Pelo menos 288 municípios baianos não possuíam, em 2017, qualquer plano de gestão integrada de resíduos sólidos. O levantamento é o último disponível no Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão de Resíduos Sólidos (SINIR). Mesmo entre aqueles municípios que já possuem algum tipo de menção a gestão de resíduos sólidos, é difícil identificar alguma cidade que esteja completamente livre de um grave problema social: o lixo. E, ao invés de acelerarmos as discussões e a cobrança, temos insistido em jogar o lixo para debaixo do tapete – perdoem-me o trocadilho infame.
Tomemos como exemplo a vida útil do Aterro Sanitário Metropolitano, que atende Salvador, Lauro de Freitas e Simões Filho. Em operação desde o ano 2000, o aterro expira no próximo ano e não há um debate vivo sobre o que deve acontecer com a destinação do lixo nessas três cidades. São cerca de 50 mil toneladas de resíduos sólidos por mês que devem ficar sem um destino adequado, caso não tomemos a discussão como imprescindível. Enquanto muito se discute macro política, o bê-á-bá das pequenezas do dia a dia fica em segundo plano.
Outro levantamento, também de 2017, e tendo como origem o governo da Bahia, aponta que apenas 43 municípios do estado já possuem aterro sanitário, considerado uma das formas menos impactantes do ponto de vista socioambiental. Outras 216 cidades ainda utilizam os lixões tradicionais como forma de descarte. Quantas vezes esse tema apareceu nas rodas de conversa da família? Ou quantas vezes se viu vereadores e deputados falando sobre isso? O resultado dessa omissão pode provocar um colapso ambiental sem precedentes e, ao invés de termos uma política nacional de resíduos sólidos para evitar o problema, é provável que tenhamos que lidar com as consequências dessa inércia.
Há um debate muito forte sobre meio ambiente no momento. Muito disso suscitado por queimadas e pelo desmatamento da Amazônia. Em Salvador, a Semana do Clima trouxe à tona questão relevantes sobre o futuro do mundo. E uma das coisas mais básicas nesse processo é a discussão sobre a destinação do lixo. Em um contexto em que a coleta seletiva ainda não faz parte do cotidiano, em que uma parcela expressiva vive abaixo de condições mínimas de saneamento e com muitas pessoas dependendo de lixões para sobreviver, adiar essa questão a transforma em um problema de várias gerações.
Se sustentabilidade deve ser uma palavra de ordem para que haja extensão da vida por mais tempo no planeta, qualquer esforço é válido. Por isso, é extremamente relevante que forcemos as discussões o quanto antes, sob o risco de não haver um amanhã para debater. A começar pela cobrança de que as políticas públicas básicas sejam cumpridas. Afinal, já temos leis demais para figurar apenas como simbólicas.
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