JIDDU KRISHNAMURTI E O AUTOCONHECIMENTO
Nos infelizes séculos XIX e XX, (pois, foi nestes séculos dos
horrores), que os homens, com somente duas tecnologias, “a
tecnologia do uso desenfreado do petróleo e a tecnologia
nuclear”, descobriram como poderiam aniquilar
completamente a humanidade, parece que para compensar
nestes séculos! Indiscutivelmente, passaram por este planeta
seres singulares. Neste ensaio, cito e trato somente da pessoa
e da obra de Jiddu Krishnamurti, sobre o tema do título:
(Autoconhecimento), me referirei no futuro, às vidas e às
obras de Helena Petrovna Blavatsky, (1831-1891), Henry
Steel Olcott, (1832-1907), William Quan Judge, (1851-1896),
e Pietro Ubaldi (1886-1972). Este último chegou a morar aqui
no Brasil, em Belo Horizonte por 12 anos, Ubaldi nos deixou a
obra: “A GRANDE SÍNTESE”. Os três do centro fundaram em
1875 a Sociedade Teosófica, oportunamente abordarei o
assunto “Sociedade Teosófica” com um todo. O primeiro, e, de
que aqui estou a tratar é o Indiano, Jiddu Krishnamurti
nascido em 1895 na cidade de Madanapalle, no sul da Índia, e
falecido em 1986 na cidade de Ojai, na Califórnia, Estados
Unidos, tendo sido educado na Inglaterra. Jiddu não tinha
ligação filosófica/religiosa com nenhuma organização, nem se
apresentava em suas conferências com títulos acadêmicos, ou
como chefe de seita ou de organização. Foi um dos maiores
pensadores do século XX. Estas páginas que vos apresento
foram compiladas por Mary Lutyens de fitas gravadas e de
alguns escritos proferidos em diversas conferências por
Krishnamurti, sendo que a ordem dos capítulos foi escolhida
pela própria Mary Lutyens, e isto foi feito com autorização de
Krishnamurti, sendo publicadas em 1969 no livro FREEDOM
FROM THE KNOWN, trata-se de uma pequena brochura com
somente 101 páginas de “sabedoria ímpar”, no Brasil foi
publicado pela Editora CULTRIX, com o título: LIBERTE-SE DO
PASSADO. Recebi esta obra como um presente, do amigo e
espiritualista Rildo Dias, este é um dos vários livros de
Krishnamurti que ainda desconheço, então resolvi
compartilhar esta abordagem do Krishnamurti, da atual “vida
humana”, com meus poucos leitores. Peço aos leitores, que se
possível analisem, capítulo por capítulo, se para tanto vosso
tempo, o permitir!!!… A maneira de Krishnamurti falar,
escrever, divulgar e expor suas ideias são de uma
simplicidade e clareza nunca dantes utilizada por outro
pensador! Qualquer mente mediana como a minha, consegue
entendê-lo com a maior facilidade, tanto que sua obra
dispensa interpretações ou explicações. No entanto, por se
tratar da mente de um indiano, nalguns pontos, torna-se
necessário pequenas explicações. Peço encarecidamente e
humildemente aos meus poucos e inteligentes leitores que me
ajudem a analisar, cuidadosamente e profundamente o
raciocínio de Krishnamurti, ponto por ponto, vírgula por
vírgula, palavra por palavra, frase por frase, contidas nestas
nove páginas. No livro, o texto deste “capítulo I” vai da
página nove a dezoito, e trata do autoconhecimento, foi o
tema, o que me levou a escrever este ensaio. No “intermezo”
resolvi que seria mais prático transcrever estas páginas,
levando-as ao conhecimento de meus pacientes e inteligentes
leitores. Pois, analisá-las, talvez, meu parco entendimento,
não o conseguisse fazê-lo a contento.
Neste texto apresento suas nove páginas, literalmente
separadas, para facilitar a apreciação que faremos de cada
texto contido em cada página, (isto quando necessário),
e o faremos, no geral e no particular. Portanto, aqui não
analisarei os pensamentos e proposições de Krishnamurti.
No entanto, isto, o faremos juntos, eu e meus pacientes e
inteligentes leitores. No próximo ensaio apresentarei as
outras onze páginas do segundo capítulo. Creio, embora eu
creia, que “crer”, não nos leve nunca a nada, no entanto,
embora, não utilize a maiêutica, espero conseguir despertar
a “intelligentzia” de todos os leitores. Na realidade, se um
único leitor ler com atenção estas poucas páginas, e conseguir
entender, por pouco que seja, um mínimo da essência do
raciocínio de Krishnamurti sobre o autoconhecimento, meu
objetivo foi plenamente alcançado! Para diferençá-los, toda
a transcrição das nove páginas será em fonte “Batang 12”,
e meus singelos comentários serão em fonte “Verdana 12”.
