PRIMEIRA PARTE:
Preâmbulo ao ensaio.
No mês de agosto deste ano de 2010, estando de viagem marcada para a cidade de Licínio de Almeida, Bahia para prestar assessoria a uma empresa, na área de mapeamento do limite territorial de um município da Chapada Diamantina, e não como não teria nenhuma ocupação na parte da noite, levei um livro para ler, com o estranho título de: (PRECONCEITO LINGUÍSTICO). Quando iniciei a leitura do livro, logo percebi que se tratava de algo extremamente interessante, então! Resolvi esmiuçá-lo e analisá-lo com a minudência e com a profundidade que meu parco intelecto mo permitisse, fiquei abismado com os conceitos emitidos pelo autor sobre o que se denomina de gramática normativa. Foi um choque muito grande para mim, ver um professor da USP expondo aqueles pontos de vista, a respeito do que se estabeleceu com relação ao uso das normas da própria gramática normativa. Sobretudo com respeito ao uso das normas da gramática na língua falada e escrita. O professor Marcos Bagno é tradutor, escritor e “linguista”, sendo Doutor em Filologia e Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP). Professor de Linguística do Instituto de Letras da Universidade de Brasília, (UNB). Sua produção literária na área de “línguas” ultrapassa as duas dezenas de títulos. Sendo, portanto, uma autoridade no assunto. Esta qualificação do professor já está inserida no convite. Hoje 27 de novembro de 2010 resolvi publicar o ensaio (CONVITE PARA O ENTERRO DOS MEUS FANTASMAS) após ter verificado que havia cometido vários erros de concordância e outros, no arrazoado do TREM DE FERRO, e de que aparentemente ninguém havia notado ou reclamado, talvez por educação, ou talvez porque os erros são tão comuns que ninguém percebe ou se importa mais. Confesso que não sei por que não se dá mais importância aos erros de português. Será pelo dinamismo do modelo de vida que levamos atualmente? Ou será por que os erros tornaram-se banais, Será que a grande maioria está inteirada da postura dos lingüistas sobre o assunto? Eu de minha parte, me preocupo mais com a inteireza e a essência dos meus raciocínios do que com os erros que por ventura tenha cometido. Julgo ser melhor um escrito com raciocínios bem elaborados e inteligentes, mesmo com alguns erros, que um escrito escorreito, feito com a maior lisura com respeito à gramática normativa, mas, eivado de incoerências e burrices. Concordo plenamente com J. J. Rousseau quando diz: Não hesitarei, sempre que, com o auxilio de dez solecismos, puder explicar-me com maior vigor e clareza. Contanto que eu seja mais compreendido pelos filósofos, de boa vontade deixo aos puristas correrem atrás das palavras. […]
Minha opinião sobre o fato dos erros de português não serem “comumente” citados nos comentários pelos leitores, tem duas causas: primeiro, trata-se de uma postura educada e elegante dos leitores, e segundo, um leitor que se dispõe a ler um ensaio ou uma matéria qualquer, (num blog, num jornal, numa revista ou num livro), busca tão somente: inteligência, coerência, lógica, competência, verdade, raciocínios bem elaborados e sobretudo sinceridade e respeito com o leitor. Neste caso, eu comungo com Rousseau.
Qual seria a opinião do leitor?
Abordando o tema sob uma visão filosófica do “cogitare”, o que um indivíduo pensa, não é, e nunca será relevante para uma sociedade, salvo, se este pensar chegar ao conhecimento de pelo menos boa parte desta sociedade, sendo esta a justificativa para publicá-lo nos blogs que se dignam publicar meus insossos, e às vezes destemperados ensaios.
