Há 50 anos me lembro muito bem quando recebi o diploma de bacharel em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e também já são passados 50 anos que comecei a minha carreira profissional no jornal “A Tarde”, como revisor, função que não mais existe, mas que oferecia uma boa formação profissional depois de uma faculdade.
Nessa época uma medida reconhecia a profissão e exigia que as redações dos jornais só recebessem graduados, acabando aos poucos com os chamados provisionados. O registro no Ministério do Trabalho passava a ser definitivo. Lembro que os veteranos, que já atuavam no mercado há anos, criticavam os diplomados quando cometiam algum erro e diziam que a escola não prestava para nada.
Os repórteres, editores, chefes de redação e redatores antigos tudo faziam para desqualificar os diplomados afirmando que chegavam cheios de teorias e quase nada de prática. De certa parte aquilo tinha até razão de ser porque, na verdade, era o dia a dia, ali no batente das matérias, que terminava por formar um grande jornalista.
No entanto, o jornalismo se tornou mais profissional, sério, com maior credibilidade e ética a partir da formação acadêmica somada à prática. O tempo passou e há cerca de 20 anos, se não me engano, um movimento contrário à obrigatoriedade da graduação fez com que o Supremo Tribunal Federal (STF) aprovasse que, para ser jornalista, não seria mais necessário ter o diploma.
Todo esse “nariz de cera” é para também lembrar que estamos na Semana do Jornalista que se comemora no próximo dia sete de abril. A Federação Nacional dos Jornalistas-Fenarj e os seus sindicatos tentaram reverter aquela decisão do STF, mas, infelizmente, se acomodaram politicamente. Perdemos essa prerrogativa que é dada à grande maioria das profissões.
O resultado disso é que nos tempos atuais, principalmente com o advento das novas tecnologias eletrônicas da informática, dos meios virtuais, todos são chamados de jornalistas e nem mais se pergunta se você tem ou não um diploma. Isso deixa um veio de frustação em quem passou quatros anos numa faculdade.
Agora, a própria Fenarj e os sindicatos estão lançando a chamada Campanha da PEC do Diploma nessa Semana do Jornalista, movimento esse tardio, mas que nunca deixa de ser providencial, e vamos torcer que a categoria se una em torno desse projeto que deverá ser aprovado pelo Congresso Nacional.
Outra questão que deve ser sempre combatida é a da violência contra o jornalista que começou a existir desde os primeiros jornais com a chegada de D. João VI ao Brasil. O profissional sofreu seus períodos mais duros nas eras do coronelismo e, notadamente, nas ditaduras de Getúlio Vargas (1930-45) e na mais recente de 1964 que experimentou o brutal AI-5.
Nessa Semana, o jornalismo tem que lembrar e debater o problema da violência, da qual fui vítima por várias vezes. Essa história da agressão ao jornalista, bem viva entre nós no governo passado do capitão-presidente Bozó, tem que ser contada e discutida.
Não basta a reconquista do diploma, mas também criar dispositivos para que a liberdade de expressão jornalística nunca mais seja tolhida. Temos que permanecer lutando diariamente por uma livre imprensa, porque os agressores contra à democracia continuam sempre de plantão. Jornalista Jeremias Macário
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