Edimilson Santos Silva Movér, em 22/05/2014
Vamos à transcrição…
Capítulo I
A Busca do Homem – A Mente Torturada – O Caminho Tradicional – A
Armadilha da Respeitabilidade – O Ente Humano e o Indivíduo – A Batalha da
Existência – A Natureza Básica do Homem – A Respeitabilidade – A Verdade – A
Dissipação de Energia – A Libertação da Autoridade.
Através das idades veio o homem buscando uma certa coisa além de si
próprio, além do bem-estar material – uma coisa que se pode chamar verdade,
Deus ou realidade, um estado atemporal – algo que na possa ser perturbado pelas
circunstâncias, pelo pensamento ou pela corrupção humana.
O homem sempre indagou: Qual a finalidade de tudo isso? Tem a vida
alguma significação? Vendo a enorme confusão reinante na vida, as brutalidades,
as revoltas, as guerras, as intermináveis divisões da religião, da ideologia, da
nacionalidade, pergunta homem, com um profundo sentimento de frustração, o
que se deve fazer, o que é isso que se chama viver e se alguma coisa existe além de
seus limites.
E, não podendo encontrar essa coisa sem nome e de mil nomes que
sempre buscou, o homem cultivou a fé – fé num salvador ou num ideal, a fé que
invariavelmente gera a violência.
Nesta batalha constante que chamamos “viver”, procuramos estabelecer
um código de conduta, conforme a sociedade em que somos criados, quer seja uma
sociedade comunista, quer uma pretensa sociedade livre; aceitamos um padrão de
comportamento como parte de nossa tradição hinduísta, muçulmana.
cristã ou outra. Esperamos que alguém nos diga o que é conduta justa ou injusta,
pensamento correto ou incorreto e, pela observância desse padrão, nossa conduta e
nosso pensar se tornam mecânicos, nossas reações, automáticas. Pode-se observar
isso muito facilmente em nós mesmos.
Durante séculos fomos amparados por nossos instrutores, nossas autoridades,
nossos livros, nossos santos. Pedimos: “Dizei-me tudo; mostrai-me o que existe
além dos montes, das montanhas e da Terra” – e satisfazemo-nos com suas
descrições, quer dizer, vivemos de palavras, e nossas vidas são superficiais
e vazias. Não somos originais. Temos vivido das coisas que nos tem dito, ou
guiados por nossas inclinações, nossas tendências, ou impelidos a aceitar pelas
circunstâncias e o ambiente. Somos o resultado de toda espécie de influência e em
nós nada existe de novo. Nada descoberto por nós mesmos. Nada original. Inédito,
claro.
Consoante a história teológica garantem-nos os guias religiosos que, se
observarmos determinados rituais, recitarmos certas preces e versos sagrados,
obedecermos a alguns padrões, refrearmos nossos desejos, controlarmos nossos
pensamentos, sublimarmos nossas paixões, se nos abstivermos dos prazeres
sexuais, então, após torturar suficientemente o corpo e o espírito, encontraremos
uma certa coisa além desta vida desprezível.
É isso o que tem feito, no decurso das idades, milhões de indivíduos ditos
religiosos, quer pelo isolamento, nos desertos, nas montanhas, numa caverna,
quer peregrinando de aldeia em aldeia a esmolar, quer em grupos, ingressando
em mosteiros e forçando a mente a ajustar-se a padrões estabelecidos. Mas, a
mente que foi torturada, subjugada, a mente que deseja fugir a toda agitação, que
renunciou ao mundo exterior e se tornou embotada pela disciplina e o ajustamento
– essa mente, por mais longamente que busque, o que achar será em conformidade
com sua própria deformação.
Assim, para descobrir se de fato existe ou não alguma coisa além desta
existência ansiosa, culpada, temerosa, competidora, parece-me necessário
tomarmos um caminho completamente diferente. O caminho tradicional parte da
periferia para dentro, para, através do tempo, da prática e da renúncia, atingir
gradualmente aquela flor interior, aquela íntima beleza e
amor – enfim, tudo fazer para tornarmos estreitos, vulgares e falsos;
retirar as camadas uma a uma; precisar do tempo: amanhã ou na próxima vida
chegaremos – e quando, afinal, atingirmos centro, não encontrarmos nada, porque
nossa mente se tornou incapaz, embotada, insensível.
