Boafarma teria pago R$ 12 mil para afastar ex-diretor da empresa

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O clima nada amigável entre o presidente e o ex-diretor ficou ainda mais tenso quando Albérico aceitou uma proposta para se afastar da empresa.

“Meu Deus, será que hoje a gente vai conseguir trabalhar em paz?”. A pergunta era repetida diariamente entre os funcionários da Associação de Farmácias e Drogarias do Nordeste (Rede Boafarma). As constantes disputas por poder dentro da empresa, protagonizadas por seu presidente, Waldir Mattos Régis, 71 anos, e o ex-diretor administrativo da associação, Albérico Pinto Lopes, 65 anos, já tinham ultrapassado os limites da conciliação e as frequentes ameaças de morte fizeram com que o presidente do grupo passasse a trabalhar trancado em seu gabinete. A proteção só foi interrompida anteontem quando Albérico matou Waldir.

 “Eu trabalhava direto com a presidência e trancava o gabinete dele com chave para que ninguém chegasse perto dele mesmo. Mas, há um mês, fui demitida. Ele perdeu a proteção”, conta uma ex-funcionária da rede, que pede para não ser identificada. Na manhã de segunda-feira, Albérico invadiu a sede da empresa e matou Waldir com um tiro na cabeça. Em seguida, o ex-diretor da Rede Boafarma cometeu suicídio, dando um tiro na boca.

O clima nada amigável entre o presidente e o ex-diretor ficou ainda mais tenso quando Albérico aceitou uma proposta para se afastar da empresa. “Ele recebeu R$ 12 mil para deixar o cargo e ficou combinado que ele continuaria recebendo seu salário, de aproximadamente R$ 2 mil, até a posse da nova diretoria”, explica a funcionária, que participou da negociação.

tensão O acordo assinado entre Albérico e Waldir, segundo ela, continha ainda duas cláusulas importantes, que deveriam ser cumpridas por Albérico, além da compensação financeira acertada: a primeira, proibia o ex-diretor de frequentar a sede da empresa e, no segundo tópico, ele abria mão de disputar as próximas eleições para a presidência da empresa.

“Na ocasião, foi proposto e aprovado em assembleia, que o e-mail coorporativo de Albérico também seria cortado. Mas, ele descobriu, tamanho o acesso às informações que ele tinha na empresa. Era conhecido de muitos funcionários. Ele conseguiu retardar isso até uma semana atrás, mais ou menos. Quando a conta de e-mail dele foi suspensa, ele garantiu que cumpriria sua promessa e mataria Waldir”, completou a ex-funcionária.

reação Funcionários da empresa contaram ainda, ontem, durante o enterro de Waldir, no Cemitério Jardim da Saudade, em Brotas, que Albérico mantinha um facão em sua gaveta na empresa. Albérico tinha apenas 1% das ações da empresa, por conta do CNPJ de uma farmácia que ainda estava ativo. No local, atualmente, funcionaria um açougue. Por esse motivo, ele não poderia concorrer à presidência da Boafarma, cargo que ele não queria que Waldir continuasse.

Ontem, a sede do escritório onde aconteceu o crime, na Rua das Acácias, na Pituba, foi lavada para que, hoje, o trabalho volte ao normal. O filho da vítima, Marcos Regis, vai hoje ao local buscar os objetos pessoais do pai e prometeu conversar com jornalistas.

“Fui lá hoje (ontem), peguei papéis, coisas que precisávamos. Mas, ainda não sabemos direito como aconteceu tudo. Amanhã (hoje), é que vou saber em que pé está a investigação e como realmente tudo aconteceu”.

Amigos da família, parentes e até a única testemunha do crime, a mulher que era entrevistada para um emprego por Waldir no momento do crime acompanharam o enterro, mas não comentou o crime. Albérico foi enterrado ontem à tarde no Cemitério de Conceição de Coité, 210 quilômetros de Salvado40122_1222