Emtrevista: “Não há plano B. Lula é o nosso candidato”, afirma Rui Falcão

 Rui Falcão

Yuri Silva

Rui Falcão, presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT)
 

Em meio à maior crise política já vivida no Brasil e com o PT sendo investigado sobre corrupção, o presidente nacional do partido, Rui Falcão, veio a Salvador na última semana para acompanhar o ex-presidente Lula em um ato político no Encontro Estadual do MST Bahia. Após o evento, o dirigente petista falou com exclusividade ao A TARDE.

O ato político no Encontro do MST é tido como o lançamento da campanha de Lula para as eleições de 2018. É isso mesmo?

Com certeza. Não só o PT defende, embora não tenha essa decisão oficial, mas o Lula hoje é uma aspiração nacional. Como disse o João Pedro Stédile, não é o MST que está lançando o Lula. O Lula é um candidato permanente, porque ele reúne as esperanças do povo para retomar o caminho de reconstrução do país, fazer a economia crescer, acabar com a recessão, gerar empregos. Então isso é o que está acontecendo em todos os lugares onde o Lula vai. Quanto mais cedo isso (a candidatura do Lula) for oficializado, mais condições a gente tem de viabilizar esse sonho das pessoas. O Lula está com a disposição de viajar o país, ele me disse hoje que quer viajar o país todo, quer apresentar propostas para renovar e reacender as esperanças do povo, e o PT vai ter um congresso entre abril e maio, onde eventualmente isso (a candidatura) poderá ser resolvido.

O que você está me falando é que vocês estão trabalhando para que o Lula seja oficializado como candidato do PT em 2018?

Na verdade, teria que ser pré-candidato, porque, pela legislação eleitoral, não pode ser candidato. Mas não há plano B, ninguém está cogitando “Ah, se o Lula não for…”. Ninguém está trabalhando com essa hipótese. Não acredito que essa perseguição, que é evidente, um processo sem base, sem prova, seja levado até o fim. Quanto mais a população se manifestar em defesa dele, menos condições tem esse processo de inviabilizá-lo.

Vocês não têm medo de ter um pré-candidato e ele acabar sendo preso?

É isso que eu estou dizendo. Essa operação (Lava Jato) é direcionada, parcial e se apoia em um princípio da chamada lawfare, que é uma teoria de destruir o inimigo a qualquer custo através de processos judiciais e tal. Quanto mais esse pessoal (da Lava Jato) sentir que o Lula tem grande apoio popular, menos condições têm de tentar condená-lo.

O PT já se reconstruiu depois de nomes que eram as mentes estratégicas do partido, como José Dirceu, serem presos?

Primeiro que teve uma mudança grande depois da prisão desses companheiros, que foi a reaproximação muito grande do PT com os movimentos sociais. Então, hoje nós temos um vínculo muito próximo com a CUT, com o MST, com o MTST. Com várias organizações do movimento social que tinham se distanciado de nós hoje há uma reaproximação. Isso reaviva o PT. Segundo, vamos realizar um congresso que é para revisar nossa estratégia, fazer um balanço dos acertos e erros dos nossos governos, pensar em mudanças organizativas e esse congresso vai ser o espaço para isso. Por isso também, estamos defendendo que o Lula assuma a Presidência do PT, nesse período agora de dois anos. A direção que for eleita no congresso vai ter um mandato de dois anos. Então, o Lula montaria uma direção, nós teríamos meio ano para fazer tarefas de reorganização, de viagens pelo país, e 2018 já seria o ano da eleição, em que ele, como candidato, coordenaria sua própria campanha com um conjunto de dirigentes que já o acompanham. Mas ele ocupar a presidência (do partido) diz mais sobre a reconstrução da imagem do PT, contra essa estratégia da mídia golpista de dizer que o PT é uma organização criminosa, de renovar a esperança, porque tem muitos militantes que continuam votando no PT mas estão desanimados, frustrados pelos erros que foram cometidos pelo partido.

E esses erros são reconhecidos pelo partido?

Sim, mas nós estamos sendo acusados hoje mais pelas virtudes. O pessoal não perdoa que o Lula tenha feito as cotas, que tenha criado o Prouni, que os pobres puderam passar a viajar de avião, que a empregada doméstica tenha seus direitos reconhecidos. Isso é que revoltou mais as elites.

Mas e os erros de fato?

Tem erros. Nós subestimamos a força da elite. Governamos 13 anos, mas não colocamos muito claramente a necessidade de uma reforma política, de democratizar a mídia. São equívocos que a gente cometeu, mas que agora precisam ser reparados. Mesmo coisas que você não consegue aprovar no Congresso Nacional, você tem que colocar em discussão. A gente precisa fazer uma disputa de ideias na sociedade. Nós esvaziamos um pouco a estrutura dos diretórios, em função da dinâmica dos mandatos e governos.

E as denúncias de corrupção que o PT enfrenta?

A regra do jogo era o financiamento empresarial, embora a gente sempre defendesse o financiamento público. Então, quando a gente, para ganhar a eleição, entra no financiamento empresarial, deveríamos chegar e dizer “olha, ganhamos a eleição, criamos uma certa igualdade de condições para disputar eleição, mas o partido precisa se autofinanciar”. O partido precisa ser mantido pelos seus filiados e não pela contribuição de empresas. Então, isso aí abriu o flanco para que a elite nos atacasse. E ao mesmo tempo, a militância parou de contribuir. Você tem 1 milhão e tanto de filiados só que você ainda não mantém o partido. Essa é uma coisa na qual vamos insistir muito.

 Lúcio Távora l Ag. A TARDE