Após observar esse processo, perguntamos a nós mesmos se não haverá outro
caminho totalmente diferente, isto é, se não teremos possibilidade de “explodir” do
centro.
O mundo aceita e segue o caminho tradicional. A causa primária da
desordem em nós existente é estarmos buscando a realidade prometida por
outrem; mecanicamente seguimos todo aquele que nos garante uma vida espiritual
confortável. É um fato verdadeiramente singular esse, que, embora em maioria
sejamos contrários à tirania política e à ditadura, interiormente aceitamos a
autoridade, a tirania de outrem, permitindo-lhe deformar a nossa mente e a
nossa vida. Assim, se de todo rejeitarmos, não intelectual, porém realmente, a
autoridade dita espiritual, as cerimônias, rituais e dogmas, isso significará que
estamos sozinhos, em conflito com a sociedade; deixaremos de ser entes humanos
respeitáveis. Ora, um ente humano respeitável nenhuma possibilidade tem de
aproximar-se daquela infinita, imensurável realidade.
Começais agora por rejeitar uma coisa que é totalmente falsa – o caminho
tradicional – mas, se rejeitardes com reação, tereis criado outro padrão no qual
vos vereis aprisionado com uma armadilha; se intelectualmente dizeis a vós
mesmo que esta rejeição é uma ideia importante, e nada fazeis, não ireis mais
longe. Se entretanto a rejeitardes por terdes compreendido quanto é estúpida e
imatura, se a rejeitais com alta inteligência, porque sois livre e sem medo, criareis
muita perturbação dentro e ao redor de vós, mas, vos livrareis da armadilha da
respeitabilidade. Vereis então que cessou o vosso buscar. Essa é a primeira coisa
que temos de aprender: não buscar. Quando buscais, agis, com efeito, como se
estivésseis apenas a olhar vitrinas.
A pergunta sobre se há Deus, verdade, ou realidade – ou como queira chamá-
lo – jamais será respondida pelos livros, pelos sacerdotes, filósofos ou salvadores.
Ninguém e
nada pode responder a essa pergunta, porém, somente vós mesmo, e essa é a
razão por que deveis conhecer-vos. Só há falta de madureza na total ignorância de
si mesmo. A compreensão de si próprio é o começo da sabedoria.
E, o que é vós mesmo, o vós individual? Penso que há uma diferença entre o
ente humano e o indivíduo. O indivíduo é a entidade local, o habitante de qualquer
país, pertencente a determinada cultura, uma dada sociedade, uma certa religião.
O ente humano não é uma entidade local. Ele está em toda parte. Se o indivíduo
só atua num certo canto, isolado do vasto campo da vida, sua ação está totalmente
desligada do todo. Portanto, é necessário ter em mente que estamos falando do
todo e não da parte, porque no maior está contido o menor,mas o menor não
contém o maior. O indivíduo é aquela insignificante entidade condicionada, aflita,
frustrada, satisfeita com seus pequeninos deuses e tradições; já ente humano está
interessado no bem-estar geral, no sofrimento geral e na total confusão em que se
acha o mundo.
Nós, entes humanos, somos os mesmos que éramos há milhões de anos –
enormemente ávidos, invejosos, agressivos, ciumentos, ansiosos e desesperados,
com ocasionais lampejos de alegria e afeição. Somos uma estranha mistura de ódio,
medo e ternura; somos a um tempo a violência e a paz. Têm-se feito progressos,
exteriormente, do carro de boi ao avião a jato, porém, psicologicamente, o
indivíduo não mudou em nada, e a estrutura da sociedade, em todo mundo, foi
criada por indivíduos. A estrutura social, exterior, é o resultado da estrutura
psicológica, interior, das relações humanas, pois o indivíduo é o resultado da
experiência, dos conhecimentos e da conduta do homem, englobadamente. Cada
um de nós é o depósito de todo o passado. O indivíduo é o ente humano que
representa toda a humanidade. Toda a história humana está escrita em nós.
Observai o que realmente está ocorrendo dentro e fora de vós mesmo, na
cultura de competição em que viveis, com seu desejo de poder, posição, prestígio,
nome, sucesso, etc.: observai as realizações de tanto vos orgulhais, todo esse campo
que chamais viver e no qual há conflito em todas as formas de relação, suscitando
ódio, antagonismo, brutalidade
e guerras intermináveis. Esse campo, essa vida, é tudo o que conhecemos, e como
somos incapazes de compreender a enorme batalha da existência, naturalmente
lhe temos medo e dela tentamos fugir pelas mais sutis e variadas maneiras. Temos
também medo a desconhecido – temor da morte, temor do que reside além do
amanhã. Assim, temos medo ao conhecido e medo ao desconhecido. Tal é a nossa
vida diária; nela, não há esperança alguma e, por conseguinte, qualquer espécie de
filosofia, qualquer espécie de teologia representa meramente uma fuga à realidade
– do que é.