No dia 26 de novembro de 2010 escrevi um arrazoado sobre o TREM DE FERRO, onde cometi vários erros de português, no mesmo dia fiz um comentário no blog para chamar a atenção sobre o erro mais crasso, (a atenção dos leitores), onde foi utilizada uma palavra, onde a única diferença é a letra inicial, (eminente e iminente), que, no entanto, possuem significados distintos. Por que não comentam os erros? Talvez por que, erro seja coisa comum nos escritos em língua portuguesa, ou nos meus escritos. Quem não for versado no vernáculo sempre estará sujeito a “deslizes” na ortografia de algumas palavras, concordância, sintaxe, nas construções das frases: principalmente se o escrito for do tipo, (em cima da perna), como costumo fazer. Veja a etimologia da palavra “sintaxe” grego: súntaksis,eós (arranjo, disposição, organização). Fiz um comentário a poucos dias, num poema do Jean Claudio aqui no blog, onde utilizei a seguinte frase: (Se os há! Se não os há!), a deixei como acicate ao senso comum dos leitores, depois, vi que a palavra “há” do verbo “haver” tanto pode ser (presente), ou ser utilizada como (imperativo afirmativo), deste verbo, e lá está a frase, confesso que não sei se está concorde com a escrita culta. Na atualidade, o grande problema é o volume de escritos que se publica nos blogs, tornando-se impossível mandá-los para os revisores (filólogos e gramáticos), com o advento dos sites e dos blogs a dinâmica da língua se multiplicou por mil, dentro de muito pouco tempo teremos profundas mudanças na Fina Flor do Lácio. E os gramáticos normativos nada poderão fazer.
O que chamou minha atenção; foi precisamente a “atenção” que é dada aos erros, erros parecem serem coisas de somenos importância, foi isto que me levou a escrever o ensaio sobre a linguística e que agora levo ao conhecimento do público, digo “agora”, pois, embora o tenha escrito em agosto de 2010, só agora em março de 2011 é que resolvi publicá-lo.
Leiam com atenção o CONVITE PARA O ENTERRO DOS MEUS FANTASMAS. (A PRIMEIRA E A SEGUNDA PARTE). Sejam bem vindos a este despretensioso ensaio, ou enterro? A primeira parte leva o leitor até a porta do cemitério, a segunda parte leva-o ao “ápice” do sepultamento e ao fundo do sepulcro da burrice. Gosto de gastar o meu latim de porta de cemitério! Requiescat in pace…
Por este ensaio ser bastante longo, tive que dividi-lo em (duas partes), estas duas partes, vou remetê-las para os blogs em um só e-mail, supondo que as duas postagens nos blogs saiam com o intervalo de no máximo uma semana.
Boa leitura e bom proveito.
Quanto ao efeito que a leitura do livro do Professor Marcos Bagno fez em mim! Foi me fazer perder completamente o medo de publicar qualquer escrito, “coisa” bastante natural em quem não possui um completo domínio do idioma luso, mas, não me fez perder o respeito que sempre tive pelo bom uso da língua pátria, tanto é, que isto aumentou o meu cuidado com o que escrevo. Ler o livro do Marcos Bagno é uma lição que não se esquece jamais, é igual ao primeiro sutiã, ou a primeira gravata, ou a primeira vez… Este preâmbulo estará apenso no início de cada parte. Preâmbulo revisado e atualizado em 20 de março de 2011, disto advirá qualquer aparente incoerência temporal, por ventura existente neste ensaio…
INÍCIO DO ENSAIO: Vejam o que escrevi num outro ensaio:
(1) Este ensaio, como não poderia deixar de ser, é dedicado aos expoentes da Fina Flor do Lácio: Camões (é o primeiro que me vem à mente), talvez em sonho, não sei por que, mas só o vejo com os dois olhos abertos, bem abertos; interessante, nunca o vejo manaio; Eça de Queiroz, Antenor Nascentes, Rui Barbosa, de fraque, Humberto de Campos, um Antero de Quental, sisudo, todos indiferentes à minha piedade; vejo-os sempre saindo dos túmulos, em fila, andando em minha direção, de penas em punho, para me corrigir ou me admoestar; estes são os meus fantasmas!
(2) O tema em apreço, foi denominado pelo Marcos Bagno de (Mito número 7) – este mito trata da separação entre a “língua falada e escrita”, e a gramática normativa. Torna-se necessário que se faça uma apresentação do nosso anfitrião aos nossos ilustres leitores: o professor Marcos Bagno é tradutor, escritor e “linguista”, sendo Doutor em Filologia e Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP). Professor de Linguística do Instituto de Letras da Universidade de Brasília, (UNB). Sua produção literária na área de “filologia” ultrapassa as duas dezenas de títulos. Sendo portanto, uma autoridade no assunto.
(3) Nesse ensaio; tomaremos conhecimento de um tema sumamente interessante: que é a cobrança que todos nos fazem, por não sermos especialistas na fala nem na escrita da “Fina Flor do Lácio”.
