A notícia mais recente do reajuste salarial acima de 16% dado pelos próprios ministros do Supremo Tribunal Federal, com cascata em outros poderes do judiciário, do legislativo e do executivo, com impacto de bilhões no orçamento fiscal, nos deixa mais depressivos e ansiosos? E o aumento da violência, com mais de 60 mil homicídios por ano? E a mediocridade na política com 13 candidatos a presidente da Velha República?
Quem roubou a alegria e a felicidade de viver do brasileiro, mesmo dessa gente pobre e simples que sempre soube rir e driblar as adversidades com maestria e criação? Deixo aqui que cada um aponte o seu dedo para seus algozes. É uma questão de visão interpretativa e até mesmo ideológica de cada indivíduo ou grupo. A matéria merece reflexão e desprendimento, sem partidarismos, rancor ou critérios pessoais. É mito dizer que o Brasil é um país alegre e feliz?
Confesso que tenho os meus carrascos que transformaram o país descontraído e cordial num dos mais depressivos e ansiosos do mundo, conforme estudo recente de um organismo internacional. Sei que existem controvérsias de ordem política e até religiosa. O certo é que este estado de espírito tem muito a ver com a degradação social, mas também com a nova ordem evolutiva industrial tecnológica. Com o sentido oco do viver.
Neste aspecto entram as redes sociais onde as pessoas, na ansiedade do aparecer exibicionista de qualquer jeito, como se dissessem, estamos aqui, olhem para nós, quase não se falam pessoalmente. A máquina aniquilou o prazer do convívio e ainda deixou seu agente mais estressado. Com base no atual cenário confuso de depressão na economia e na política, nosso país foi naturalmente inoculando em seus habitantes um quadro depressivo.
Quem ou o quê nos levou a esta situação tão precária de exclusão? A informalidade é uma delas. O próprio sistema capitalista predador e consumista que criou uma sociedade de profundas desigualdades onde poucos são donos da maior parte e muitos quase nada têm? Será que nós mesmos não somos os maiores culpados devido à nossa covardia, conformismo e pela falta de indignação por não termos agido contra quem ou a coisa que nos levou à depressão e à ansiedade?
Sem perceber e até aceitando, sem contestar, iludidos ou não, fomos sendo levados aos poucos para esta vala comum da agonia e da aflição. Não creio nessa coisa de falta de religião, de contrição com algum santo, orixá ou deus qualquer, nem mesmo formação familiar. Fomos nos acomodando com o pouco que tínhamos, sem questionar o regime ou as pessoas que o implantaram.
Nosso mal não foi sempre colocar o individual acima do coletivo? Será que não foi este pecado social horrível que nos levou a este estado? As coisas foram se avolumando e sempre acreditamos no mito de que éramos um povo feliz e alegre. Assim nos dizem os gringos que nos enchem de orgulho e vaidade. Sentimo-nos de peito estufado e agora descobrimos que somos os mais depressivos, ansiosos e infelizes. Entendo que hoje a depressão não é somente aquele estado de “fossa braba” como se falava antigamente. A baixa estima em si já é um sintoma avançado, mesmo que se deixe a tristeza escondida num saco do quarto.
Como conservar uma felicidade e não ficar deprimido num país do caos ético e moral, da corrupção galopante, da violência por todos os cantos com requintes de crueldades, do desemprego de mais de 13 milhões de brasileiros, da educação precária onde professores são agredidos, dos idosos tratados com abandono e desprezo, das aflições com mortes nos corredores dos hospitais por falta de atendimento médico? Falo aqui, especialmente, daqueles que estão vivendo na pele estes tormentos.
Será possível evitar a depressão e a ansiedade quando se é pai de família e se está desempregado, vendo seus filhos passarem fome, ou não terem o que calçar e vestir, nem ao mínimo lazer? Como ser feliz quando um dos seus é morto por truculência policial, por assaltantes ou bala perdida? Como abrir um sorriso largo diante de uma tremenda injustiça, e saber que as leis não são iguais para todos? Num país da intolerância e do ódio?
Será que temos que ser frios racionais, e só dizer que a vida continua, no faz de conta? Que não podemos nos abater com as desgraças sociais, econômicas e políticas? Que está nação é, acima de tudo, o nosso orgulho e temos que ser otimistas em qualquer circunstância? Será que a fé e a esperança são tão inquebrantáveis assim? Viramos a cara e seguimos em frente, na incerteza do futuro? Será que, com isso tudo, não tentamos enganar a nós mesmos de que tudo vai bem?
Não sou especialista no assunto, mas, coisa de rico, ou não, como dizem por aí, na minha leitura temos hoje a depressão social e a psicológica de ordem existencial. A primeira está estampada na pobreza, inclusive na classe média que viu seu sonho roubado na profissão e no desemprego. A segunda está mais inerente ao vazio humano pela perda e frustração de um amor, ou ente querido, e até o sentido de vida neste mundo louco da voracidade do sempre ter descomedido do nunca satisfeito.
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