Todas as formas exteriores de mudança, produzidas pelas guerras,
revoluções, reformas; pelas leis e ideologias, falharam completamente, pois não
mudaram a natureza básica do homem e, portanto, da sociedade. Como seres
humanos, vivendo neste mundo monstruoso, perguntemos a nós mesmos: “Pode
esta sociedade, baseada na competição, na brutalidade e no medo, terminar? –
terminar, não como um conceito intelectual, como uma esperança, porém como
um fato real, de modo que a mente se torne vigorosa, nova, inocente, capaz de
criar um mundo totalmente diferente?” Creio que isso só ocorrerá se cada um de
nós reconhecermos o fato central de que, como indivíduos, como entes humanos, –
seja qual for a parte do universo em que vivamos, não importando a que cultura
pertençamos – somos inteiramente responsáveis por toda a situação do mundo.
Somos, cada um de nós, responsáveis por todas as guerras, geradas pela
agressividade de nossas vidas, pelo nosso nacionalismo, egoísmo, nossos deuses,
preconceitos, ideais – pois tudo isso está a dividir-nos. E só quando percebemos,
não intelectualmente, porém realmente, tão realmente como reconhecemos que
estamos com fome ou que sentimos dor, bem como quando vós e eu percebemos
que somos os responsáveis por todo este caos, por todas as aflições existentes no
mundo inteiro, porque para isso contribuímos em nossa vida diária e fazemos
parte desta monstruosa sociedade, com suas guerras, divisões, sua fealdade,
brutalidade e avidez – só então poderemos agir.
Mas, que pode fazer um ente humano, que podeis vós e eu fazer para criar
uma sociedade completamente
diferente? Estamos fazendo a nós mesmos uma pergunta muito séria. É
necessário fazer alguma coisa? Que podemos fazer? Alguém no-lo dirá? Muita
gente no-lo tem dito. Os chamados guias espirituais, que supõem compreender
essas coisas melhor do que nós, no-lo disseram, tentando modificar-nos e moldar-
nos em novos padrões, e isso não nos levou muito longe; homens sofisticados e
eruditos no-lo tem dito, e também eles não nos levaram muito longe. Disseram-
nos que todos os caminhos levam a verdade, vós tende o vosso caminho, como
hinduísta, outros o tem com cristãos, e outros, ainda tem como muçulmano;
mas, todos estes caminhos vão encontrar-se diante da mesma porta. Isso, quando
considerarmos bem, é um evidente absurdo. A verdade não tem caminho, e essa
é sua beleza; ela é viva. Uma coisa morta não tem um caminho a ela conducente,
porque é estática, mas, quando perceberdes que a verdade é algo que vive, que
se move, que não tem pouso, que não tem templo, mesquita u igreja, e que a ela
nenhuma religião, nenhum instrutor, nenhum filósofo pode levar-vos – vereis,
então, também, que essa coisa viva é o que realmente sois – vossa irascibilidade,
vossa brutalidade, vossa violência, vosso desespero, a agonia e o sofrimento em que
viveis. Na compreensão de tudo isso se encontra a verdade. E só o compreendereis
se souberdes como olhar tais coisas de vossa vida. Mas não se pode olhá-las através
de um ideologia, de uma cortina de palavras, através de esperanças e temores.
Como vedes, não podeis depender de ninguém. Não há guia, não há
instrutor, não há autoridade. Só existe vós, vossas relações com outros e com
o mundo, e nada mais. Quando se percebe este fato, ou ele produz um grande
desespero, causador de pessimismo e amargura; ou, enfrentando fato de que vós
e ninguém mais sis o responsável pelo mundo e por vós mesmo, pelo que pensais,
pelo que sentis, pela maneira como agis, desaparece de todo a autocompaixão.
Normalmente, gostamos de culpar os outros, que é uma forma de autocompaixão.
Poderemos, então, vós e eu, promover em nós mesmos – sem dependermos
de nenhuma influência exterior, de nenhuma persuasão, sem nenhum medo de
punição – poderemos promover em nossa própria essência uma revolução total,
uma mutação psicológica, para que não sejamos mais brutais, vio-
Lentos, competidores, ansiosos, medrosos, ávidos, invejosos – enfim, todas as
manifestações de nossa natureza que formaram a sociedade corrompida em que
vivemos nossa vida de cada dia?