No entanto, tenho certeza que alguns outros colunistas destes Blogs o são, não digo especialistas, mas, pelo menos dominam com certa facilidade a gramática, ou até mesmo, sejam especialistas, em gramática normativa, que pretensamente tenta impor uma norma culta à fala e a escrita da língua. No meu caso em particular! Escrevo de ousado que sou! Mas, confesso que passei a olhar com outros olhos o problema da aplicação da gramática normativa, à escrita. (Isto, quanto à sua aplicação nos meus singelos escritos). Qualquer pessoa que não possuir um completo domínio da gramática normativa, e ler o livro “PRECONCEITO LINGUÍSTICO”, (o que é, e como se faz), do professor Marcos Bagno, das “Edições Loyola”, passará a ter imediatamente outra visão sobre o assunto. No momento vamos analisar somente o que nos esclarece este cientista da língua, professor Marcos Bagno, no Capítulo de número 7 (sete), ou seja, o Mito número 7 (sete). É PRECISO SABER GRAMÁTICA PARA FALAR E ESCREVER BEM, (pp.62-68).
(4) Primeiramente vou apresentar os meus veneráveis fantasmas, aos meus amáveis leitores, Para depois enterrá-los solenemente, (enterrar os fantasmas, claro), se é que seja possível enterrar um fantasma! Depois trato do Mito número 7 (sete), do professor Marcos Bagno. No futuro, com o auxilio deste lingüista e de seus colegas, ainda iremos ao enterro da gramática normativa. Isto segundo o próprio Marcos Bagno.
(5) Depois de ler o livro deste ilustre cientista da língua, não vejo mais motivos para ter estes saudáveis, rotineiros e salutares encontros oníricos com estes meus já familiares fantasmas. Tudo na vida torna-se uma rotina, até encontro com fantasmas, embora seja uma rotina onírica! Assim, fica aqui o solene, (e alegre), convite para o enterro dos mesmos, na esperança de que cada um leitor, de “per se”, também faça o enterro dos seus fantasmas, naturalmente que este convite é dirigido unicamente a quem os possuir…
(6) Em agosto do ano de 2003 dirigi uma carta a um filólogo, (que se tornou meu amigo através da net), por sinal nunca mais o vi, amigo virtual é assim mesmo, “virtual”, carta esta, com o seguinte conteúdo, ou vazada nos seguintes termos:. Eis aí um exemplo do dinamismo da língua, eis aí, uma “coisa” que nunca consegui compreender; (claro que estou brincando com o leitor!). Como é que se consegue vazar uma carta? Será que é dobrando-a, e segurando-a pelas extremidades das pontas, depois fazendo um pequeno furo no centro da dobra para que por ali escorra o que foi escrito? Será!!!…
(7) A poucos dias tive uma prova viva do dinamismo da língua, estando em visita a um filho em Abrantes de Camaçari, quando chegou a hora de meu neto, (Hobert Santos Silva), ir para o Colégio, este meu neto de quinze anos, é um aluno brilhante, campeão de xadrez do colégio Mendel, em Lauro de Freitas, que já é poeta e escritor, ele faz o último ano do segundo grau, dirigindo-se para o portão, gritou para mim! Vazei vô! Tchau… Eu já tinha encontrado um exemplo semelhante no livro do Bagno. (Claro, que o verbo “vazar” na frase da carta é utilizado no sentido de escrever, e o meu neto estava utilizando o mesmo verbo em substituição ao verbo “ir” ou “partir”). O “vazar” da carta já está incorporado à forma culta, e o outro “vazar”, com certeza não demorará muito para estar.
(8) Eis a minha carta ao filólogo:
Caro Amigo Fílólogo
Somos, com certeza, (cada um de “per se”), um Universo à parte; se assim não o fosse, seríamos como nossos irmãos irracionais, “individualizados”, mas com procedimentos típicos de manada, com ações e atitudes grupais etc, em que, num milhão de indivíduos, ninguém se destaca, salvo nos comportamentos instintivos, da reprodução e da sobrevivência. A igualdade mais marcante dos seres humanos é exatamente a diferença inerente a cada um. Quando encontrardes muitos indivíduos iguais, defendendo os mesmos princípios ou crenças, desconfie deles! Principalmente dos não questionadores, pertencentes à grupos com as mesmas crenças religiosas, científicas, filosóficas ou políticas, via de regra são fanáticos, com visão distorcida da realidade, mais parecendo habitantes da caverna de Platão.
