Artigo: PEQUENAS NOTAS – Críticas, convivência e intrigas


                                                                                                                                                     Por/        Paulo Pires


 

Os leitores que leem o que escrevo são exigentes. Não perdoam minha superficialidade e cobram seriedade nos temas que tento expor. Dizem que meus escritos padecem da falta de originalidade e afirmam que para piorar a situação, a cada novo texto me mostro desprovido de essência. Isso os deixa furiosos. Atacam: “… seus argumentos são excessivamente rasos”. Eu me divirto. Lembro até de uma conferência de Darci Ribeiro feita na SBPC de 1979, a que ele deu o título: Sobre o Óbvio. Tal qual fez o grande mestre, a cada momento me aproximo mais do óbvio. Sou apaixonado pelo óbvio. Nelson Rodrigues também adorava o óbvio.

Os leitores, ao contrário, me recriminam. Querem que eu mergulhe o máximo nas reflexões. Eu, claro, agradeço. Mas aviso: Não sou filósofo. Infelizmente não tenho o conhecimento do professor Itamar Aguiar, professor Leonardo ou de um José Carlos Simplício. Portanto, não adianta o leitor reclamar. Continuarei sendo esse sujeito perfunctório.  Nunca vou “entrar fundo no assunto”. O mundo do pensamento complexo não faz parte do meu show. Isso é coisa prá gente de grande envergadura intelectual. Quem sou eu…

É óbvio (olha o óbvio aí gente!) que não deixo de dar razão aos meus críticos. O leitor – quase sempre – tem razão: Sou mofino para opinar sobre filosofia, sociologia ou psicologia. Para ser honesto, não entendo nada desses saberes e, prá ser mais honesto ainda, de muitos outros também.  Por isso, quando sinto que os mergulhos que realizo estão me levando para regiões abissais antevejo o perigo, faço um retorno e rapidamente procuro um lugar onde exista oxigênio em abundância. É um alívio voltar à superfície.

Evidente que uma coluna com este formato não permite grandes vôos filosóficos. E mesmo que permitisse o autor tem humildade suficiente para reconhecer suas limitações intelectuais. Sabe que o máximo a ser alcançado em seus vôos não vai além daqueles conseguidos pelos nambus.

Por isso fico a vontade em minhas “reflexões filosóficas”. Sinto que elas estão totalmente descoladas das correntes vigentes e da realidade. São simplificações ou reduções assumidas com a maior naturalidade. O leitor sabe que as limitações desse pequeno espaço, adicionam-se às minhas e criam impossibilidades para eu escrever o que deveria.  Gostaria de poder aprofundar meus escritos para traçar perfis e questões sobre psicologia, sociologia, empatia, simpatia, antipatia, apatia, idolatria e outros elementos que compõem o ethos e o pathos da humanidade. Ah, seu eu fosse Dante, Virgílio, Homero, Cervantes ou Shakespeare… Ah, se eu fosse!

De uma coisa, porém tenho certeza: Quanto menos escrevo sobre o Lula mais ganho ponto. Curioso, não? Meu leitor, apesar das insuficiências e deficiências intelectuais que apresento, gosta de mim. Em contraposição, boa parte não gosta de Lula. Um deles me disse que quando acessa o Blog, passa as vistas na coluna e verifica logo se estou falando de Lula. Se não estiver, continua lendo. Mas, se ao contrário, constatar o nome do ex-presidente, encerra a leitura e manda os olhos se encarregarem de outro texto. Em tese ele não deixa de ter razão.  Quem gosta de FHC detesta o Lula. Como eu não gosto das sacanagens que FHC fez com o Brasil, prefiro o Lula. Mil vezes o Lula (acho que agora mesmo alguém já parou de ler esta coluna).

Um dos problemas do ser humano ainda reside na questão da convivência com a tolerância. Claro que já melhoramos muito. Mas ainda há pontos de dispersão que pouco contribuem para fazer as pessoas conviverem entre pensamentos contrários. Quando a coisa se refere a Política e Religião, nem se fala.

Divergências político-religiosas distanciam as pessoas. Raras são as que “se suportam” por causa de ideários diferentes.  Tive oportunidade de presenciar cenas desagradáveis por causa dessas discordâncias. Vi pessoas crispadas, olhos avermelhados, voz alterada e gestos bruscos para defender seus pontos de vistas. A coisa foi feia. Usamos muita diplomacia para acalmar os ânimos.

Mas isso não se dá apenas no ambiente político ou religioso. No campo estético também encontraremos manifestações absurdamente incompreensíveis. O maestro Arturo Toscanini, por exemplo, quando se referia a Puccini o fazia de modo pouco airoso. Por outro lado Ravel (aquele do famoso Bolero) ficava irado quando falava do “andamento” que o maestro italiano dava à sua obra. Em um concerto chegou a chamar Toscanini de porco (coisa horrível).  Ravel, quando irritado, convenhamos, usava expressões pouco elegantes.  Tanto Ravel quanto Toscanini desconheciam os quatros pilares da Educação propostos pela UNESCO. Ou talvez soubessem, mas suas vaidades pessoais jamais os conduziram para o terreno das compreensões. É um mundo intrigante.