A Bahia guarda mistérios e segredos que muito baiano da gema nem desconfia que existe. Foi após muito viajar pelos quatro cantos do Estado que o jornalista Gutemberg Cruz resolveu reunir diversas dessas curiosidades em um livro.
“Breviário da Bahia” (Edições Alba, da Assembleia Legislativa da Bahia) compila, em centenas de verbetes, todo tipo de informação mais ou menos relevante sobre localidades, personalidades, história, gastronomia, música, manifestações e expressões populares – sempre em textos curtos, redigidos com objetividade.
Coordenador de Comunicação da União dos Prefeitos da Bahia (UPB), Gutemberg teve de viajar bastante. “Trabalho há quase 25 anos na UPB e viajei muito para o interior, porque fazia uma página diária no Caderno de Municípios do Diário Oficial do Estado”, conta.
“Todo dia fazia uma reportagem sobre uma cidade diferente, via o que ela tem de interessante, sua cultura, seu folclore. Então, vi coisas maravilhosas que os jornais não divulgam, que as pessoas não sabem”, afirma Gutemberg.
Do blog para o papel
“O que identifica Mucugê? O cemitério bizantino (Santa Isabel). Abaíra? A cachaça, exportada para a Europa. O baiano não conhece sua terra”, diz.
Estudioso do cartum de humor e dos quadrinhos, Gutemberg é autor de um livro-referência: Feras do Humor Baiano – Lage, Nildão e Setúbal (1997). Com passagem por diversos jornais (inclusive A TARDE), canais de TV e rádios baianas, o escritor diz ter desenvolvido uma “relação de amor e ódio com a Bahia”.
“Nosso Estado é cheio de vaivéns, atrasos e avanços simultâneos, muitas contradições. É o Estado com a maior população negra do Brasil e ainda guarda tanto racismo”, observa.
Em 2006, ele iniciou na internet o Blog do Gutemberg, no qual, entre um post e outro sobre HQ ou cartum, contava “causos da Bahia, além de listar dados da cultura popular, tipo um dicionário”. Lido pelos colegas da Assembleia Legislativa, vizinha da UPB no Centro Administrativo da Bahia (CAB), o blog rendeu um convite da editora da instituição, a Edições Alba, para reunir os posts em um livro. “Aí eu aproveitei os textos do blog, mas dei uma reformulada, claro”, afirma.
Nem tudo que está no blog entrou no livro. “Tive que cortar muita coisa, mas ainda tenho material para dois ou três livros”, avisa Gutemberg.
Hino comunista do exército
Nas páginas do Breviário, Gutemberg se reporta ao ex-governador Otávio Mangabeira (1886-1960), a quem se atribui a famosa frase: “Pense em um absurdo. Na Bahia há precedente”. “Ah, tem muita maluquice na Bahia, né?”, diz.
Um dos absurdos preferidos do autor é o ocorrido há quase 100 anos, na cidade de Angical. “O povo estava esperando a passagem da Coluna Prestes (movimento revolucionário que percorreu o país). Aí o maestro local, Antonino Espírito Santo, compôs um hino para recepcionar a Coluna, Avante Camaradas”, conta o jornalista.
“Só que quem acabou passando por lá foi justamente um pelotão do exército que ia combater a Coluna. Quando o exército entrou, a banda da cidade começou a tocar o hino. Resultado: eles acharam que era para eles, adoraram e a música foi adotada pelo exército”, ri.
A história já rendeu até um curta-metragem, “Avante Camaradas!” (1986). Histórias que a Bahia conta…
| Informações |
Obra: Breviário da Bahia
Autor: Gutemberg Cruz
Editora: Ed. Alba (160 pág)
Valor: R$ 20
Vendas: Pérola Negra (Barris)
Alguns verbetes
Caculé – Município do Centro-Sul baiano, “o único do país que leva o nome de um escravo”.
Costa larga – A Bahia tem o litoral mais extenso do país: 1,1 mil Km.
O Santo julgado – Em Água Fria, uma imagem de Santo Antônio tornou-se herdeira de uma fazenda e foi julgada e condenada depois que um escravo da propriedade matou um homem.
Pequena Canudos – É como o povoado de Pau de Colher ficou conhecido depois do massacre de 400 devotos do Beato Severino.
Fonte A Tarde – Mila Cordeiro | Ag. A TARDE
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