A única esperança de cura para um fanático é rezar pela próxima encarnação; com sorte, ele talvez escape deste pesadelo. Perdoe-me por ter que ser mordaz, mas nesses casos torna-se necessário ser duro. Impossível enfrentar um exército de fanáticos com flores! Desconfio das multidões unânimes, pois, nelas vejo algo que me cheira a “algo de podre no Reino da Dinamarca”. A única “qualidade” da multidão é ser burra. Não creio que paire sobre a multidão o “Master Mind”. Também não acredito na máxima de que toda a unanimidade seja burra; os julgamentos unânimes nem sempre são burros, o caminho não é este.
O que leva os homens ao erro sempre são outros homens; desconheço o caso em que, ”intencionalmente”, o cachorro levou o dono ao crime! Sei, e sei bem, que a união faz a força e que o que nos fez progredir como espécie em evolução foi o instinto gregário. No entanto, na minha individualidade, sou de comportamento arredio; isto vem da minha natureza, do meu instinto, está no meu cérebro límbico; está no meu lado zôo, e todos o temos. Não chego a ser tímido, mas não me sinto bem nas aglomerações, principalmente nas reuniões sociais! Desconfio dos homens de gravata! Se possível, leve um papo com um homem “desconhecido” e de short, na praia, e, depois, com o mesmo homem no trabalho, já de paletó e gravata; analise se por ventura são as mesmas pessoas! Acredito que deduzirás que não! É muito comum a pessoa mudar em função do traje e do ambiente. Nada tenho contra o paletó e a gravata, pois são somente dois pedaços de pano. No entanto abomino o uso do “smoking” e da gravata (são mutiladores da personalidade). Claro que estou tratando do homem comum, como a mim. Usei gravata uma única vez na vida; mas tive quatro fortíssimas razões ou desculpas para fazê-lo: era inexperiente, era jovem, ia me casar e estava apaixonado. Neste caso, o instinto prevalece e tudo é válido.
Confesso! Nunca fui ao casamento de um filho, nem a uma de suas formaturas; de vez em quando, um aniversário me pega de surpresa: somente de surpresa. Também tenho outros defeitos ou qualidades; mais defeitos que qualidades. Por exemplo: quando começo a escrever, me apiedo dos filólogos, principalmente dos puristas. Por vários dias, fico imaginando! Camões (é o primeiro que me vem à mente), talvez em sonho, não sei por que, mas só o vejo com os dois olhos abertos, bem abertos; interessante, nunca o vejo manaio; Eça de Queiroz, Antenor Nascentes, Rui Barbosa, de fraque, Humberto de Campos, um Antero de Quental, sisudo, todos indiferentes à minha piedade; vejo-os sempre saindo dos túmulos, em fila, andando em minha direção, de penas em punho, para me corrigir ou me admoestar; são os meus fantasmas!
Creio que vou tomar capricho e aprender, pelo menos, os rudimentos mais elementares da “Fina Flor do Lácio”. Assim tomarei menos o seu precioso tempo. Espero um dia ter a honra e o prazer de conhecê-lo pessoalmente e, assim, poder usufruir de um (mesmo curto) bate-papo.
P.S.
Quanto ao seu não julgamento, não se preocupe; a minha intenção é esta mesma, (não ver os conceitos dos “insights” sob julgamento). Por terem origem exotérica-filosófica, são dirigidos ao homem comum e, por terem natureza metafísica, dispensam julgamentos de caráter científicos; a obra é tão-somente a descrição dos “insights”, não tendo, assim, cunho contestatório de nenhuma área do conhecimento humano. A diversidade dos temas abordados pode ter me levado a algum erro conceitual; foi minha intenção levar aos leigos, pelo menos de forma simplificada e geral, pequena parte dos conhecimentos já acumulados pelo homem.
Espero não ter emitido conceitos incompatíveis com os postulados da ciência oficial. As contestações da ciência moderna, atualmente, são feitas na área da relatividade geral e da física quântica, isto pelos próprios físicos teóricos. Quanto ao professor de física, estou enviando um exemplar, para que você o encaminhe ao mesmo; ficarei agradecido se ele puder fazer uma crítica e uma correção nos conceitos científicos emitidos no ensaio; só queria que ele deixasse os conceitos cosmogônicos, contidos em toda a obra, no que tange aos “insights”, intactos, como estão, pois errados ou não, são frutos dos próprios “insights”. Mesmo por que; o “mistério maior” está em qualquer ponto; e não num ponto específico do riacho da montanha.
