Era comum a família identificar o recém-nascido por apelido, de forma que as pessoas desconheciam o nome civil, tornando a alcunha referência conhecida.
João Ribeiro de Novaes recebera o apelido familiar de “Santinho” e à medida que o indivíduo crescia torna-se o diabo em figura de gente, fazia diabruras de menino estripulento, atazanava todo mundo, especialmente os irmãos. Parece até que tinha prazer nas traquinagens que fazia se revestindo de molecagem e maldades perpetradas.
Adolescente, tornou-se uma pessoa vaidosa, hílare, namorador, de porte físico invejável, cabeleira cheia e bonita. Frequentava muitas festas, era um verdadeiro pé-de-valsa, mas não deixava de espicaçar as pessoas com seu procedimento satírico.
Inteligente, e por falta de empregos, veio a ser professor leigo passando a ensinar nas fazendas. Aprendeu, também, a arte de fogueteiro e de cabeleireiro, de forma que não ficava ocioso. A investida nessas profissões foi a necessidade de obter ganho para aumento da renda.
Curioso, conheceu um ferreiro denominado “Doro” o qual praticava incorporação de espíritos em rituais de magia organizados por ele.
Foi a partir daí que surgiu o problema com álcool e nessa compulsão alcoólica enveredou-se pelo alcoolismo, perdendo a dignidade e os demais valores que norteiam a integridade do homem.
Esses excessos alcoólicos foram a principal causa de muitos transtornos e dissabores para os familiares, amigos e demais cidadãos, embora alguns achassem graças de suas estripulias, outros o consideravam louco devido aos atos praticados.
Certa feita, um irmão comerciante pediu aos vendeiros de bebidas alcoólicas, que não a vendessem ao indigitado, evitando-se assim mal-estar e constrangimento para todos.
Para se vingar do irmão, fez uma bomba caseira e avisou que ia jogá-la dentro da residência amedrontando os familiares. Dizia que iria fazer ir para os ares a casa, provocando apreensão na família. Por fim, revelou-se um grande blefe, pois a bomba não explodiu tendo em vista não conter material explosivo. Era mais uma das levadas do beberrão Santinho.
Todos os dias Santinho repicava o sino da igreja, impreterivelmente, nos horários das 6, das 12 e das 19 horas, com a quantidade de badaladas correspondentes, o que se tornou um parâmetro para a população que se acostumou com o fato.
Um enxame de abelhas alojou-se nos sinos da igreja e atacou Santinho que caiu da torre se esborrachando no chão.
Juntou-se a uma débil mental chamada “Catita”. Amarrou a ponta a ponta da gravata em seu pescoço e a outra na mulher, rodeando uma praça lotada de transeuntes, imitando o trem com o som do apito característico da máquina Maria-fumaça: piuí… piuí…piuí…, e, do trem em movimento: café-com-pão-manteiga-não, causando hilaridade nas pessoas que assistiam ao espetáculo.
Certa feita, um sujeito mão de vaca, queria cortar o cabelo e estava pechinchando. Santinho propôs cortar o cabelo pela metade do preço.
Acertados, o cabeleireiro de posse de uma tesoura e um pente, arrebanhados na casa de uma irmã, dirigiram-se para uma vendola. Santinho colocou o cliente num banco e começou o trabalho. Logo solicitou que lhe fosse servida uma branquinha, por conta do seu freguês. Pediu mais uma, mais outra, extrapolando o preço combinado. O freguês berrou mandando o vendedor parar de servir, pois o valor acertado do corte já fora consumido.
Espirituoso e malandro debochou do cliente alegando que ele queria apenas “dois mil reis” de cabelo, deixando o sujeito com o corte por terminar, obrigando-o a procurar outro profissional para terminar o serviço. Eis aí o resultado do pão-durismo.
Em outra ocasião, sorveu a bebida despachada e não tendo dinheiro para pagar levou uma coça do proprietário do bar que o sovou com uma correia de carro, causando-lhe vergões e hematomas no corpo. Ao se achar em condições físicas de reagir, dirigiu-se até o bar, localizado em frente a uma construção, e à luz do dia, arremessou tijolos provocando estragos nos pertences, atingindo, inclusive, o algoz gritando: “Em homem não se bate, isso é uma amostra do que lhe farei”.
Diante do episódio foi prestada uma queixa na delegacia e a autoridade policial, a pedido do dono do bar, o deportou no primeiro transporte ferroviário, o trem mochila, que passaria na cidade de seus parentes, com a condição de nunca mais voltar.
Santinho alojou-se na última classe do trem e com as pernas balançando, abanando as mãos em despedida, gritava: “Adeus cidade querida, breve voltarei”.
Essas e outras histórias foram as peripécias do alcoólatra Santinho, que faleceu e foi enterrado como indigente. Os familiares não sabem onde ocorreu o fato, provavelmente, na região de Condeúba ou Cordeiro. Não se sabe ao certo. De forma que para os parentes é um mistério a ser desvendado.
Antonio Novais Torres
Brumado em 10/3/2010.
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