Importa compreender desde já que não estou formulando nenhuma
filosofia ou estrutura de ideias ou conceitos teológicos. Todas as ideologias se me
afiguram totalmente absurdas. O importante não é a filosofia da vida , porém
que observemos que realmente está ocorrendo em nossa vida diária, interior
e exteriormente. Se observardes muito atentamente o que se está passando, se
examinardes, vereis que tudo se baseia num conceito intelectual. Mas o intelecto
não constitui o campo total da existência; ele é um fragmento, e todo fragmento,
por mais engenhosamente ajustado, por mais antigo e tradicional que seja,
continua a ser uma parte insignificante da existência, e nós temos de interessar-
nos pela totalidade da vida. Quando consideramos que está ocorrendo no mundo,
começamos a compreender que não há processo exterior nem processo interior;há
só um processo unitário, um movimento integral, total, sendo que o movimento
interior se expressa exteriormente, e o movimento exterior, por sua vez, reage
ao interior. Ser capaz de olhar este fato – eis o que é necessário, só isso; porque,
se sabemos olhar, tudo se torna claríssimo. O ato de olhar não requer nenhuma
filosofia, nenhum instrutor. Ninguém precisa ensinar-vos como olhar. Olhais
simplesmente.
Assim, vendo todo esse quadro, vendo-o não verbalmente porém realmente,
podeis transformar-vos, natural e espontaneamente? Esse é que é o verdadeiro
problema. Será possível promover uma revolução completa na psique?
Eu gostaria de saber qual é a vossa reação a uma pergunta dessas.
Direis porventura: “Não desejo mudar” – e a maioria das pessoas não o
deseja, principalmente aqueles que se acham em relativa segurança, social e
economicamente, ou que conservam crenças dogmáticas e se satisfazem em aceitar
a si próprios e às coisas tais como são ou em forma ligeiramente modificada.
Tais pessoas nãoo nos interessam. Ou talvez digais, mais sutilmente: “Ora, isso
é dificílimo, está fora do meu alcance“. Nesse caso, já fechastes o caminho, já
cessastes de investigar e será completamente inútil prosseguir. Ou, ainda, direis:
“percebo a necessidade de uma transformação interior,
fundamental, em mim mesmo, mas como empreendê-la? Peço-vos me
mostreis o caminho, me ajudeis a alcançá-la”. Se assim falardes, então o que vos
interessa não é a transformação em si, não estais realmente interessado numa
revolução fundamental: estais, meramente, a buscar um método, um sistema capaz
de efetuar a mudança.
Se fôssemos tão sem juízo que vos déssemos um sistema, e vós tão sem juízo
que o seguísseis, estaríeis meramente a copiar, a imitar, a ajustar-vos, a aceitar, e,
fazendo tal coisa, teríeis estabelecido em vós mesmo a autoridade de outrem, do
que resultaria conflito entre vós e essa autoridade. Pensais que deveis fazer tal e
tal coisa porque vo-la mandaram fazer e, no entanto, sois capaz de fazê-la. Tendes
vossas peculiares inclinações, tendências e pressões, que colidem com o sistema
que julgais dever seguir e, por conseguinte, existe um contradição. Levareis, assim,
uma vida dupla, entre a ideologia do sistema e a realidade de vossa existência
diária. No esforço para ajustar-vos à ideologia, recalcais a vós mesmo e, no
entanto, o que é realmente verdadeiro não é a ideologia, porém aquilo que sois.
Se tentardes estudar-vos de acordo com outrem, permanecereis sempre um ente
humano sem originalidade.
O homem que diz: “Desejo mudar, dizei-me como consegui-lo” – parece
muito atento, muito sério, mas não o é. Deseja uma autoridade que eie espera
estabelecerá a ordem nele próprio. Mas, pode algum dia a autoridade promover
a ordem interior? A ordem imposta de fora gera sempre, necessariamente a
desordem. Podeis perceber essa verdade intelectualmente, mas sereis capaz
de aplicá-la de maneira que vossa mente não projete qualquer autoridade – a
autoridade de um livro, de um instrutor, da esposa ou do marido, dos pais, de
um amigo, ou da sociedade? Como sempre funcionamos segundo o padrão de
uma fórmula, essa fórmula torna-se em ideologia e autoridade; mas, assim que
perceberdes realmente que a pergunta “como mudar?” cria uma nova autoridade,
tereis acabado com a autoridade para sempre.
