O juiz Maurício Fossen acaba de anunciar, à 0h27 de sábado, 27, que Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá foram considerados culpados de matar a filha dele, Isabella Nardoni, em março de 2008. Os jurados entenderam que a menina foi asfixiada pela madrasta e jogada pela janela do apartamento do casal, no sexto andar de um edifício em São Paulo, pelo pai.
As penas estabelecidas são de 31 anos, um mês e dez dias de reclusão para Nardoni e de 26 anos e oito meses para Anna Carolina, por homicídio triplamente qualificado (meio cruel, sem chance de defesa e vítima menor de 14 anos), em regime fechado. Os réus ainda foram condenados a mais oito meses de reclusão cada um por fraude processual. Coincidentemente o tempo de prisão determinado corresponde às idades de cada um dos réus.
O julgamento durou cinco dias e foi realizado no Fórum de Santana, zona norte de São Paulo. À 1h desta madrugada os réus foram retirados do fórum. Espectadores exaltados correram atrás do camburão da polícia. Eles foram levados ao presídio de Tremembé, distante cerca de 138 km da capital.
O advogado de defesa, Roberto Podval, informou que já recorreu da decisão. Ele disse que não ia conversar com os jornalistas nesta noite por que “o brilho da noite” é do promotor Francisco Cembranelli.
Em entrevista coletiva logo após a divulgação da sentença, Cembranelli disse que procurou manter sempre a serenidade durante o julgamento e que achou a pena justa.
Debates
Com base em uma reprodução cronológica das ligações entre os vizinhos dos Nardoni e a polícia, o promotor Francisco Cembranelli afirmou que o casal estava no apartamento quando a menina Isabella foi atirada pela janela do sexto andar do Edifício London, no dia 29 de março de 2008.
Já o advogado de defesa, Roberto Podval, trabalhou durante o todo o julgamento com argumentos que tentavam demonstrar falhas na perícia da cena do crime.
Depoimentos dos réus
Alexandre Nardoni, que permaneceu quieto durante os dias de julgamento, mexendo nos óculos, pondo o dedo na boca e ouvindo atentamente as testemunhas que o acusaram de matar a filha Isabella, de 5 anos, foi interrogado na quinta-feira durante cinco horas. “Aquilo para mim foi o pior dia, perdi o que tinha de mais valioso na minha vida”, afirmou o réu.
Logo que começou a ser ouvido, às 10h45, Nardoni fez um pedido ao juiz: queria virar a cadeira para depor olhando os jurados. O pai da menina atirada pela janela em março de 2008 começou o relato afirmando que a denúncia da promotoria era “falsa”. O acusado descreveu o que se passou na noite do crime. Depois, chorou ao dizer que perdeu a coisa mais preciosa de sua vida. “Eu, que briguei tanto para ela (Isabella) nascer, briguei com minha sogra, que queria que a Ana Carolina (Oliveira, a mãe da menina) abortasse”, afirmou.
Em seguida, o pai chorou ao contar quando recebeu a notícia da morte da menina e, pela última vez, ao descrever a menina no necrotério. Passou então a acusar os policiais que investigaram o caso de tentar obrigá-lo a confessar. Afirmou ter sido agredido no 9.º Distrito Policial (DP) e disse que o pai, o advogado Antônio Nardoni, foi vigiado por dois anos.
Ao meio-dia, começou o confronto entre o réu e o promotor Francisco José Cembranelli. O acusado passou a responder de forma monossilábica e nervoso. Chegou a ser repreendido pelo juiz Maurício Fossen. Numa dezena de perguntas, Cembranelli ouviu como resposta a frase “não me recordo”. Antes de acabar de depor, às 16h20, o pai reafirmou: “Não matei. Jamais fiz isso”.
A madrasta da menina Isabella, Anna Carolina Jatobá, contradisse o marido em dois pontos durante o interrogatório. A exemplo de Alexandre Nardoni, ela nem esperou o juiz Maurício Fossen ler as acusações para explodir em prantos: “Não excelência, isso é totalmente falso.”
O segundo interrogatório, que fechou o quarto dia de julgamento, começou às 16h30. Atendendo um pedido do juiz, Anna Jatobá passou a relatar o que ocorrera na noite do crime. Foi nesse momento em que Anna Jatobá contradisse o marido. Alexandre passou ou não a cabeça pelo buraco da tela cortada? Ao depor, o pai disse que não e afirmou que carregava o filho Pietro no colo. A mulher, porém, disse que viu o marido passar a cabeça pela tela com o filho no colo.
Em outro ponto de seu depoimento, ela voltou a contradizer o marido. Afirmou que viu quando Alexandre tirou a chave do bolso para abrir a porta do apartamento, quando eles chegaram com os filhos Pietro e Cauã no colo. Horas antes, seu marido havia dito aos jurados que só havia fechado a porta com o trinco.
Com Agência Estado
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