Com o figurino habitual, camiseta e calça militares, Volodimir Zelenski aparece no palácio presidencial, em Kiev, para ser entrevistado por sete veículos de imprensa da América Latina, entre os quais a Folha.
Para entrar lá, os jornalistas passaram por cinco checagens de segurança e só puderam levar seus blocos de anotações, deixando de fora telefones, bolsas e até as suas próprias canetas, item depois fornecido aos repórteres pelo governo ucraniano. O temor é que a Rússia rastreie o sinal dos celulares para mirar o presidente com os mísseis que lançam diariamente sobre o país desde fevereiro do ano passado.
Zelenski respondeu a perguntas durante uma hora e 40 minutos. Na entrevista, afirmou que quer se reunir com Luiz Inácio Lula da Silva para ouvir as propostas do líder brasileiro para acabar com a guerra promovida pela Rússia. Criticou, porém, o que chamou de falta de vontade e de tempo do petista para se reunir com ele em Hiroshima, na cúpula do G7, grupo que reúne algumas das maiores economias globais.
Segundo Zelenski, o desencontro que impediu uma reunião no Japão não foi culpa da Ucrânia, o que contradiz afirmações do governo brasileiro —Lula disse que o ucraniano não apareceu na hora marcada.
Ele também alfinetou o petista pela falta de apoio para a criação de um tribunal especial internacional que julgue crimes de agressão na guerra e disse que o líder brasileiro quer ser “original” em suas propostas.
“Lula quer ser original, e devemos dar essa oportunidade a ele. Agora, é preciso responder a algumas perguntas muito simples. O presidente acha que assassinos devem ser condenados e presos? Creio que, se tiver a oportunidade, ele dirá que sim. Ele encontrará tempo para responder a essa questão? Ele não achou tempo para se reunir comigo, mas, talvez, tenha tempo para responder a essa pergunta.”
Patrícia Campos Mello / Folha de São Paulo
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