Repitamo-lo claramente: Vejo que tenho de mudar completamente, desde
as raízes de meu ser; não posso mais depender de nenhuma tradição, porque foi
a tradição que criou essa colossal indolência, aceitação e obediência; não posso
contar
com outrem para me ajudar a mudar, com nenhum instrutor, nenhum deus,
nenhuma crença, nenhum sistema, nenhuma pressão ou influência externa. Que
sucede então?
Em primeiro lugar, podeis rejeitar toda autoridade? Se podeis, isso significa
que já na tendes medo. E então que acontece? Quando rejeitais algo falso que
trazeis convosco há gerações, quand largais uma carga de qualquer espécie,
que acontece? Aumentais vossa energia, não? Ficais com mais capacidade, mais
ímpeto, maior intensidade e vitalidade. Se não sentis isso, nesse caso não largastes
a carga, não vos livrastes do poso morto da autoridade.
Mas, uma vez vos tenhais livrado dessa carga e tenhais aquela energia em
que na há medo de espécie alguma – medo de errar, de agir incorretamente –
essa própria energia não é então mutação? Necessitamos de grande abundância
de energia, e a dissipamos com o medo; mas, quando existe a energia que vem
depois de nos livrarmos de todas as formas do medo, essa própria energia produz a
revolução interior, radical. Nada tendes que fazer nesse sentido.
Ficais então a sós com vós mesmo, e esse é o estado real que convém ao
homem que considera a sério estas coisas. E como já não contais com a ajuda
de nenhuma pessoa ou coisa, estais livre para fazer descobertas. Quando há
liberdade, há energia; quando há liberdade, ela não pode fazer nada errado. Não
há agir correta ou incorretamente, quand há liberdade. Sois livre e, desse centro,
agis. Por conseguinte, não há medo, e a mente sem medo é capaz de infinito amor.e
o amor pode fazer o que quer.
O que agora vamos fazer, por conseguinte, é aprender a conhecer-nos, na de
acordo comigo ou de acordo com um certo analista ou filósofo; porque, se fazemos
de acordo com outra pessoa, aprendemos a conhecer essas pessoas e não a nós
mesmos. Vamos aprender o que somos realmente.
Tendo percebido que não podemos depender de nenhuma autoridade
exterior para promover a revolução total na estrutura de nossa própria psique,
apresenta-se a dificuldade infinitamente maior de rejeitarmos nossa própria
autoridade interior.
a autoridade de nossas próprias e insignificantes experiências e opiniões
acumuladas, conhecimentos, ideias e ideais. Digamos que tivestes ontem uma
experiência que vos ensinou algo, e isso que ela ensinou se torna uma nova
autoridade, e vossa autoridade de ontem é tão destrutiva quanto a autoridade
de um milhar de anos. A compreensão de nós mesmos não requer nenhuma
autoridade, nem a do dia anterior nem a de há mil anos, porque somos entidades
vivas, sempre em movimento, sempre a fluir e jamais se detendo. Se olharmos
a nós mesmos com a autoridade morta de ontem, nunca compreenderemos o
movimento vivo e a beleza e natureza desse movimento.
Livrar-se de toda a autoridade, seja própria, seja de outrem, é morrer para
todas as coisas de ontem – para que a mente seja sempre fresca, sempre juvenil,
inocente, cheia de vigor e de paixão. Só nesse estado é que se aprende e observa.
Para tanto, requer-se grande capacidade de percebimento, de real percebimento
do que se está passando no interior de vós mesmo, sem corrigirdes e que vedes,
sem dizerdes o que deveria ou não deveria ser. Porque, tão logo corrigis, estais
estabelecendo outra autoridade, um censor.
Vamos, pois, investigar juntos a nós mesmos; ninguém ficará explicando
enquanto ides lendo, concordando ou discordando do explicador ao mesmo tempo
em que ides seguindo as palavras do texto, porém vamos fazer juntos uma viagem,
uma viagem de exploração dos mais secretos recessos de nossa mente. Para
compreender essa viagem precisamos estar livres; não podemos transportar uma
carga de opiniões, preconceitos e conclusões – todos os trastes imprestáveis que
juntamos no decurso dos últimos dois mil anos ou mais. Esquecei-vos de tudo o que
pensastes a vosso respeito, vamos iniciar a marcha como se nada soubéssemos.
A noite passada choveu torrencialmente e agora céu está começando a
limpar-se; é um dia novo, fresco; encontremo-nos com este dia novo como se
fosse nosso único dia. Iniciemos juntos a jornada, deixando para trás todas as
lembranças de ontem, e comecemos a compreender-nos pela primeira vez.
Chegamos ao fim da transcrição “ipsis litteris” desta
sucinta apresentação de um único capítulo de uma sua obra.