Veja bem!
O ponto de vista enunciado nas palavras dirigidas aos meus familiares é abrangente e tem aplicação a todo o relacionamento humano.
Camaçari, Ba. – Vila de Abrantes, 18 de agosto de 2003
Com toda a admiração e o respeito, do aprendiz de aprendiz de rabiscador,
Edimilson Santos Silva Movér
(9) O professor Marcos Bagno abre o seu livro com uma frase lapidar do filósofo Baruch de Spinoza, que diz: Sedule curavi humanas actiones non ridere, non lugere neque detestare, sed intellegere.1
(10) Na mitologia do preconceito linguístico o Mito de número 7 na página 62 da 45a edição do livro (Preconceito Linguístico) das “Edições Loyola”, possui o seguinte título: “É preciso saber gramática para falar e escrever bem”,:
(11) Aqui transcrevo “ipsis litteris” o que nos diz o arauto da derrocada da gramática normativa. Marcos Bagno, linguista e cientista da língua, pois todo linguista é um cientista da língua. Luiz Carlos Clagliari também comunga com esta opinião. Esta mesma opinião eu encontrei no mestre Antenor Nascentes, até mesmo o francês Jean-Jacques Rousseau sempre vociferou contra a gramática normativa. Portanto, esta briga, é briga de cachorro grande! Então, como cachorro de tamanho 0 (zero), talvez menor ainda, estou fora…
(12) Eis a transcrição:
Página 62 […] – É difícil encontrar alguém que não concorde com a declaração: “É preciso saber gramática para falar e escrever bem”, Ela vive na ponta da língua da grande maioria dos professores de português e está formulada em muitos compêndios gramaticais, como a já citada Gramática de Cipro e Infante, cujas primeiríssimas palavras são: “A Gramática é instrumento fundamental para o domínio do padrão culto da língua”. […]
(13) É muito comum, “também”, os pais de alunos cobrarem dos professores o ensino dos “pontos” de gramática tais como eles próprios os aprenderam em seu tempo de escola. E não faltam casos de pais que protestaram veementemente contra professores e escolas que, tentando adotar uma prática de língua menos conservadora, não seguiam rigorosamente “o que está nas gramáticas”. Conheço gente que tirou seus filhos de uma escola porque o livro didático ali adotado não ensinava coisas “indispensáveis” como “antônimos”, “coletivos” e “análise sintática”…
!4) Por que aquela declaração de número 7 é um mito? Porque, como nos diz Mário Perrini em Sofrendo a Gramática, (p. 50), “não existe um grão de evidência em favor disso; toda a evidência disponível é em contrário”. Afinal, se fosse assim, todos os gramáticos seriam grandes escritores (o que está longe de ser verdade), e os bons escritores seriam especialistas em gramática.
(15) Ora, os escritores são os primeiros a dizer que gramática não é com eles! Rubem Braga, indiscutivelmente um dos grandes de nossa literatura, escreveu uma crônica deliciosa a este respeito chamada “Nascer no Cairo, ser fêmea de cupim”.
(16) Carlos Drummond de Andrade (preciso de adjetivos para qualificá-lo?), no poema “Aula de Português” também dá testemunho de sua perturbação diante do “mistério” das “figuras de gramática, esquipáticas”, que compõem “o amazonas de minha ignorância”. Drummond ignorante?
(17) E o que dizer de Machado de Assis que segundo, Luiz Carlos Clagliari, ao abrir a gramática de um sobrinho, se espantou com a própria “ignorância” por “não ter entendido nada”? Esse e outros casos são citados por Celso Pedro Luft (parág. 18) em Língua e Liberdade (pp. 23-25). E esse mesmo autor nos diz (p. 21):
(18) Um ensino gramaticalista abafa justamente os talentos
naturais, incute insegurança na linguagem, gera
aversão ao estudo do idioma, medo a expressão livre e
autêntica de si mesmo.
(19) Mário Perini, no livro que citamos acima, chama a atenção para a “propaganda enganosa” (parág. 20) contida no mito de que é preciso ensinar gramática para aprimorar o desenvolvimento linguístico dos alunos:
(20) Quando justificamos o ensino de gramática dizendo que é para que os alunos venham a escrever (ou ler, ou falar) melhor, estamos prometendo uma mercadoria que não podemos entregar. Os alunos percebem isso com bastante clareza, embora talvez não o possam explicitar; e esse é um dos fatores do descrédito da disciplina entre eles.
