BRUMADO – SUAS REALIDADES E SEUS VALORES DESCONHECIDOS

 

São realmente duas forças que impulsionam a Comunidade Brumadense, a primeira e muito antiga, é a lavoura algodoeira, que abrange quase todo Município, pois das 2.151[estatística da época] propriedades agrícolas de Brumado, fichadas ultimamente pelo IBRA, mais de dois terços cultivam a preciosa malvácea.

 

Era de se esperar que tão prodigiosa fonte de renda tivesse a orientação e planificação necessária ao seu bom andamento agrícola, mas tal não vem acontecendo.

 

Alavanca poderosa como essa, bem podia, com segurança e aprumo, ter trazido, já há muitas décadas, o desenvolvimento e o progresso tão almejados pela gleba brumadense.

 

Claro que uma terra privilegiada para o plantio do algodão, como bem observou, em minucioso estudo, o renomado técnico Renato Gonsalves Martins, poderia produzir muito mais, compensando o trabalho dos agricultores e promovendo aumento de rendas tributárias para o Estado e o Município.

 

Porém como desfrutar desta primorosa messe, se falta os meios necessários e imprescindíveis na época atual, para apresentação de um produto à altura do mercado consumidor?

 

Infelizmente a nossa lavoura algodoeira vive numa triste rotina, e as causas estão aí, aos olhos de todos, clamando por providências urgentes e inadiáveis.

 

Que poderão fazer lavradores sem orientação técnica, sem auxílio financeiro, sem sementes, selecionadas, sem o amparo dos poderes públicos competentes, no caso, sem o amparo do Ministério da Agricultura, por intermédio da sua AGÊNCIA DE PROMOÇÃO AGRÍCOLA que substituiu o Fomento Agrícola Federal, na Bahia.

 

Lutamos por uma escola de INICIAÇÃO AGRÍCOLA a fim de instruir o povo e mudar a mentalidade rotineira do agricultor sertanejo, mas não fomos ouvidos, nem compreendidos pelo órgão competente.

 

Lutamos pela obtenção de uma Usina Beneficiadora de Algodão, pois a Usina Federal que existe em Brumado, já obsoleta e sem meios de recuperação, está clamando, há vários anos, pela solução deste angustioso problema.

 

Lutamos por uma CÂMARA DE EXPURGO, e pela sua instalação na área de Brumado, pois as sementes distribuídas, a título de fomento à produção, eram além de contaminadas de pragas, de péssima qualidade.

 

Não se pode compreender como uma produção tão grande, pois mesmo sem amparo algum e sem recursos técnicos e financeiros, a safra deste ano atingiu a soma de 370 mil arroubas, continue descuidada e a mercê de sua própria sorte.

 

Ressente-se o Município da falta de uma fábrica de tecido, ou mesmo sacos para o consumo da região, até os velhos teares da zona rural, que fabricavam os tecidos grosseiros e redes, já silenciaram.

 

É grande a evasão do algodão, em capulho, para os Estados de Minas, Sergipe e Rio de Janeiro, desfalcando a forragem do gado, no tempo da estiagem, alimentado por esta substancial semente, e tirando dos cofres municipais preciosas renda.

 

Uma fábrica de óleo de algodão seria o meio mais indicado parta o aproveitamento das sementes.

 

São bastante expressivos os números que mostram os valores da arrecadação tributária, sozinhos bastam para afirmar a vitalidade do nosso Município, em 1966, entraram para os cofres municipais: duzentos e vinte e três milhões de cruzeiros antigos, para os cofres estaduais: quatrocentos e setenta milhões de cruzeiros antigos e para os cofres da União: quatrocentos e noventa e nove milhões de cruzeiros antigos.

 

Ao lado da lavoura algodoeira, base econômica da nossa região surgiu de vinte e cinco anos para cá, a extração e calcinamento da magnesita pela Cia. Magnesita S.A. já quase proprietária da Serra das Éguas, sede do minério em apreço.

 

Apesar de uma luta titânica, vem a citada companhia de minérios se firmando galhardamente, no cenário nacional e mundial.

 

Mas o esforço e a tenacidade deste pugilo de bravos que redescobriu Brumado, foram muito mais além, e mesmo, após sérias dificuldades de ordem técnica e financeira, marcham denodadamente para um esplêndido triunfo.

Já com empréstimos obtidos do BID e ajuda da SUDENE, na visão ampla de seus diretores, se vislumbra a aurora de um surgimento planificado e seguro, que possibilitará fornecer ao mercado mundial, um produto de primeira qualidade, na linha dos refratários.

 

Diante do exposto, um Município como Brumado, de reais possibilidades, e de valor incontestável, precisa de ser compreendido e incentivado, não pode ser relegado a um plano inferior ou esquecido dos poderes públicos estaduais federais.

 

Na gestão passada, teve o Município uma época de grandes iniciativas, todas particulares, e maior delas podemos afirmar sem medo, foi a construção de dois pavilhões de 6 salas cada um, com duas oficinas da Fundação Educacional de Brumado, que para tal contou com o Plano Nacional de Educação e a valiosa cooperação de prestimosos amigos como Oliveira Brito, Oldack de Carvalho Neves, Wilson Falcão, Alaor Coutinho e a Magnesita S.A.

 

 

O Edifício do Fórum DUARTE MONIZ e o Matadouro Modelo são um florão de glórias da administração do prefeito Armindo dos Santos Azevedo, de saudosa memória.