Esta transcrição é dirigida aos que ainda desconhecem o
pensamento e as proposições de Jiddu Krishnamurti, aos seus
leitores habituais, esta transcrição torna-se desnecessária.
Movér.
Este primeiro capítulo do livro LIBERTE-SE DO
PASSADO, acima transcrito, consta de 3425 palavras.
Naturalmente, que isto representa somente parte dos
ensinamentos e proposições de Jiddu Krishnamurti, sobre
como, e como andar bem, com nossas próprias pernas pela
trilha que nos leva ao autoconhecimento. Creio, embora o que
cremos nunca nos leve a lugar algum, recordando e
considerando que não crer, também sempre nos leva a nada.
Segundo Krishnamurti não devemos buscar pelo ser que
reside em nós, mas sim, encontrar o ser que reside em nós, a
diferença é sutil, mas, existe! O que nos levará à essência do
ente humano. Esta jornada independe de instrutor, guia,
professor, mestre, filósofo, chefe religioso ou guru. Nos
pensamentos e nas proposições de Krishnamurti, contidas em
suas mais de “sessenta obras”, ele nos propõe, minuto a
minuto, que o caminho só pode ser percorrido por cada um e
de “per se”. Quem lê suas obras, se conscientiza, de que “ele”
não é, nem se considera ou se põe como nosso guia, profeta,
guru, instrutor ou coisa semelhante. Segundo suas palavras o
homem é mestre de si próprio, ele somente nos mostra
singela e sabiamente como um espelho, como sermos nossos
próprios timoneiros, em meu rude entendimento: (O homem
não necessita de guia! Quem necessita de guia é o cego, pois,
toda a luz para iluminar nosso caminho na compreensão de
nós mesmos, está em nosso interior divino, ou em nossa
espiritualidade feita exclusivamente de energia). O
desenvolvimento da ciência, cerceou a filosofia da busca da
sua espiritualidade. Espiritualidade é coisa que o filósofo de
hoje, estribado na ciência, deixou de buscar há muito tempo.
Krishnamurti escreve por si próprio, ele nunca cita um
único filósofo, um único grande mestre do saber, ou mesmo,
um único ensinamento de um grande mestre religioso.
Observai e estai atentos a este fato. Sendo vastíssima a obra
de Krishnamurti, para conhecê-lo melhor, o melhor caminho é
visitar o site:
http://www.krishnamurti.org.br/
Ali, encontrarás endereços de editoras, títulos de suas
obras publicadas no Brasil, a biografia, e vários comentários
sobre suas obras.
O homem inteligente, não segue outro homem inteligente,
muito menos segue um homem estulto, simplesmente busca
despertar a sua inteligência imanente, portanto, contida em
seu próprio interior. Movér.
CITAÇÕE
S
Estas são citações de algumas proposições de Krishnamurti: Sendo
encontradas na Wikipédia. Basta digitar no GOOGLE: [ Jiddu
Krishnamurti ], onde há a vantagem de se poder utilizar os links, (letras
azuis sublinhadas), que nos levam a vários temas “específicos”:
(1) A forma mais elevada de inteligência humana é dirigir a atenção
desprovida de julgamento
(2) Observar não implica acúmulo de conhecimento, apesar de o
conhecimento ser obviamente necessário em um certo nível: conhecimento
como médico, conhecimento como cientista, conhecimento da história,
de todas as coisas do passado. Afinal de contas, isso é o conhecimento:
informação sobre as coisas do passado. Não há conhecimento do amanhã,
apenas conjecturas sobre o que poderia acontecer amanhã, baseado no
seu conhecimento do que já aconteceu. Uma mente que observa com
conhecimento é incapaz de seguir rapidamente o fluxo do pensamento.
É apenas pelo observar sem a tela do conhecimento que se começa a ver
toda a estrutura do seu próprio pensar. E quando você observa – o que
não é condenar ou aceitar, mas simplesmente observar – você descobrirá
que o pensamento chega a um fim. Observar casualmente um pensamento
ocasional não leva a lugar nenhum. Mas se você observa o processo do
pensar e não se torna um observador separado do observado, você vê todo o
movimento do pensamento sem aceitá-lo ou condená-lo, então essa própria
observação põe um fim imediatamente no pensamento – e consequentemente
a mente está compassiva; ela está num estado de constante mutação.
