Conquista é a principal Rota do Tráfico na Bahia

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Conquista é um dos principais elos do tráfico de drogas entre São Paulo e o Nordeste.

Os 20 quilos de pasta base de cocaína encontrada em um ônibus, vindo de São Paulo com destino à Maceió, no início dessa semana e as constantes apreensões de drogas em Vitória da Conquista fizeram surgir a pergunta: Conquista faz parte da rota do tráfico? Parte da origem dessa resposta está na BR 116, que divide a cidade ao meio e é uma das principais vias de transporte do país.

A principal forma de transporte e escoamento de mercadorias do Brasil se dá pela malha viária, que risca o país por todos os lados. Na Bahia, Conquista está num posicionamento geográfico privilegiado. É cortada pela BR 116 e está bem próxima de outra BR, a 251. Esta última, uma das principais estradas de Minas Gerais, termina na BR 116, próximo à divisa do estado com a Bahia, formando uma espécie de funil. Isso fez com que Conquista se tornasse rota obrigatória entre o Sul do país e o Nordeste. Este privilégio é um dos principais fatores do desenvolvimento econômico da cidade. Mas o que é bom para a economia local, torna-se uma grande dor de cabeça para as autoridades de segurança. Vitória da Conquista atualmente é uma das principais rotas de transporte de todos os tipos de contrabando e, o mais preocupante, droga.

Inspetor do Grupo Especial de Combate ao Tráfico de Drogas da Policia Rodoviária Federal (PRF), Heitor Correia.

Grande parte da droga que é distribuída de São Paulo para os estados do Nordeste passam por Conquista. De acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), as apreensões até o mês de Novembro de 2010 já superaram, em valor, todos os anos anteriores. Desse montante, 80% é crack, cocaína ou a pasta base, que dá origem a estas duas. Segundo o Inspetor do Grupo Especial de Combate ao Tráfico de Drogas da PRF, Heitor Correia, as apreensões de maconha já foram bem maior, mas que a grande produção da droga no polígono da maconha (região próxima a Juazeiro), nos dois últimos anos, concentrou o tráfico nesses três produtos. Para o Inspetor Heitor Correia, a maior dificuldade nas apreensões, além do pequeno contingente policial (atualmente o grupo possui apenas três policiais exclusivamente para coibir o tráfico de drogas), é a dificuldade de vasculhar o principal meio de transporte escolhido pelos traficantes: o ônibus coletivo.

“Esses ônibus vêm de São Paulo, carregados de bagagens, de todo tipo: televisão, cesta básica, dentre outras. Para fazer um pente-fino, leva cerca de 1 hora e meia, em uma posição incômoda no bagageiro. E até entrar em um ônibus como este é perigoso. Você expõe a sua vida e a dos outros passageiros em risco, se o meliante reagir”, conta Correia. Segundo o Inspetor, o perfil dos traficantes é sempre de pessoas de baixa renda, que já tem passagem pela polícia e que recebe cerca de 1 a 3 mil reais pelo serviço. “São poucos os casos de pessoas que são interceptadas por traficantes que oferecem dinheiro, no momento do embarque, para trazer a mercadoria. Na maioria das vezes, as pessoas que carregam a droga são aquelas que tem algum envolvimento com o tráfico”.

A dificuldade de policiais especialmente treinados para o trabalho (quase) braçal de combate ao tráfico e a grande malha viária de alguns estados, como o de Minas Gerais, dificultam a maior fiscalização nas estradas. Os entorpecentes, se não forem interceptados pela polícia ainda em São Paulo ou em Conquista, facilmente chegará ao seu destino nos estados do Nordeste. E podem, também, romper os limites da BR 116 e adentrar a cidade. Dados da PRF mostram que, ainda que em pequena proporção, parte dessas drogas fica em Conquista. “Temos dados que indicam que o destino dessas mercadorias era para Conquista” afirma o Inspetor Heitor Correia. De acordo com a Polícia Militar, Civil e Federal, os órgãos de segurança têm total conhecimento da ameaça que o tráfico que passa pela BR 116 representa Conquista. “A situação estratégica da cidade de Conquista, em ser cortada pela BR 116, é um ponto adequado para o transporte e distribuição de drogas, e por ter várias saídas, facilita a entrada de entorpecente”, afirma o comandante da Polícia Militar (PM) Major Ubiraci.

Pasta base de cocaína apreendida no início da semana. Foto: PRF

Representantes das três Polícias afirmam que, em parceria com a PRF, ações constantes, nas estradas e dentro da cidade, têm sido tomadas para coibir este crime. “A polícia tem que combater o tráfico de drogas, porque a maioria dos crimes violentos tem origem no tráfico. Nossas estatísticas apontam que 90% dos homicídios em Conquista têm ligação direta com o tráfico”, garante o delegado da Polícia Civil, Neuberto Costa. “Há vários trabalhos de inteligência sendo feito, as quadrilhas locais estão sendo identificadas e desarticuladas”, afirma.

Comandante da Polícia Militar (PM), Major Ubiraci.

A Polícia Federal realiza um trabalho diferenciado das demais polícias. Por focar suas ações no desmantelamento de quadrilhas, o combate ao tráfico nas rodovias locais é apenas o meio de conseguir maiores dados. O delegado da Polícia Federal, Dr. Victor Menezes diz que o trabalho com a PRF e as outras polícias é um trabalho de gerar informações. “Temos sempre trocado informações para tentar conseguir chegar aos traficantes de verdade, e não ficar prendendo apenas o transportador, conhecido como ‘mulas’”.

O maior problema, segundo o Inspetor da PRF Heitor, para a eficácia total da fiscalização é a dificuldade em barrar a entrada dessas drogas logo na divisa do estado, próximo a Cândido Sales. “A distância desse posto para Conquista dificulta o acesso aos demais órgãos. Lá não temos estrutura de apoio das outras instituições para dar andamento ao trabalho, somos apenas uma equipe de três policiais para Conquista e divisa. E na divisa, se você fizer uma apreensão, pronto, acabou o dia. Isto porque se perde todo o dia até vir para Conquista e registrar o flagrante”.

Mas, segundo ainda o Major Ubiraci, “o que é errado não compete apenas à PM, é da conta de todo mundo; da sociedade, dos poderes públicos. Não adianta as pessoas só despertarem quando ocorre um fato novo. A preocupação tem que ser diária. Nós precisamos ter a sociedade informando os órgãos públicos sobre movimentações estranhas. Porque os traficantes estão do lado de nossas casas. (…) Nós, das Polícias Militar e Civil, estamos fazendo o levantamento por dia e hora dos principais locais de venda de drogas, trabalhamos em cima disso. E estamos também, a cada dia, nos estruturando mais”, finaliza o Major. fonte vitoriadaconquista.com.br