 

Entretanto as metas da presente administração Municipal, a cargo do Prefeito Dr. Juracy Pires Gomes, são realmente dignas de menção e sintetizam os anseios do povo brumadense.

 

Os reclamos de tantos anos, hoje se tornam mais altos, e assim quase sempre aflitivos, estão a desafiar governos e administradores.

 

Já com seus 13 mil habitantes, [estatística da época] a cidade de Brumado fala para os poderes públicos, mostrando-lhes as falhas e apontando os caminhos de uma melhor compreensão e mais justa resposta a suas reivindicações.

 

São três as mais prementes necessidades que estão a exigir, em curto prazo, medidas inadiáveis: Hospital, Energia Elétrica, e Salas de Aula.

 

Já se organiza uma Fundação Hospitalar e já se planeja a ampliação de salas de aula.

 

Mas a verdade que nem se pode imaginar é que o Plano Nacional de Educação nunca se lembrou de Brumado, pois as vultosas verbas do convênio MEC-USAID-SUDENE não chegaram a construir uma ÚNICA sala no Município.

 

São mais de cinco mil crianças no perímetro municipal, maioria na sede, sem condições de melhor aproveitamento, pois as improvisações de garagens e velhos depósitos em salas merecem a condenação da Saúde Pública e a reprovação dos que, como os pais, procuram dar à juventude um tratamento condizente com a sua personalidade em formação.

 

Existe na cidade, um único PRÉDIO ESCOLAR e este em condições precaríissimas.

 

O que impede mesmo, a olhos vistos, o crescimento e o progresso da cidade é ainda a escassez de energia elétrica, os pequenos e velhos motores existentes, jamais podem satisfazer a demanda urbana e industrial.

 

Deste modo, todas as atividades da vida moderna se acham praticamente paralisada e sufocada a ânsia de renovação desenvolvimento da comunidade entusiasta e laboriosa.

 

A nossa redenção é esperada, não sabemos quando, se vier a energia da Hidroelétrica de COREENTINA, única fonte de suficiente potencial energético capaz de satisfazer as necessidades locais e já em Caetité, distando de Brumado apenas 75 quilômetros em reta.

 

Clamorosos são os apelos feitos a COELBA, que vem planificando e estendendo as redes elétricas, no interior de nosso Estado, mas não sabemos por que ao ser distribuída a energia de Correntina, não se procurou suprir o ÚNICO centro de maior consumo de toda a região, que é Brumado, através de seu parque industrial de refratários, representado pela Magnesita S.A., situada em Catiboaba, no distrito sede.

 

No momento só esta indústria, consome perto de dois milhões de quilowats por ano, entretanto agora com o novo plano de expansão da produtividade, espera dobrar o consumo de energia, o que será para a COELBA uma alta fonte de rentabilidade.

 

Já outros grupos, paulistas e pernambucanos, desejam estabelecer-se em Brumado, visando exportação e beneficiamento de minérios, procurados pelo mercado mundial.

 

Não há dúvida de que o Município e a sua laboriosa gente marcham para maiores e mais felizes promoções comerciais, dentro das áreas do algodão e do minério.

 

Não vemos razões porque os poderes públicos não dêem à expansão, por meio de compreensão justa dos valores existentes, aos anseios de uma terra em que a natureza foi tão pródiga.

 

Que os homens sensatos e de espírito público afinado dentro das possibilidades de seus setores diretivos, sintam conosco a realidade dos fatos e como detentores de parcelas do poder público, ponham-se a caminho, secundando os nossos ingentes esforços e dando-nos a oportunidade de concorrer com ânimo e trabalho, com esforço e produtividade, para a grandeza de nossa Bahia.

 

Texto do Mons. Antonio Fagundes Pároco de Brumado/BA.

            Esse artigo publicado em jornal da Bahia e enviado a amigos influentes politicamente atesta o envolvimento e a preocupação do Mons. Fagundes com o desenvolvimento e o progresso da cidade de Brumado. Reivindicou ações dos governantes que dotassem o município de meios de sustentação quer no comércio, quer na indústria e principalmente na agricultura de uma tecnologia moderna capaz de alavancar o crescimento da região e para tanto lutou incessantemente empregando os esforços da dialética e da imprensa e de políticos influentes ao seu alcance para consecução dos objetivos pleiteados.

 

Diante do exposto, o Mons. Fagundes é pessoa que exerceu além da catequese como objetivo de fé e convicção de uma missão que lhe fora dada e aceita com a devoção que o caracteriza, promoveu a cidadania, exercendo os direitos religiosos e políticos na plenitude da conceituação dos fatos diferenciando as avaliações dos assuntos.

 

Por esses fatos homenageio Monsenhor Fagundes como religioso e como cidadão que promoveu e desenvolveu a cidadania do progresso e do desenvolvimento de Brumado.

 

Entre os municípios baianos que se ufanam de suas riquezas, avulta-se o de BRUMADO, que no cenário agrícola, pela sua lavoura algodoeira e na área dos minérios pela extração e calcinação de magnesita.

 

Os dados concretos que ilustram este relato bem comprovam a veracidade dos que pugnam pelo engrandecimento de Brumado. Transcrevo o artigo em epígrafe, ipsis litteris, que traduz o conceito de quem exerceu plenamente os seus direitos de cidadão.

 

Antonio Novais Torres

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Brumado, 22 de maio de 2009.