(3) Há uma diferença entre concentração e atenção. Concentração é trazer
toda sua energia para focá-la em um ponto determinado. Na atenção não
existe um ponto de foco. Nós estamos familiarizados com um e não com o
outro. Quando você presta atenção ao seu corpo, o corpo torna-se quieto, o
qual tem sua própria disciplina. Ele está relaxado, mas não indolente e tem a
energia da harmonia. Quando existe atenção, não há contradição e, portanto
não há conflito. Quando você ler isto, preste atenção à maneira que você está
sentado, à maneira que você está escutando, como você está recebendo o que
a carta está dizendo a você, como você está reagindo ao que está sendo dito e
porque você está achando difícil prestar atenção. Você não está aprendendo
como prestar atenção. Se você estiver aprendendo o como prestar atenção,
então isto se tornará um sistema, que é o que o cérebro está acostumado, e
então você faz da atenção algo mecânico e repetitivo, ao passo que a atenção
não é mecânica ou repetitiva. É a maneira de olhar para sua vida inteira sem
o centro do interesse próprio.
(4) O problema, por conseguinte, é este: para que o homem possa
transformar-se radicalmente, fundamentalmente, torna-se necessária uma
mutação nas próprias células cerebrais de sua mente. Dizem-nos que
devemos mudar, que devemos agir, que devemos transformar nossa mente,
nosso coração, tornar-nos uma coisa totalmente diferente. Isso vem sendo
pregado há milhares de anos por homens muito sérios, muito ardorosos, e
também por charlatães interessados em explorar o povo. Mas, agora,
chegamos ao ponto em que não há mais tempo a perder. Compreendei isto,
por favor. Não dispomos de tempo para efetuar gradualmente
tal transformação. Os intelectuais de todo o mundo estão reconhecendo que
o homem se acha à beira de um abismo, na iminência de destruir a si
próprio. Nem religiões, nem deuses, nem salvadores, nem mestres, nem as
lengalengas dos gurus, poderão impedi-los. Dizem os intelectuais ser
necessário inventar uma nova droga, uma ‘pílula dourada’ capaz de
produzir uma completa transformação química; e
os cientistas provavelmente descobrirão esta droga. Não sei se estais bem a
par dessas coisas. Ora conquanto o organismo físico seja um
produto bioquímico, pode uma droga, uma superdroga fazer-vos amar,
tornar-vos bondosos, generosos, delicados, não violentos? Não o creio;
nenhum preparado químico pode fazer os homens amarem-se uns aos
outros. O amor não é um produto do pensamento; também não é cultivável,
como a flor que cultivamos em nosso jardim. O amor não pode ser
comprado numa drogaria, e o amor é a única coisa que poderá salvar o
homem – e não os artifícios das religiões, nem seus ritos, nem todos
os exércitos do mundo. Podemos fugir, assistindo a concertos,
visitando museus, entregando-nos a divertimentos de toda ordem – debalde! –
porque o homem se acha hoje em dia em presença de um tremendo
problema: se tem a possibilidade de transformar-se radicalmente, de efetuar
uma total mutação de sua consciência, não amanhã, nem daqui a alguns
anos, mas agora! Eis o problema principal: se o homem, em
qualquer país que viva, com todas as suas belezas naturais, é capaz de
operar uma mutação radical em seu interior, imediatamente. E não podeis
resolvê-lo com vossas crenças, vossas ideologias, vossos deuses,
salvadores, sacerdotes e rituais. Essas coisas já não tem o menor significado.
(5) Podemos ir longe, se começarmos de muito perto. Em geral começamos
pelo mais distante, o “supremo princípio,”o maior ideal”, e ficamos perdidos
em algum sonho vago do pensamento imaginativo. Mas quando partimos de
muito perto, do mais perto, que é nós, então o mundo inteiro está aberto —
pois nós somos o mundo. Temos de começar pelo que é real, pelo que está a
acontecer agora, e o agora é sem tempo.
(6) Meditação é libertar a mente de toda desonestidade. O pensamento
gera desonestidade. O pensamento, no seu esforço para ser honesto, é
comparativo e, portanto, desonesto. (…) Meditação é o movimento dessa
honestidade no silêncio
(7) Estou apenas a ser como um espelho da vossa vida, no qual podeis ver-vos
como sois. Depois, podeis deitar fora o espelho; o espelho não é importante.
(8) … Falamos da vida — e não de ideias, de teorias, de práticas ou
de técnicas. Falamos para que olhe esta vida total, que é também a sua vida,
para que lhe dê atenção. Isso significa que não pode desperdiçá-la. Tem
pouquíssimo tempo para viver, talvez dez, talvez cinquenta anos. Não perca
esse tempo. Olhe a sua vida, dê tudo para a compreender.
Jiddu Krishnamurti.
Deixe seu comentário