Artigo: Eu Não Sou o Seu Pastor


Cada vez mais eu me convenço que não sou pastor de muita
gente, eu não vou prestar contas diante de Deus a respeito de muitas pessoas
que se dizem minhas ovelhas e me tem como pastor e que, no fundo no fundo, são
apenas minhas ovelhas da boca pra fora e se consideram como tal porque seus
nomes estão arrolados numa folha de papel ofício no fundo de um arquivo
eclesial ou porque me ouvem pelo rádio e se consideram ovelhas virtuais.

Eu não vou me iludir, sou pastor de um pequenino rebanho, e
cada vez mais eu sei quem é quem no convívio diário e saberia chamá-las pelo nome
como o próprio Cristo falou em João dez.

Nele eu aprendo que o pastoreio só acontece de fato,  na medida em que a ovelha ouve a nossa voz e,
quem não me ouve, na medida em que falo em Deus, não é minha ovelha, pode ser
ovelha de falsos pastores mesmo que se considerem pertencidas por mim. Deus não
vai me pedir contas dessas ovelhas que aparentemente são minhas. Que elas se
iludam, eu não! Considero-as minhas amigas em Cristo, mas não minhas ovelhas,
sei que de certa maneira eu as influencio, mas não as pastoreio.

Pastoreio implica intimidade. Jesus falou a respeito de
suas ovelhas dizendo que elas o conheciam, sabiam quem ele era, sabiam devido à
proximidade, sabiam porque elas o acompanhavam de perto, conheciam-no na
intimidade.

Pessoas distantes de mim, que me conhecem somente no
púlpito ou no gabinete pastoral não são minhas ovelhas e nem eu sou o pastor
delas. Pensando nisso eu não me considero pastor daquelas pessoas que mal
frequentam a igreja, pois ali quando o rebanho se reúne no aprisco, é que o
ministério pastoral se revela pela mensagem bíblica e pela orientação geral ao
rebanho.

Aquelas pessoas que se acostumaram a não frequentar a igreja
não são minhas ovelhas, não responderei por elas. Com certeza elas acertarão as
contas diretamente com aquele que, através do texto de Hebreus, não recomendou
tal procedimento (Hebreus 10.25)

Não sou pastor das pessoas que se consideram minhas
ovelhas, mas vivem ocultamente ou descaradamente na prática do adultério, do
roubo, da malícia, da homossexualidade ou de qualquer prática moral que fere o
caráter do Sumo-pastor.

Não sou pastor das pessoas que não buscam a minha opinião,
o meu conselho, as minhas orações em situações difíceis de suas vidas ou em
decisões estruturais que afetarão sensivelmente seus rumos existenciais. Nesse
aspecto então eu diria; sou pastor de poucos, posso contar nos dedos. Estas são
ovelhas que não tem em mim, um pastor.

Pastoreio também implica em que as ovelhas permitam ser
pastoreadas, reconheço que não é permitir que o pastor esteja à frente. Eu
entendo que as ovelhas me seguem porque eu sigo a Cristo e foi ele quem me
vocacionou ao ministério pastoral e na medida em que estas pessoas me seguem,
seguem também a Cristo, e se assim não for, o ministério pastoral não tem
utilidade.

Eu deixaria o meu ministério se percebesse que ninguém me
segue como pastor e, dou graças a Deus por ter um pequenino rebanho que me ama,
me ouve e que nesta proximidade termina ouvindo Deus através de mim.

Estes recebem orientações que vem do céus para elas e eu
sirvo apenas como canal pastoral, visto qeu Deus me chamou, me vocacionou e tem
me projetado para isso. Não há orgulho algum em falar da forma que falo, é
somente sobriedade e sinceridade e o reconhecimento que em Deus, eu sou assim.
É um dom!

Acredito que Deus gosta de pastorear indiretamente, ou
seja, através de pastores humanos, e estas pessoas que dizem que me seguem, mas
não seguem, terão muita dificuldade de seguir a Cristo. Ora se elas não
conseguem seguir um modelo humano, visível, com certeza não conseguirão seguir
um modelo invisível, ainda que real.

Não sou pastor daqueles que dizem estar comigo, mas na
verdade seguem mais os pastores da prosperidade, os pastores do
neopentecostalismo ou
ultra-conservadorismo. Não sou deste tipo de pastor, não creio que estes
sejam modelos de pastoreio, não visto estas roupagens ideológicas e as repudio
com toda veemência de minha alma.

Não sou pastor daqueles que creem em cobertura espiritual,
curandeirismo evangélico, barganha econômica, encabrestamento psíquico, aqueles
que creem no fenômeno estranho de cair no espírito e em outras manifestações do
evangelicalismo atual.

Esses que creem nestas coisas estão debaixo de um falso
pastoreio. São ovelhas que não tem pastor e por isso precisam de todas estes
artifícios para se auto afirmarem como ovelhas de pastores que nada são.

Pastor está em extinção e ovelhas também. O grande desafio
do pastor é o pastoreio e não apenas o nome de pastor. O grande desafio de uma
ovelha é ser ovelha que tem pastor.

Pr. Stênio de Araújo Verde