheres, agora, registrada no “Livro dos Heróis da Pátria”. Ainda hoje temos muita demagogia e muitas das reivindicações dessa parte da sociedade no Brasil, não foi plenamente atendidas. Não basta o ex-presidente luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, inscrever no calendário escolar o 20 de novembro como Dia Nacional da Consciência Negra. Volto a futura acadêmica TAIRINY INGRID Sá Ribeiro Santos, do início do texto. Ela quer ser Filósofa! Porque tal escolha? Em filosofia, “O que sou? Essa é uma das primeiras perguntas que surgem para quem quer filosofar. A jovem estudante deve saber que vai se iniciar uma história de perguntas sem fim. Chegará fatalmente no bom sentido é claro, a África, onde parte da nossa história começa. Provavelmente essa jovem Tairiny Ingrid sabe que de acordo com o Censo Demográfico do IBGE, o número de negros no ensino superior aumentou de 790 mil em 2000 pra 6,2 milhões em 2010. sendo que, apenas 3,27% dos 15 milhões auto-declarados como pretostêm ensino superior completo. Os negros representam ainda 24,4% dos estudantes diplomados, 0,11% dos mestres e 0,03 dos Doutores. Como se vê, o Brasil possui uma larga superfície para transpor. É a iniqüidade em torno do conhecimento aos invisibilizados, finalmente, visíveis. Não queremos o mínimo, é o máximo que ser quer. Portanto, rememoro aqui o Marinheiro negro João Cândido quando declara o 20 de novembro como “Dia de Luta do Povo Negro”, para se contrapor às atividades meramente festivas da data e lembrar que se trata de uma data de luta. Na verdade, tal data deveria ser em todo o Brasil um ato-debate com o objetivo de discutir os problemas da população negra. Ele punha por terra tudo o que julgava danoso aos deserdados do Estado, para então construir o seu conhecimento, conhecimento na base da luta e da resistência. É como diz o Reggman, Edson Gomes, em uma de suas canções, ‘Vamos amigo lute, vamos amigo lute, se não gente acaba perdendo o que já conquistou êa” É um bom desafio.
*Joilson Bergher, professor de História, especialista em Metodologia do Conhecimento Superior/UESB, pesquisador independente do negro no Brasil, Graduando em Filosofia, UESB
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