(21) E Sírio Possenti, já citado, (não aqui no mito 7), grifo meu, lembra-nos que as primeiras gramáticas do Ocidente, as gregas, só foram elaboradas no século II a.C., mas que muito antes disso já existira na Grécia uma literatura ampla e diversificada, que exerce influência até hoje em toda cultura ocidental. A Ilíada e a Odisséia já eram conhecidas no século VI a.C., Platão escreveu seus fascinantes Diálogos entre os séculos V e IV a.C., na mesma época do grande dramaturgo Ésquilo, verdadeiro criador da tragédia grega. Que gramática eles consultaram? Nenhuma! Como puderam então escrever e falar tão bem sua língua?
(22) O que aconteceu ao longo do tempo, foi uma inversão da realidade histórica. As gramáticas foram escritas precisamente para escrever e fixar como “regras” e “padrões” as manifestações lingüísticas usadas espontaneamente pelos escritores considerados dignos de admiração, modelos a ser imitados. Ou seja, a gramática normativa é decorrência da língua, é subordinada a ela, dependente dela. Como a gramática, porém, passou a ser um instrumento de poder e de controle, surgiu essa concepção de que os falantes e escritores da língua é que precisam da gramática, como se ela fosse uma espécie de fonte mística invisível da qual emana a língua “bonita”, “correta” e “pura”. A língua passou a ser subordinada e dependente da gramática. O que não está na gramática normativa “não é português”. E os compêndios gramaticais se transformaram em livros sagrados, cujos dogmas e cânones têm que ser obedecidos à risca para não se cometer nenhuma “heresia”.
(23) O resultado dessa inversão dos fatos históricos é visível, por exemplo, (parág. 24) na Gramática de Cipro e Infante que, na p. 16, afirma:
(24) A Gramática normativa estabelece a norma culta, ou seja, o padrão lingüístico que socialmente é considerado modelar […] As línguas que têm forma escrita, como é o caso do português, necessitam da Gramática normativa para que se garanta a existência de um padrão lingüístico uniforme [...]
(25) Ora, não é a gramática normativa que “estabelece” a norma culta. A norma culta simplesmente existe como tal. A tarefa de uma gramática seria, isso sim, definir, identificar e localizar os falantes cultos, coletar a língua usada por eles e descrever essa língua de forma clara, objetiva e com critérios teóricos e metodológicos coerentes. Sem isso não podemos confiar em gramáticas como a de um Domingos Paschoal Cegalla, (parág. 26) que afirma simplesmente:
(26) Este livro pretende ser uma Gramática Normativa da língua Portuguesa do Brasil, conforme a falam e escrevem as pessoas cultas na época atual [Novíssima Gramática da Língua Portuguesa, p. XIX].
(27) Mas quem são estas “pessoas cultas da época atual”? Com que critérios o autor as classificou de “cultas”? Com que metodologia precisa identificou o modo como elas “falam e escrevem”? Pois é isso precisamente que mais necessitamos hoje no Brasil: da descrição detalhada e realista a norma culta objetiva, com base em coletas confiáveis que se utilizem dos recursos tecnológicos mais avançados, para que ela sirva de base ao ensino/aprendizagem na escola, e não mais uma norma fictícia que se inspira num ideal lingüístico inatingível, baseado no uso literário, artístico, particular e exclusivo dos grandes escritores. Afinal, um instrutor de auto escola quer formar bons motoristas, e não campeões internacionais de fórmula 1. Um professo de português quer formar bons usuários da língua escrita falada, e não prováveis candidatos ao prêmio Nobel de literatura!
(28) Por outro lado, não é a gramática normativa que vai “garantir a existência de um padrão lingüístico uniforme”. Esse padrão linguístico (que pode chegar a certo grau de uniformidade, mas nunca será totalmente uniforme, pois é usado por seres humanos que nunca hão de ser criaturas físicas, psicológica e socialmente idênticas), como dissemos, existe na sociedade, independentemente de haver ou não livros que o descrevam.
Bibliografia: Preconceito Linguístico, (o que é, e como se faz) Marcos Bagno, Editora Loyola.
CONTINUA NA SEGUNDA PARTE
Licínio de Almeida, Bahia, 20 de agosto de 2010
Edimilson Santos Silva Movér
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